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Heloísa Tolentino

Hoje cedo eu peguei o trem para ir para Londres. Birmingham é meio longe, então demorou em média duas horas.

Eu caminho pelo condomínio caro até achar a casa do paciente.

Bato na porta e uma mulher atende.

- Hi, I'm searching for... -a mulher me interrompe-

- Relaxa gatinha, eu também falo português -a mulher acaricia minha bochecha-

- E-eu sou a fisioterapeuta... -me afasto meio tímida com o carinho. Geralmente, Ingleses não são carinhosos assim, então a estranheza é natural-

- Eu sei. Menina Paquetá, né?

- Eu.. -tento falar, mas sou interrompida-

- Vem, ele tá na sala -ela me guia até uma sala com um sofá enorme, do tamanho da minha cama, e videogame-

- Olá, senhor Andrade -estendo minha mão, causando um grande constrangimento quando percebemos que nossos cumprimentos não combinavam. Ele ia me abraçar- perdão.

- Relaxa, tu é irmã do meu amigo, pode ficar tranquila -ele sorri-

- Tudo bem -suspiro-

- Está tudo bem? Você está suada... -ele observa as gotas de suor escorrerem pelo meu rosto-

- Perdão, eu vim de trem, é a forma mais rápida, e acabei andando bastante pra chegar até aqui. Quer que eu troque de roupa?

- Só se você quiser. O uniforme não é necessário, né?

- Não. -procuro minha regata preta na bolsa- onde é o banheiro?

Ele anda mancando na minha frente e quando ele para, eu me ajoelho e toco o hematoma por trás da sua coxa.

- Dói ou só incomoda? -ele me olha meio tímido e murmura "dói"- tudo bem. Preciso do laudo dos exames e vou planejar nossos encontros, ok?

- Tudo bem -ele afirma e abre a porta do banheiro. Caralho, até o banheiro dele é bonito. Rico que fala né-

Tiro a parte de cima do uniforme e volto para a sala, percebendo suas sobrancelhas levantarem sutil e rapidamente ao me olhar.

- Vamos começar -pego minha piranha na bolsa e faço um coque mal-elaborado-

- Tudo bem -me entrega uma papelada- hoje você vai mexer comigo ou...?

- Primeiro eu vou analisar a lesão e depois posso fazer uma massagem para diminuir a dor -ele afirma e começa a jogar enquanto eu leio-

Ele volta a jogar. Quando termino de ler, observo ele jogar. Vejo seu boneco no jogo. Ele é tão famoso assim?

Ele joga todo concentrado. Analiso sua postura até perceber ele me olhando.

- Ah... desculpa... eu me distraí...

- Se distraiu com a minha beleza? -dá risada. Eu acabo rindo junto. Sua risada é engraçada, assim como seu jeitinho-

- Não sabia que você era um grande jogador -aponto para a tv e ele sorri-

- Eu não acredito até hoje, sabe? É tudo muito... surreal!

- Eu te entendo. A minha profissão pode não ser muito bem paga, mas eu tenho orgulho de poder finalmente me cuidar sozinha, ainda mais na Inglaterra.

- O Lucas falou que você não gostava de "depender" de uma pessoa -faz aspas-

- Quem dera a questão fosse só essa.. -deixo escapar e suspiro-

- Por que?

- Hum... tem um shorts mais curto?

- Não... eu posso ficar de cueca?

- Claro. Tira a bermuda e deita aí -me levanto e analiso os exames de imagem-

- Você parece tão acostumada.. -ele sorri meio fascinado-

- Quando eu era técnica de enfermagem, eu dava muitos banhos, então eu me acostumo. Eu sou médica, né, tenho que deixar o paciente confortável e se eu não estiver confortável, ele também não fica.

- Deve ser muito louco cuidar de pessoas. Eu cuido de pessoas, tipo... eu faço doações e tenho uma casa no Brasil que abriga famílias de doentes pra não passarem necessidade. É perto do hospital do câncer de Barretos.

- Que lindo -sorrio fascinada com suas atitudes-

- Você acha?

- Claro -ele sorri tímido enquanto começo uma massagem em sua coxa torneada e tatuada-
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RECUPERAÇÃO - ℝicharlisonOnde histórias criam vida. Descubra agora