𝙎𝙖𝙣𝙡𝙤𝙩𝙝𝙖𝙠

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DIONE

As cigarras cantavam alegremente nos arredores de Rosemarket e a secura manteve-se mais firme que as rajadas cortantes ou a chuva. Beirava o abafamento, uma ocorrência incomum para típico outono da região.

Dedos pequenos e gélidos contornavam a garganta de Dione. Sentada em um tronco de árvore cortado, ela teve seu ferimento sendo cuidado pela milésima vez.

As coisas mudaram depois do acontecimento, o comportamento de Daisy ficou diferente e Dione compreendeu. Mesmo que por motivos que ela considerava insólitos.

Afinal, Daisy não se integrou nessa viagem para conhecer a vasta gama de conhecimento da Condessa? Era óbvio que isso incluía a matança.

Então, porquê se manteve mais afastada? Certo, Dione não estava realmente 100% disposta a compreender, mas estava tentando. Ou não.

— Isso vai deixar uma cicatriz — ela disse com um sorriso atencioso. Daisy remexeu na maleta algumas vezes antes de retirar um pote com um líquido pastoso — mas será quase invisível.

A forma como Daisy remexia em coisas que nem eram dela com tanta prática parecia vagamente reconfortante.

Ela esfregou as mãos recheadas de pasta uma contra a outra e pousou no pescoço de Dione, a coisa ferveu antes de ser sugada pelo corte.

Foi um presente dado de bom grado por uma ninfa muitos anos atrás, na época parecia engraçado manter um componente medicinal do tipo, mas lhe foi empurrado e acabou deixando nos fundos da maleta. Depois de ter sido esquecido por tanto tempo, se fez útil. Dione nunca achou que um dia usaria isso, como alguém teria coragem de cortá-la com veneno?

E agora ela estava agoniada. Sangue seco não foi limpado magicamente de outras partes de seu corpo, ainda usava um trapo de vestido e necessitava urgentemente de um banho.

— Nós faremos uma parada antes de chegarmos à Milford Haven — avisou. Os olhos de Daisy se iluminaram brevemente em curiosidade. — Preciso visitar um local.

Estava incluso nos planos antes mesmo de conhecer Daisy, era uma pausa crucial no cronograma. Dione precisava retornar lá.

A noite não era muito bonita, os céus tinham aderido tons de naval que emaranhavam-se junto a um marsala, lembrando uma pintura colérica. As colorações tingiam umas às outras bruscamente e se misturavam, transformando o alto numa batalha por espaço.

O calor se manteve um companheiro fiel por horas, as árvores não balançavam um centímetro e os ruídos que se seguiram além dos passos das duas pisoteando folhas, era o silvo das corujas e animais bagunçando os arredores do caminho para caçar.

Não existia uma estrada, ficaram vagando por caminhos obstruídos o tempo todo.

— Já estamos chegando —  avisou quando adentrou a região de árvores altas, onde a visão corria amplamente sem milhares de galhos ameaçando perfurar olhos.

— Vamos encontrar alguém? — Daisy indagou quando tirou um último galho do caminho rasteiro.

— Não exatamente.

A rocha curvada estava de costas para Dione. Ela rodeou e viu a cortina de trepadeiras tampando a entrada, não bloqueando. Possuía um odor fraco e mal cheiroso, como se dissesse aos animais para ficarem longe.

Só que era pesado, Dione puxou de um lado e Daisy, que demorou algumas passadas para chegar, se prostrou do outro e acenou com a cabeça para elevar. As duas entraram ao mesmo tempo e se ferraram ao mesmo tempo.

Dione KalanthosOnde histórias criam vida. Descubra agora