Indignada, Wednesday andava pelos corredores da escola de forma manca, se apoiando nas muletas desajeitadamente, tentando ter velocidade a elegância. Logo a sua encosta, Xavier tentava se desculpar ou explicar o mal entendido. De qualquer jeito, a Addams não dava a mínima. Tinha se aborrecido o bastante e se ficasse mais tempo encarando aquele rosto magro de olhos melancólicos com certeza arrumaria uma faca para atira-la contra sua cabeça. Ou enfia-la no próprio peito.
— Willa! Espera! — pediu o artista puxando o braço da garota a obrigando a se virar para ele. Sua expressão era mortífera.
— Eu não respondo por mim se não tiver o bom senso de me largar nos próximos segundos— ameaçou encarando o garoto de forma tão profunda que o mesmo sentiu que ela encarava sua alma, o ódio subindo à sua cabeça. Ninguém lhe chamava daquele jeito se não Enid. Com um suspiro, Xavier soltou o braço da morena, mas ainda ousou perguntar:
— Vai conversar comigo depois—
— Vou conversar com você quando eu quiser, se eu quiser. Você não declara ultimatos.
— Mas—
— Adeus Xavier— respondeu a Addams de forma solene, interrompendo o garoto e entrando em seu quarto e batendo a porta logo em seguida. Com um suspiro, Wednesday adentrou o cômodo sem saber ao certo o que fazer, quando viu Enid deitada em sua cama. Todo seu corpo se tenciona e de repente, a Addams se sentiu nervosa. As palmas das mãos começaram a suar e o rosto esquentou. Desde o dia em que a loba tinha salvado sua pele de forma – ironicamente — heroica, Wednesday se sentia... estranha na presença da mesma. Nunca em toda sua vida mórbida e sem graça tinha se sentido assim e com certeza aquelas sensações de nervosismo estúpido e sem sentido estavam na lista de "reações humanas detestáveis e desagradáveis".
Por mais que Wednesday se sentisse covarde mais vezes do que gostaria de admitir no dia a dia, sua dignidade era o que estava em jogo. Tinha medo de ir falar com Enid e gaguejar ou falar algo que não deveria ou que parecesse estúpida na visão da loira e ela a visse como um ser de fraqueza. Dando meia volta, a Addams estava mais que preparada para ignorar a enorme vontade de simplesmente passar o tempo em sua companhia caso Enid lhe chamasse, entretanto não aconteceu. E como se um ímã a puxasse para trás, a garota de trancinhas parou de forma estática em frente a porta, a ponta dos dedos roçando a maçaneta quando ouviu um barulho vindo da loira ser ecoado no quarto enorme. Um ganido. Um ganido triste de dor genuína como se ela estivesse sentindo dor física. Um arrepio ruim percorreu toda sua espinha e ela precisou de toda sua concentração para se manter de pé.
— Enid? — sussurrou baixinho se virando, toda a força apoiada na muleta para não desabar no chão. A loira por sua vez levantou a cabeça de forma surpresa e se virou para olhar para a Addams sem acreditar que a mesma estava lhe dirigindo a palavra depois de deliberadamente lhe ignorar durante uma semana. Os olhos azuis inchados e avermelhados junto aos inúmeros rastros de lágrimas riscando o rosto fofo e redondo fez o coração da gótica quebrar em mil pedaços, mas ela não entendeu o sentimento. Se odiou por não entender esse sentimento e parecer tão confusa quanto uma cega num tiroteio. Enid abriu os lábios sem alegria como se para falar algo dando esperança para Wednesday, mas o lábio inferior tremeu e mais lágrimas se acumularam nas orbes claras. Ela soluçou de forma engasgada, como se tentasse contê-lo e Wednesday jurou que foi o som mais horrível que ouviu e que teria guardado em sua memória. Enid tremeu, como um espasmo violento que passou por todo seu corpo e a gótica se sentiu tremer também quando a loira sibilou uma palavra de forma inaudível. E sibilou de novo. E de novo. Até se tornar um sussurro miúdo, como o miado de um gato de rua:
— Desculpa—
A muleta caiu no chão, e Wednesday se viu em movimento antes de sua mente formular um pensamento concreto e coeso. Enid se assustou com o som do objeto caindo no chão e apesar de seu ressentimento em relação a garota, se viu sentada de forma inquieta, preparada para levantar e segurar Wednesday caso a mesma caísse. No entanto, por mais estúpido que tivesse sido deixar a muleta para tras, por mais iditoa que ela parecesse mancando daquele jeito, Wednesaday só tinha Enid em seu campo de visão. Tão frágil emocionalmente, tão pequena – apesar dos centímetros mais alta que si – que a única coisa que conseguiu pensar, foi em como queria cuidar da loba. Cuidar. Queria fazê-la se sentir segura, se sentir bem e feliz o suficiente para limpar aquelas lágrimas e sorrir, mostrando as presinhas sempre presentes depois da primeira transformação.
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Deixa eu cuidar de você
FanfictionWednesday odiava quando as pessoas se importavam consigo. Ela não se importava com ninguém, por quê os outros se importariam com ela? Enid poderia responder essa pergunta, e ainda mudar a visão da gótica sobre si mesma.