Dione Kalanthos

𝙐𝙡𝙩𝙞𝙢𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙣𝙘𝙚

DIONE

Dione sabia bem que não poderia se dar ao luxo de esgotar toda sua energia numa série de animais da poção metamorfósica. Portanto, preparou-se antecipadamente com Leonard para que a poção fizesse efeito por uma quantidade estipulada de mutações. Tinha dez bichos em mente, todos pensados de maneira que pudessem oferecer alguma vantagem.

Não foi surpresa quando Chaenjiun tomou forma de seres maiores e mais assustadores, era um feiticeiro muito talentoso e usaria isso. Dione contava com esse aspecto, e o plano no geral pôde ser pontuado como uma vantagem. A perseguição tomou a maior parte do tempo, mas em variados momentos ela se via num embate físico e, mesmo sentindo o veneno se expandindo na perna esquerda, a adrenalina do momento a fez tomar dianteira e seguir numa série de atacar-correr-atacar-correr. Não era vergonha alguma, Chaenjiun foi o primeiro traiçoeiro quando decidiu roubar cincos anos atrás.

Foi só agora, ofegante sobre os joelhos, que Dione voltou-se para onde Daisy estaria antes, um buraco no chão que dava de encontro para sabe-se lá onde. Não existiu tempo para sua mente voar fora do embate antes, mas agora que viu se sentia levemente preocupada.

— Que diabos você mantém lá em baixo? — Dione pressionou as mãos nas costelas e esticou o corpo, recuperando o fôlego.

— Um ser Elemental. — Chaenjiun estava se levantando do chão, atordoado com sangue escorrendo de ambos os braços. — Espero que ele a degole.

Então Daisy tinha alguma chance, seres elementais não são maldosos. Eram imortais, claro, mas no caso de acontecer uma luta justa e acabarem perdendo não se vingariam. E Dione tinha fé em Daisy. Ela precisava ter.

— Você foi sorrateira aqui, mas vamos ver se vai se dar tão bem agora — ele firmou o pé esquerdo na frente e flexionou o joelho, a perna direita foi esticada enquanto as mãos empurraram e puxaram o vazio.

Chaenjiun então plantou as duas pernas abertas feito um lutador de sumô e Dione sentiu os arredores mudando. Foi como se um vórtice sugasse toda a realidade, buscando espaço para a verdadeira imagem.

Aplausos seguiram, pessoas a empurraram e sua armadura tilintou. Ela olhou para baixo e viu as pernas nuas, um chinelo antigo e uma saia de couro avermelhada. Inferno.

Eram tantas pessoas, tanta areia, tantos cavalos. Era muita coisa, o sol escaldante em sua cabeça já projetava uma dorzinha e passando a mão sentiu o capacete de ferro com um moicano monstruoso, era o gálea. Chaenjiun estava doente se pensava que isso era um cenário interessante. O torpor durou segundos, mas foi o suficiente para que já a tivessem empurrado na desgraça de uma biga e a enfiassem no alinhamento, girando a cabeça para o lado, viu o maldito acenando com um sorrisinho cínico.

Quando a trompa soou, pessoas do coliseu inteiro foram à loucura. De onde estava conseguia ouvir gritos de comemoração, torcida, berros com nomes de outros participantes. Dione olhou para os próprios cavalos que se mostraram muito empenhados, ambos de uma cor que se assemelhava ao céu num dia sem estrelas. Mais tarde descobriria que sua biga se chamava "o salto de Nyx".

Na disputa pela liderança duas bigas se emparelharam e ofensas jorraram de todos os lados, mas logo foram descartadas. Chaenjiun entrou com tudo no meio e de olhos saltados, os dois participantes foram varridos da competição, suas bigas sendo arremessadas para o escanteio.

Vislumbrando de longe a armadura reluzente do maldito, Dione lembrou-se que deveria acabar com ele.

Tentando se fazer ser ouvida através de toda a gritaria, Dione berrou com seus cavalos até que corressem mais rápido, e ocasionalmente os cutucava com uma vara. Foi uma espécie de transe, olhava para as costas de Chaenjiun e gritava, passava por outra biga e olhava Chaenjiun, atropelou uma biga que foi imediatamente desclassificada e voltou a correr.