DIONE
Caminhar por horas a fio não era algo necessariamente cansativo, mas Dione se sentia levemente enjoada. Passando pela estradinha de terra batida rumo à Chipping Sodbury, se viu com as botas sujas e um fio de suor ameaçando descer pela têmpora. Sua resistência não era tão boa quanto 5 anos atrás.
Se não fosse pelo maldito Chaenjiun, Dione ainda estaria dando continuidade a sua bela reputação de traidora da própria espécie — ou se enfurnando em algum de seus castelos espalhados pelo mundo.
Mas agora tinha que tomar uma dose extra de cuidado ao passar pelas vilas. Era um alvo relativamente mais fácil para os rancorosos.
Rancorosos esses que deveriam ser agradecidos à Dione por livrá-los de seres abomináveis(independentemente de serem familiares, amores ou coisa parecida), tudo que Dione fez foi limpar minimamente o mundo de almas penadas.
E tinha sido em prol de um plano maior? Não! Dione gostava de sangue, simples assim. Talvez um pouco de gratidão seria bom.
Com um suspiro resignado, Dione voltou a focar no caminho e seus arredores. O barulho de pedrinhas em algum lugar à sua direita lhe enviou alertas, a neblina já estava dando indícios de circundar as árvores.
O guincho de um animal ressoou através da vegetação e um suspiro alto encontrou caminho em seu pescoço. Dione sentiu o aroma levemente familiar de lírio selvagem.
— A lua não está bela hoje?
Ela ergueu o rosto e observou bem o céu. As estrelas eram poucas, dando espaço ao grande círculo acinzentado que parecia mais iluminado que de costume.
— De fato.
O bufo lhe rendeu uma breve sensação alentadora de calor. De certa forma, já desconfiava que estava sendo seguida, só não imaginava que seria a audaciosa Daisy Elkins Plawmone.
— Não entendo o que está fazendo aqui — comentou momentos depois, Daisy seguia silenciosamente ao seu lado, mas a excitação crescente não passou despercebida por Dione. A mulher estava uma pilha.
— Desejo acompanhá-la nessa viagem — respondeu de imediato. — Serei de grande ajuda em sua jornada.
Intrigante. Daisy era muito burra, ou muito ingênua, que no final significavam a mesma coisa. Dione não contou nenhuma informação precisa sobre o caminho que teria que fazer e ainda deu uma resposta grosseira, mesmo assim a jovem ainda queria passar tempo com ela.
— Eu não confio em você — Dione parou para encarar a loira. — Vá embora.
Daisy franziu as sobrancelhas em descrença e sua expressão rapidamente iluminou-se em determinação. Os grandes olhos cor de céu renderam um brilho instigante, ela trincou o maxilar e disse:
— Eu farei com que você se torne minha amiga! — E os punhos se fecharam.
Dione fez uma careta ao tentar conter o burburinho que ameaçava tomar conta de seu estômago, mas foi em vão, a ardência esgueirou-se para cima até explodir em uma gargalhada alta e clara. Os olhos de Daisy arregalaram-se e suas bochechas foram tingidas em vermelho carmesim.
Pelos anos de conhecimento obtidos através da longa vida de Dione, ela tinha certeza que era uma espécie de auto desafio imposto, Daisy tentaria forçar uma amizade com a Duquesa Sanguinária, e caso conseguisse, espalharia aos quatro ventos. E, bem... ela não estava disposta a ajudar alguém assim, iria ter que sofrer sozinha nessa missão.
— Eu estou falando sério! — A vermelhidão no rosto de Daisy foi reforçada. — Nos tornaremos grandes amigas.
— Certo. — Dione ficou muitos passos à frente, a maleta balançando rigorosamente alinhada ao seu caminhar. Daisy demorou segundos para sair do torpor e chegar perto novamente. — Esteja por sua conta e risco.
Por ser uma viagem dessas, uma pessoa a mais não era algo ruim, quanto mais, maiores as chances de darem certo. Só que a questão era: Dione não precisava de ninguém.
Ela deu uma olhadela em Daisy com suas passadas pesadas, punhos cerrados e rosto fechado decorado por um bico.
Inofensiva.
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Dione Kalanthos
RomanceAmbientada no século XIX, a história segue a jornada da vampira milenar Dione Kalanthos em sua busca pelo antigo rival, Chaenjiun. Cinco anos atrás algo importante lhe foi tomado, mas agora, sua determinação em pegar de volta é mais forte. O solstíc...