Capítulo 17

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Fazer aquele ato libertino com a Emmy; ou Lucinda, sei lá, foi uma das coisas mais loucas que já fiz para me manter com o mínimo de dignidade. Receio ter que ficar a mercê dela de agora em diante todas as vezes que ela quiser repetir a dose. Ela é uma louca que eu tenho que apagar assim que ela deixar de ser útil.

Enquanto ela dormia no sofá, eu fui abrir as caixas. A primeira continha a câmara a vácuo, na segunda o polímero e a acetona; arrastei as caixas para a garagem. Ao chegar lá analisei o ambiente e cheguei a conclusão de que eu iria precisar de um cômodo mais espaçoso. Porém, por enquanto teria de ser ali mesmo, a minha ansiedade não permitia aturar a espera de uma construção.

Tirei o carro da garagem e estacionei no gramado para ganhar mais espaço. Voltei e comecei organizar tudo. O lugar estava uma bagunça, olhei em volta e lembrei de quando fiz picadinho do Alex. Minha imaginação foi tão profunda que pude sentir um calor nas mãos igual o que eu senti quando elas estavam dentro dele, lembro que aquele cheirinho de sangue quente me fez delirar. Por um segundo desejei sentir tudo isso de novo. Talvez eu sentisse hoje á noite.

Enquanto eu limpava o lugar Emmy acordou e foi até mim. Ela estava um pouco descabelada e com a cara amassada. Ela era bonita, de certa forma, não foi tão ruim ter perdido a virgindade com ela.

- Quanto empenho pra limpar um chão.

- Gosto de tudo bem feito.

- Percebi mais cedo no sofá.

Ela pegou outro rodo e começou a me ajudar a puxar a água.

- Quer lavar o carro depois? - Ela perguntou.

- Não.

- Devíamos.

- Amanhã, quem sabe.

- O que vai fazer hoje à noite?

- Não é da sua conta.

- Você está sendo bem grosso, mas não ligo, ainda gosto de você. - Ela disse com um sorriso meigo.

- Tá.

Horas depois tudo estava limpo e organizado. Emmy foi para casa cuidar do pai dela e eu fui direto pro chuveiro. Eu amava tomar banho, nesse momento eu refletia sobre tudo: o próximo passo, o que fazer primeiro, para onde ir.

Bruno. Esse nome causava náuseas em mim, depois de hoje eu conseguiria ter Blenda só pra mim. Mas, pensando no que senti mais cedo, - o desejo de sentir o sangue quente nas minhas mãos outra vez - fez eu querer trazer o Bruno para minha casa. Seria muito arriscado descer do prédio abandonado arrastando o corpo dele, ainda mais se tiver câmeras perto do local. A não ser que eu use uma máscara e depois desmonte o carro inteiro e venda peça por peça na Internet. Tudo por um desejo.

Decidi matar o tempo fazendo qualquer coisa da qual eu gostava. Eu tentei ler um dos livros que troquei na feira, mas não conseguia focar na leitura, estava pensando no Bruno. Tentei ver um filme e falhei novamente. Saí da sala e fui para o quintal, busquei idealizar o futuro que eu havia planejado para aquele espaço; deu certo até esgotar tudo que tinha pra pensar sobre isso.

Nessas horas a vizinha não resolve fazer uma visita, pensei alto. Céus, o que eu estava querendo?!, até a solidão era uma opção melhor. Peguei o celular e abri o app dos contatos.

- Alô? - Falou Blenda ao atender a ligação.

- Quer vir aqui em casa?

- Você realmente é bem direto. Pulou todas as formalidades.

- Desculpe. Tudo bem?

- Tudo, Adam. O que tem na sua casa?

- Apenas eu.

- Devia arrumar um cachorro ou um gato.

- Você quer vir?

- Chego em minutos.

- Tá.

Quarenta minutos depois ela chegou. Estava impecável como de costume, usava um vestido decotado preto e um coturno preto. A maquiagem realçava ainda mais sua beleza. Desejei tê-la em meus braços e fazer com ela o que fiz com Emmy horas atrás.

- Quer ver um filme?

- Pode ser. Tem bebida?

- Claro.

Fui até a cozinha e peguei duas taças e um dos vinhos caros do papai. Certa vez, ouvi a conversa de algumas garotas, enquanto eu andava no corredor da escola, elas diziam que vinho as faziam ter desejos sexuais. Talvez o vinho seja meu grande aliado esta noite.

Quando voltei ela tinha escolhido um filme intitulado de "Psicopata Americano".

- Você tem um gosto peculiar pra filme.

- Você já assistiu?

- Já.

- Claro que já. - Disse ela sem muita surpresa - Quem nunca viu, não é mesmo?

- É. - Confirmei um pouco desconfortável.

Eu não me achava um psicopata, mas sei que todo mundo acharia se soubessem das coisas que fiz, mas eu só estava tentando fazer a coisa certa. É tão difícil viver as vezes.

Os primeiros 55 minutos do filme se passaram, ver Patrick Bateman matar pessoas e não pensar em Bruno era quase impossível. Para distrair a mente coloquei o braço apoiado no sofá e tentei trazê-la pra perto de mim, ela atendeu ao intuito. Logo comecei fazer carícias na pele de Blenda, tê-la com a cabeça apoiada em meu peito me fazia sentir como o homem mais sortudo e protetor do mundo.

Minutos depois estávamos nos beijando, quando fui tentar ir além ela me parou.

- Vou ao banheiro. Onde fica?

- Andar de cima.

Ela subiu apressada, e eu fiquei sentado pensando se quando ela voltasse daríamos continuidade ao ato.

- Voltei, gatinho. Onde paramos?

- Pelo que me lembro, seus lábios estavam nos meus e em poucos minutos suas vestes não estariam mais em você.

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