Capítulo 6

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Dirigi até o Burguês, lá faziam o melhor hambúrguer da cidade, entrei e fiz o pedido: dois hambúrgueres X-Tudo, dois refrigerantes e umas cinco garrafas de água de um litro. Esperei alguns minutos e quando ficou pronto entrei no carro e coloquei os sacos no banco do passageiro ao meu lado. Aproveitei o momento para transformar o comprimido em pó, assim não perderia tempo quando a hora de usá-lo chegasse, esmaguei ele com a garrafa de refrigerante e despejei o conteúdo em um pequeno saquinho plástico com lacre que tinha no porta‐luvas do carro.

Continuei o percurso. Cheguei no cemitério ainda era relativamente cedo, quando entrei o Sr. Antônio, o vigia, estava sentado na cadeira embaixo da mesma árvore de nosso último encontro.

- Boa noite! - saudei meu companheiro da noite.

- Muito boa noite, garoto, estava pensando que não viria. - Ele sorriu.

- Sou um homem de palavra - levantei o saco oleoso com os hambúrgueres - veja, trouxe o que prometi.

- Assim que eu gosto - ele se levantou para pegar o saco - deixe-me ver o que você trouxe.

Entreguei o saco para ele, olhei para o túmulo da Rosa Maria, vi que poderia servir de acento, então tirei a sacola das garrafas de refrigerante e limpei uma parte.

- Como adivinhou que eu adoro estes hambúrgueres? Meu médico disse para eu não comer essas coisas por causa da minha saúde, mas de vez em quando não faz mal.

- Que bom.

- Vou pegar a lamparina para podermos comer.

Ele virou-se e foi andando com passos lentos até a casinha de ferramentas, aproveitei para dissolver o pó em uma das garrafas. Em hipótese alguma eu poderia confundi-las. Quando ele retornou colocou a lamparina no chão entre nós e pegou um dos hambúrgueres que estavam no saco de papel, eu o acompanhei.

- Tome - entreguei a garrafa para ele - comprei para o senhor.

- Você sabe mesmo como agradar alguém pela barriga. - Disse ele dando risada.

O velho comia com uma velocidade surpreendente, imaginei que a digestão dele deveria ser complicada já que ele mal mastigava. Entre uma mordida e outra, falávamos sobre as estrelas e a lua. O luar estava espetacular naquela noite, quase não precisava da luz que a lamparina produzia. Ele me contou sobre sua juventude e como eram as coisas, em noites como esta, no sertão da sua cidade natal. No momento em que ia contar‐me das suas namoradas, o remédio fez efeito e ele capotou. Terminei de beber minha Coca-Cola, peguei as chaves que estavam no cós da calça dele para abrir a casinha e pegar as ferramentas.

Arrastei todas elas para baixo da árvore onde o velho estava dormindo. Fui analisar o terreno para escolher o lugar e dar início a escavação. Felizmente, eles já tinham inaugurado o novo terreno então era só seguir a fileira. Voltei e peguei a cavadeira reta e demarquei o tamanho, geralmente as covas normais medem cerca de 2,20m de comprimento e 0,80m de largura, mas não acho que precisava de tanto, afinal, ele estava todo separado em sacos. Resolvi que cavaria 1,10m de comprimento 0,80m de largura e 1,70m de profundidade.

Fui até o carro para trocar de roupa e pegar as garrafas de água. Coloquei três pares de luvas nas mãos com o intuito de evitar calos. Vestido e com as luvas nas mãos eu estava preparado para a obra, voltei e comecei a perfurar a terra com a mesma cavadeira. Depois que a terra estava fofa, peguei a pá quadrada e fui tirando a terra e colocando de lado. Optei, na sequência, por usar a cavadeira articulada, 20 minutos depois a cova ganhava forma. O suor escorria pelo meu rosto, meu cabelo já estava molhado novamente e provavelmente a pele da minha face ganhou uma tonalidade avermelhada. Fiz uma pausa para tomar água. Tomei a primeira garrafa inteira.

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