Quando estavam no Lobby, houve momentos em que Soyeon ficou convencida de que Jungkook se lembrava dela. Mas foram momentos fugazes, efêmeros, e desapareceram como teias de aranha sopradas pelo vento. Então Soyeon, que era muito honesta, começou a duvidar de si mesma.Talvez seu primeiro encontro com Jungkook tivesse sido um sonho. Talvez tivesse se apaixonado por sua fotografia e, depois que Rachel e Jack saíram, acabou imaginando tudo aquilo. Talvez tivesse adormecido sozinha no pomar, o triste cenário da ilusão desesperada e solitária de uma menina que havia crescido num lar desfeito e que nunca antes tinha se sentido amada.
Era possível.
Quando todas as pessoas no mundo acreditam numa coisa e você é a única que acredita no contrário, é muito tentador aceitar o ponto de vista delas. Soyeon precisaria apenas esquecer, negar e reprimir. E então seria igualzinha aos outros.
Só que ela era mais forte do que isso. Não, ela não havia se sentido preparada para discutir com Jungkook publicamente por ele ter falado de sua virgindade, pois isso chamaria atenção demais para um fato do qual ela, em parte, se envergonhava. Também não queria forçá-lo a reconhecê-la e a se lembrar da noite que haviam passado juntos, pois tinha um coração muito puro e não gostava de obrigar ninguém a nada.
Ao ver a confusão no rosto de Jungkook enquanto dançavam e perceber que a mente dele não lhe permitia lembrar, ela recuou. Ficou apreensiva quanto ao efeito que aquela descoberta impactante e repentina poderia causar nele e, com medo de que sua mente talvez se estilhaçasse como o vidro da mesa de centro de Grace, decidiu não fazer nada.
Soyeon era uma boa pessoa. E às vezes a bondade não revela tudo o que sabe. Às vezes, ela espera o momento certo e faz o melhor que pode com o que tem em mãos.O professor Jeon não era o homem pelo qual ela havia se apaixonado no pomar. Na verdade, Soyeon chegara à conclusão de que havia alguma coisa muito errada com o professor.
Ele não era apenas taciturno e deprimido, mas perturbado. E, por conta de sua familiaridade com o vício da própria mãe, ela se preocupava que ele tivesse tendência ao alcoolismo. Mas, como era uma boa pessoa, não iria magoá-lo como ele a havia magoado, forçando-o a encarar algo que ele não queria ver.
Ela seria capaz de fazer qualquer coisa por Jungkook, aquele homem com quem havia passado a noite no bosque, se ele lhe desse o menor sinal de que a desejava. Desceria ao Inferno e o procuraria até encontrá-lo. Arrombaria os portões e o arrastaria de volta. Seria como Sam para Frodo e o seguiria até as entranhas da Montanha da Perdição.
Mas ele não era o seu Jungkook. Seu Jungkook estava morto. Não existia mais. Restavam apenas vestígios dele no corpo de um clone rude e torturado. Jungkook quase partira seu coração uma vez. E ela não permitiria que fizesse isso de novo.
Antes de Rachel partir de Toronto para reencontrar Jackson e a distopia que era sua família, ela insistiu em ver a quitinete da amiga. Havia dias que Soyeon vinha adiando essa visita, e o próprio Jungkook tinha encorajado a irmã a simplesmente aparecer por lá de surpresa. Sabia que, assim que a irmã visse onde a amiga morava, faria pessoalmente as malas de Soyeon e a forçaria a se mudar para um lugar melhor, de preferência o quarto de hóspedes de Jungkook.
(Ninguém sabia como ele reagiria a essa sugestão, mas provavelmente diria algo como nem fodendo.)
Então, na manhã de domingo, Rachel bateu à porta de Soyeon para tomar um chá e se despedir antes de Jungkook levá-la ao aeroporto.
Soyeon estava nervosa. Como um santo medieval obstinado, possuía a virtude da tolerância, então dificilmente se importava com desconfortos ou privações, por maiores que fossem.
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O Inferno de Jeon Jungkook
Hayran KurguEnigmático e sedutor, Jeon Jungkook é um renomado especialista em Dante. Durante o dia assume a fachada de um rigoroso professor universitário, mas a noite dedica-se a uma desinibida vida de prazer sem limites. O que ninguém sabe é que tanto sua má...