O sol já deu lugar ao breu comum de uma noite em Verona. As estrelas permanecem escondidas atrás das nuvens carregadas de chuva.
— Signorina, stiamo per atterrare. Allaccia le cinture e reclina la sedia. - Avisou a aeromoça de forma gentil e expressiva.
— Grazzie. - Arriscou Maitê, dando um sorriso simpático. No entanto, era apenas uma máscara para o que ela sentia por dentro. Seu nervosismo em conhecer a família do namorado já tomara completamente seu corpo e sua mente, lidar com as pessoas nunca foi um ponto forte. Um exemplo disso é a relação completamente problematica com sua família, com exceção de sua mãe, que sempre a apoiou.
As rodas do avião tocam o chão e o estômago de Maitê acompanha o impacto.
Um sentimento de angústia e ansiedade invade seu peito a medida que chega mais perto da sua vez de desembarcar do avião, não entende o porquê, mas no fundo sente que algo está errado.
Se esforça para ignorar o sentimento, imagina que fora sua ansiedade. Se sentir assim era mais comum do que ela gostaria.A garota se mistura em meio aos outros passageiros, caminhando até a área de desembarque. Procura com os olhos um rosto amigo, até se encontrarem com as esferas verdes intensas que arrebentam seu coração.
— Bebê! - Ela corre em direção ao colo do garoto sem se importar com as malas que ficam para trás.
— Oii Maitê! Como foi a viagem? - Disse de forma automática.
Lorenzzo nunca foi o namorado carinhoso e babão, sempre dissera que se sentia fraco demonstrando seu amor em público. Talvez fosse consequência da criação nada amorosa com seus pais.
— Cansativa. 16 horas sentada com a bunda na cadeira de um avião. - A dor que sente em suas pernas ainda é bastante evidente, como se tivera à anos sem caminhar.
— Porque Itália é tão longe do Brasil? - A ragazza desce do colo do rapaz a contragosto. O sentimento de segurança que seus braços trazem para ela é gostoso pra caramba.Lorenzzo vai até as malas da namorada e as pega, caminhando novamente para o lado da companheira.
— Você não sabe o que é longe. - Disse em tom irônico. — Todo ano eu vou à Australia. Isso fica a quatorze mil quilômetros. — O rapaz pôde sentir a sensação do vento árido nas bochechas, seu voo até a Austrália é sempre sua parte preferida do ano. O clima, os animais, a cultura, tudo chama sua atenção de uma forma surpreendente.
— Caramba! É longe mesmo. - Maitê olha para o horizonte como se imaginasse a distância entre os países. — Seria legal conhecer a Austrália algum dia. - Ela espera ele dar algum sinal de que um dia poderiam viajar juntos.
— Você já está pronta? Nosso jantar é em duas horas. - Comentou de forma como se fugisse do assunto.
A menina se sente inferior demais em relação ao companheiro toda vez que ele ignora os pequenos detalhes, que para ela é tão importante. Reparar no cabelo; ajudar a escolher a cor do esmalte; saber das pequenas manias, como a de se produzir toda sempre que há um lugar para ir. Mas ele diz que demonstra seu amor de outras formas, ela só não consegue distinguir quais.
— O que? Claro que não. Olha pra mim! - Maitê desliga as mãos pelo corpo. — Preciso tomar banho, por uma roupa bonita, me maquiar, passar perfume...
— Ok, ok! Entendi... - Responde impaciente. — Bom, por sorte não vamos encontrar ninguém, estão todos em uma reunião familiar fora da cidade.
O namorado sempre odiou a curiosidade de Maitê, para ele era irritante, então ela parou de perguntar. Mas a garota é expressiva, seu rosto não esconde suas emoções. Não precisa conhece-la bem para saber que anseia saber do que se trata essa reunião tão importante.
— Assuntos de família. Curiosa! - Responde antes que qualquer palavra fosse pronunciada.
Ambos embarcam no carro e seguem rumo até a mansão dos Mancini. Chegando lá Lorenzzo pede para que Dona, uma das empregadas da casa, ajude Maitê se arrumar.
Enquanto isso, em Milão, a família do garoto está em uma fervorosa reunião.
A chegada dessa insignificante pessoa ameaça todo o império dos Mancini. Gostaria de saber porquê?— Mio dio, Ângelo! O que essa ragazza está fazendo na nossa mansão, em Verona? - A matriarca reclama para o chefe da casa.
— Sì, Ângelo! Não trazemos pessoas de fora da família! - Agora é a vez de Marchelo, irmão mais velho de Lorenzzo.
— Abbastanza! - Ângelo levanta, batendo as mãos na mesa. — Vocês não confiam nas minhas decisões? — Ele volta a se sentar, ajeitando o paletó.
Todos ficam em silêncio, baixando a cabeça.
— Ela assinou o contrato.
As mulheres vibraram em alegria, já Marchelo nem tanto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mio amore impossibile
RomanceA vida de Maitê Campos se tornou uma escada de vidro no momento em que pôs os pés em Verona, na Itália. O que era pra ser uma simples visita à família de seu namorado, se tornou um filme de máfia italiana. O ponto chave de Mi amore impossibile é a...