DIONE
Os olhos de Dione rolaram pelo grande salão captando detalhes da arquitetura fenomenal que o Red Palace dispunha. Diferente da última vez em que passou por aqui, modificações foram feitas visando uma modernidade que combinasse com a nova leva de membros da alta sociedade.
No ponto mais elevado podia-se ver a lua em seu ápice, sua beleza infiltrando-se por meio da claraboia. E não era a única fonte de luz, lustres enormes reluziam em função das arestas de ferro.
A escadaria que dava de encontro com a pista de dança foi realocada na parede esquerda, descendo de maneira que seus degraus se expandiam e formavam uma base maior que o ponto onde iniciava-se; Corredores podiam ser vistos lá em cima, cheios de pessoas bebendo e deliciando-se com a música ambiente. Ocasionalmente Dione sentia olhares recaindo sobre ela. Seu vestido profundamente marcado pelo tecido num tom de azul marinho chamava atenção, principalmente os detalhes dourados que subiam pela barra e corpete.
— Milady — um jovem fez uma breve reverência e sorriu timidamente — concederia esta dança?
Tendo recusado algo acima de dez convites em menos de uma hora a fez manifestar uma careta. Eles não perceberam que Dione estava bem assim? Precisamente aguardando Daisy que demorava éons se arrumando?
No entanto, ela já havia passado pelo barzinho e não queria voltar para lá, então, relutantemente, estendeu a mão que foi recebida com grande alegria.
Com a música leve soando em seus ouvidos, o jovem — muito ansioso — parecia prestes a explodir. Em algum ponto desta fatigosa dança, ele passou a balbuciar acontecimentos corriqueiros e fazer perguntas superficiais, das quais Dione balançava a cabeça ou respondia com "sim" ou "não".
E isso não parece tê-lo desencorajado, já que ficou ocupado demais derramando palavras.
Dione desejou o fim um pouco mais do que deveria.
Foram nos momentos finais da música que Daisy apareceu na escadaria. O vestido seguia ombro a ombro, dando destaque para o colar de prata com pingente de coração. Nas mãos foram postas luvas que iam até os cotovelos, tão brancas quanto a neve que caía no inverno.
De se fazer notar, o vestido era cor caramelo, a renda que se ajeitava na frente do corpete também vinha em formato de flores e por vezes se afunilavam para as espalhar pela saia ondulante. Dione sentiu que todas as luzes do local estavam em Daisy, mesmo que muitos outros passassem pela escadaria simultaneamente. A voz do jovem já parecia um pano de fundo. Dione conseguiu perceber os olhos de Daisy ziguezagueando algumas vezes pelo ambiente buscando ela.
Mas no outro momento as lâmpadas se apagaram e o brilho da lua se tornou a única fonte de luz. O violino soou mais estridente, se intensificando numa melodia rápida e voraz. O jovem já havia sumido e Dione sentiu dedos finos e ossudos pegando suavemente em seu pulso. Sua mão foi conduzida até o pescoço da pessoa e Dione tentou esconder a surpresa ao ver um objeto histórico adornando o rosto.
— Astéria Kalanthos — ela disse ao segurar o queixo de Dione e examiná-la até sua mão pender na cintura. — Estava ansiosa para o nosso encontro.
Ela utilizava uma máscara prateada cobrindo a faixa dos olhos, havia uma ponta centralizada e direcionada para cima com uma pedra angular cobalto; no corpo da tiara foram esculpidos desenhos que se assemelhavam às ondas, misturando traços. Tudo isso não ajudava com a leitura de feições, mas algo no sorriso ladino da mulher a fez se sentir com sorte.
— Perdão, mas eu te conheço? — a pressão em sua cintura aumentou e a dança se iniciou.
— Khenori.
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Dione Kalanthos
RomanceAmbientada no século XIX, a história segue a jornada da vampira milenar Dione Kalanthos em sua busca pelo antigo rival, Chaenjiun. Cinco anos atrás algo importante lhe foi tomado, mas agora, sua determinação em pegar de volta é mais forte. O solstíc...