DAISY
St. Alaunus ficava a maior parte do tempo acima das nuvens, então, em raros momentos assim, um voo mais baixo, um céu mais limpo, a grossa camada que a separava das águas hostis não parecia tão reforçada. Um olhar para baixo e era como se tivesse a sensação de dar um breve mergulho no mar, bem do alto.
Como quando seu sangue fluindo pelo cascalho se atrelou à chuva fria numa noite dolorosa. O corpo imóvel por horas, a vasta escuridão da madrugada trazendo consigo nada além de fantasmas da mente. Daisy ainda se lembrava de fixar seu olhar nas poças enlameadas carmesim enquanto sentia seu corpo trabalhando, cada partícula batalhando ferrenhamente na formação do novo.
Mas era verdadeiramente novo? Porque Daisy ainda sentia o mesmo braço, a mesma perna. Ter visto seus membros destroçados arranjarem uma forma de se ajustarem novamente não foi o suficiente.
No entanto, diferente da outra vez
— Daisy? — a voz de Dione chamou, grave como de costume, mas carregava uma leve hesitação.
Ela não tinha vontade de aprofundar-se nas alturas.
— Sim?
Daisy exibiu os lábios curvados num sorriso fraco e o olhar de Dione suavizou.
Daisy nunca viajou pelos céus, sequer imaginava que um dia chegaria a isso e, sendo bem honesta, mal havia ouvido falar sobre dirigíveis. Mas aqui estava ela, absorvendo os detalhes do corredor esplendoroso do St. Alaunus com tapeçarias que se estendiam além de seu campo de visão.
Era excitante, assim como tudo que conhecia com Dione. Quando embarcaram dias atrás, Dione não parecia nem um pouco admirada, a mulher era extremamente casual sobre a coisa toda.
— Condessa — cutucou — onde estamos indo?
Ao contrário de todas as roupas que Daisy já a viu usar, essa era muito mais glamorosa. O vestido possuía coloração creme, alguns babados e vários detalhes no tronco, uma faixa de tecido que adornava a borda do busto se juntava aos ombros e caía. Luvas brancas até o antebraço e enfeite de cabelo da mesma cor, similar a uma pluma.
— Jantar.
Essa foi a resposta que ganhou nas últimas três vezes. Nesse tempo que passaram juntas Dione se tornou mais suscetível a ser aberta e Daisy agradecia aos céus, mas agora, com essas passadas largas e apressadas sem nem olhar para trás, ela preferiu esperar.
Na última vez que instigou fortemente, Dione passou a noite tendo hipotermia, bebeu o sangue de Daisy, contou sobre sua missão, elas ficaram dias sem trocar uma palavra e fez um massacre.
E, oh...
Daisy ficou atordoada, era o tipo de matança que nem os confins mais obscuros de sua mente conseguiria imaginar. Aquelas pessoas foram varridas da existência em segundos e os corpos destroçados pela estrada formaram uma pilha, o sangue que vazou correu pelo caminho e gerou um córrego vermelho.
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Dione Kalanthos
RomanceAmbientada no século XIX, a história segue a jornada da vampira milenar Dione Kalanthos em sua busca pelo antigo rival, Chaenjiun. Cinco anos atrás algo importante lhe foi tomado, mas agora, sua determinação em pegar de volta é mais forte. O solstíc...