Capítulo 11

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Na vida, nada é eterno. Por mais difícil que seja a perda, é inevitável que uma hora ou outra algum ente querido se vá. É menos doloroso quando a morte é natural, sem violência e calma.
Com dona Maria Helena — mãe de Maitê, a morte acima de trágica, foi extremamente violenta. Os mal encarados confundiram a aparência dela com uma informante procurada, como se mulheres ruivas fossem exclusividade e torturaram-na até seu último suspiro.

A garota está terminando de escovar os dentes, quando seu telefone toca. Ela enche a boca com água e cospe, terminando o que estava fazendo e em seguida pega o seu celular.

— Tia, como vocês estão aí no Brasil? - Ela sai do banheiro e vai até o armário para separar sua roupa.

— Maitê, aconteceu algo terrivel. Eu sinto muito, Maria Helena faleceu essa noite. - A voz era chorosa do outro lado da linha.

— Minha… Minha mãe?- A menina se encosta no armário, seu rosto está pálido e seus batimentos cardíacos descompassados. — O que… O que aconteceu? - Ela sente sua respiração falhar.

Parece que alguns traficantes confundiram ela, não sei muito bem. - A tia de Maitê da um suspiro sofrido do outro lado. — Estamos segurando o velório o máximo que conseguimos, esperamos que você consiga se despedir.

— Eu vou comprar a passagem agora mesmo. Por favor, me esperem. Eu não sei o que farei se não conseguir me despedir. - Mal consegue falar entre o choro e soluços.

— Farei tudo dentro do possível. Sinto muito, até mais. - A linha enfim é desligada.

Srta. Campos atira o telefone longe, coloca as mãos no rosto e solta um grito doloroso de perda. Seu choro é incontrolável, sua pele está vermelha e seus olhos inchados, causados um pouco pela noite anterior.

Na vida, ela só tinha a mãe. Tinha... Que sentimento esquisito é esse em falar que ela a tinha, no passado. Agora não terá mais sua melhor amiga, sua inspiração, sua querida mãe. O restante da família se quer fala com ela, achou algo de outro mundo a tia ligar. Realmente só um acontecimento fatal, para que eles demonstre um pouco de empatia.

Nos cômodos próximos, a família que a acolheu ouviu seu grito sofrido. Imediatamente eles param o que estão fazendo e correm para o quarto da garota, sem entender o que está acontecendo. Isabella é a primeira a chegar, vendo a amiga chorando sem parar. Ela se aproxima, abraçando a cunhada.

— Calma, calma amiga. Me diz o que aconteceu para eu poder te ajudar. - Ela tenta acalmar a menina.

— O que está acontecendo aqui? - A voz preocupada da matriarca preenche o quarto. Ela está acompanhada de Lorenzzo e Marchelo.

— Eu não sei, achei ela encolhida chorando. Ela não para e não fala o que aconteceu. - A loira acaricia os cabelos da amiga.

— Maitê! - Sr. Ferarri chega ofegante. — O que você fez com ela? - Ele se aproxima do sobrinho.

— Tá maluco, seu idiota. - O mais novo empurra o outro homem.

Stai zitto! - Francesca grita e separa os dois.

Marcelho se poe entre Ângelo e Lorenzzo, os afastando. Eles cruzam os braços, cada um em um canto do quarto.

— Vocês só vão piorar a situação. - Sra. Mancini caminha até Maitê, se abaixa na frente dela e coloca as mãos em seu rosto. — Me conta o que aconteceu, meu amor. Vamos ajudar você.

— Não tem como me ajudarem. - A garota afasta as mãos da sogra, escondendo o rosto, ainda chorosa. — Eu perdi tudo que eu tinha, ela se foi… Minha mãezinha se foi. - Seus soluços aumentaram e o choro ficou mais intenso.

— Oh, minha querida. - Francesca da um suspiro longo, se levantando. — Deixe as brigas de lado Lolo, ela precisa de você. - Ela coloca a mão sobre o ombro do filho, que assente e vai em direção a namorada.

Lorenzzo se abaixa ao lado da garota, tomando ela dos braços de Bella e afundando o rosto da companheira em seu peito.

— Sshh... Vai ficar tudo bem, meu amor. - O herdeiro sussurra no ouvido da amada.

— E você, vem comigo. - Francesca direciona o olhar para  Ângelo.

Ferrari olha para o sobrinho abraçado em Maitê, bufa com raiva e segue a irmã.

A mais velha leva o irmão até seu escritório, no andar de baixo. Ela entra primeiro, segurando a porta para Ângelo passar e então ela puxa a maçaneta e tranca com a chave.

— Você deve imaginar o sentimento que é quando você não se despede de um ente querido. - Ela começa a falar, indo em direção a porta-janela que dá uma vista linda do pequeno lago e abre.

Ferrari lembra do episódio que aconteceu quando sua esposa faleceu. Ele estava tão atordoado que não conseguiu se despedir e até hoje sofre com o sentimento de culpa, de forma alguma ele quer que a pequena Maitê sofra uma fração do que ele sofreu.

— Acho que entendi onde quer chegar. - Ele olha para a irmã, caminhando em sua direção. — Vou ligar para o James preparar o avião, saímos em uma hora. -  Ferrari pega o celular e começa a discar.

— Nós? - A irmã pergunta surpresa.

— Sim, nós. - Ele assegura, colocando o objeto perto da orelha. — Ela faz parte da família agora. - Ele coloca a mão livre no bolso e sai pela porta que fica de frente para o jardim.

Francesca acompanha o irmão com os olhos, boquiaberta com o que acabara de ouvir.

Mio amore impossibileOnde histórias criam vida. Descubra agora