Capítulo 5 - Por quê você não dorme na minha cama?

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Sinceramente, as coisas tinham saído um pouquinho do controle. E quando se dizia um pouquinho, Wednesday estava querendo dizer que ela estava na floresta, escorada no chão com um dos pés torcido para o lado contrário que deveria estar, um corte profundo na outra perna e um Eugene surtando. Talvez ir atrás de uma pista que provavelmente era um tiro no escuro não tivesse sido a melhor ideia, mas por outro lado era bom descartar a hipótese na qual vinha trabalhando em cima do que ela deveria encontrar entre a densa folhagem e árvores gigantes dali. Alerta de spoiler: ela não encontrou nada, e agora teria que começar uma nova teoria em cima de alguma coisa que provavelmente deixou passar antes.

— Acha que a Enid vai chegar quando? — perguntou o simpatizante de abelhas andando de um lado para o outro.

— Quando ela estiver aqui— resmungou irritada.

Tinha sangue seco em sua perna, e lágrimas secas de dor e raiva em seu rosto enquanto trocava o peso do corpo de um braço para o outro.

— Será que ela vai demorar muito? — perguntou parando de andar. No segundo seguinte em que Wednesday não respondeu, Eugene voltou a circular.

— Talvez quando você abrir um buraco no chão ela chegue— respondeu irônica, mas por um momento, pensou que o garoto fosse começar a cavar a terra sob seu pés apenas pela maneira desesperada que olhou para ela— Ela vai demorar o quanto precisar para chegar aqui, não se estresse—

— Willa! — soou um grito ao longe, e Wednesday não precisou de nem um segundo para reconhecer aquela voz. E aquele apelido carinhoso estúpido.

A loira vinha correndo de forma absurdamente rápida, sem se importar com a situação das roupas conforme passava por entre as árvores ou ao menos sentir calor, apesar da fina camada de suor que cobria sua testa. Talvez fosse nervosismo. Assim que se aproximou, Enid pôde ver um dos pés da Addams retorcido de forma horrenda para o lado contrário que deveria estar, e na outra perna um corte aberto com sangue seco por toda a sua volta. Os cabelos da morena estavam bagunçados e o rosto mais pálido e mórbido que o normal. Todos os instintos da loba gritavam para que cuidasse da gótica ali mesmo. Mesmo que fosse lambendo seus machucados.

— Eu vou te pegar no colo, pode ser? — perguntou de forma apressada sem nem se importar em ver ou falar com Eugene, que dava graças à Deus que a loba tinha finalmente chegado. Wednesday pensou em retrucar, e falar como seria rídiculo. humilhante e totalmente ultrajante ser levada como um bebê em seus braços, mas a preocupação nos olhos azuis límpidos e a euforia que tomava conta do corpo da Sinclair a fez repensar rapidamente. Ela não tinha outras opções. Silenciosamente concordou com um acenar de cabeça e se deixou ser erguida pelos braços fortes de Enid, que com cuidado passou um dos braços pelas costas da gótica, e o outro por trás dos joelhos. Sem saber o que fazer com os braços, e com certo receio de cair, Wednesday passou os braços ao redor do pescoço da loba enquanto virava a cabeça na direção contrária a do rosto de sua carvalheira.

— Não precisa se segurar, eu sou bem forte sabia? — murmurou rente ao ouvido na Addams, que sentiu um arrepio correr por toda a sua espinha, e fez uma anotação mental no tópico de "reações humanas detestáveis e desagradáveis".

— Estou ciente dos seus atributos físicos Enid— respondeu com a voz serena enquanto virava o rosto para encarar as orbes brilhantes, apesar de permanecer os braços imóveis. Enid sorriu e a fitou de volta, presa naquele olhar escuro penetrante que parecia lhe devorar. Enid não se importaria de ser devorada. Aliás, por um momento a imagem de Wednesday a devorando na forma literal coberta de sangue enquanto mastigava suas partes passou pela cabeça da loira, mas aquilo não a assustou. O que a assustou foi o fato de não ter se assustado com aquilo.

— Legal, mas vai demorar muito pra gente voltar? — perguntou Eugene perfurando a pequena bolha formada em volta das duas garotas, e fazendo Enid voltar a caminhar, enquanto a morena em seus braços voltou a virar o rosto na direção em que caminhavam.

[...]

Já era bem tarde. Talvez muito cedo, dependendo do ponto de vista, mas no momento em que Enid caiu na cama depois de passar a noite inteira acompanhando Wednesday na enfermaria, a loira decidiu que faltaria à aula naquele dia. Ou no dia seguinte, novamente, dependia do ponto de vista.

A loba estava realmente preparada para se entregar num sono profundo quando escutou um barulho alto vindo do outro lado do quarto. Alarmada, acendeu as luzes e encontrou um Wednesday de cabelos soltos no chão, enquanto tentava levantar sem danificar o gesso que cobria uma das pernas.

— Willa! O que você está fazendo? — perguntou indo na direção da mesma, logo enlaçando sua cintura na intenção de levantá-la.

— Tentando procurar uma almofada — resmungou mal-humorada enquanto empurrava levemente o peito da loira. Aquilo era como um "quase abraço".

— Por quê você não dorme na minha cama? Tem almofada de montão—

— Não vou dormir com você— retrucou de prontidão franzindo o cenho. Enid era louca se pensava que...

— Não falei para dormir comigo, falei para dormir na minha cama— pontuou a loira genuinamente curiosa com o que estava passando pela cabeça da gótica.

Wednesday ruborizou. O calor foi tomando conta da sua face junto da coloração avermelhada junto com o aumento de fluxo sanguíneo e ela ficou desesperada porque não sabia como parar aquilo. Enid estava tão perto, e seu corpo era tão quente em comparação ao da morena e ela ficava falando aquelas coisas que faziam a cabeça de Wednesday pensar em outras e aquilo era confuso. "Por quê você não dorme na minha cama?" de onde diabos Wednesday havia tirado aquilo de dormir com a Sinclair, céus, que vexame.

— Tanto faz— resmungou desviando o olhar empurrando com mais força o peito da loba, que ainda lhe segurava com firmeza.

No fim, Enid a colocou em sua cama, ajeitando as almofadas –e tirando 90% delas dali– e depois foi deitar na cama da Addams. Era meio dura e sem graça, mas tinha a fragrância da morena impregnado por toda parte

De um lado do quarto, Wednesday tentava dormir, apesar dos tormentos que passavam por sua cabeça. Do outro, Enid já passeava pelo quinto mundo de sonhos enquanto abraçava o travesseiro que cheirava como a gótica que jazia em sua cama.

[...] 

Foi isso, eu espero do fundo do coração que vocês tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever!
Postado de forma autorizada no Spirit também.

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