Acerto de Contas.

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Já estava amanhecendo quando chegou na cidade. Não parecia, mas era mais longe do que imaginou, um caminho de estrada e mato por todo o acostamento, vez ou outra aparecia uma fazenda, Ela seguia dirigindo sempre ao som de Sia, comendo algumas barras de chocolate e água.

Foi uma viagem de última hora e além de não ter se preparado, saiu chateada de Forctown. Não quis contar pra Amy o que descobriu. Que havia flagrado Julcy conversando sozinho e falando o nome de Pither, logo deduziu que estavam se comunicando, baseado na conversa, conseguiu triangular a área de cobertura do feitiço de ligação e isso a levou a uma cidade vizinha, aquele cretino. Mentiu pra elas. E na cara dura. Mas não se deixou levar pela ira, claro que não.

Resolveu jogar o jogo deles. Sabia que se contasse pra amiga, ela partiria pra cima do rapaz e ele não iria mais cooperar. Sabia que Julcy tinha omitido tal coisa à pedido do próprio Pither, alegando ser pra protege-las, mas também ficou sabendo que ele estava correndo perigo, sendo perseguido.

Rebecca não ia deixar isso passar. Não mesmo. Tratou logo de inventar que "achou" uma pista do paradeiro do rapaz e que iria checar, disse que provavelmente não era nada, para que nada saísse do controle. Iria encontrá-lo e convencê-lo a se juntar ao grupo, onde poderá ser protegido e resolver o seu problema.

Julcy não teve o que era preciso pra fazer tal trabalho, mas era como sempre disse, nunca mande um homem fazer o trabalho de uma mulher. A placa de bem-vindo à Dryvilla foi ultrapassada há alguns metros e logo seu carro estaciona em frente a uma lanchonete. Estava com fome.

Rebecca desliga o carro, procura por um papel no porta malas e sua pequena bolsa. Suspira saindo, recebendo os raios solares, que a cega por alguns minutos. Volta pra pegar o óculos e segue pra dentro da lanchonete.

Ao entrar nota que não está muito cheio, e que a julgar pelas pessoas que ali então, não era bem frequentado também. Homens na maioria. Mal encarados, mal vestidos, mal posicionados. Passou o pequeno caminho que fez da entrada até o balcão, pensando em dar meia volta e sair dali.
Mas resolveu ir até o fim, seria ótimo se algum daqueles malucos viessem tirar onda.

Ela solta um meio sorriso, sentando-se no alto banco de madeira, olhando para a garçonete que se aproxima dela com a sobrancelha arqueada.

— Em que posso ajudar? — A mulher, morena, cabelos cacheados e um contorno de lápis forte nos olhos verdes pergunta. Vestia um uniforme branco com detalhes vermelhos. Dava pra ver a insatisfação em seu olhar, mas não por desdém ao emprego, Rebecca sabia disso, era por causa dos ossos do oficio. Ela pensa olhando todos aqueles caras, fingindo comer, mas não tiravam os olhos do balcão.

— Um sanduíche e um suco de abacaxi com hortelã, por gentileza. — Ela diz e a atendente anota o pedido, pondo em uma pequena abertura que dava para a cozinha. Observa a mesma pegar um pano e começar a limpar o balcão. — Aqui é sempre assim?

— Assim como? — A outra deixa um singelo sorriso sair. — Está falando dos abutres ali?

— Eles nem disfarçam, Isso é degradante.

— Bem vinda ao meu cotidiano...

— Você passa por isso todos os dias? — A loira questiona tirando os óculos, a atendente lhe lança um olhar por uns segundos.

— Você é nova aqui, olha, aconselho a comer e vazar, não é pessoal, é pro seu bem, esses caras são uns escrotos e você e muito bonita pra ser assediada também.

— Eles te assediam? — Rebecca está indignada, a mulher volta a passar o pano, suspirando. — Já falou para seus superiores? Alguma coisa deve ser feita, não é?

A Herança Animal (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora