2. Suposta greve de fome

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— O senhor não quer mesmo jantar? — Mo Qin, a cozinheira pessoal perguntou preocupada.

— Jantar pra quê? Se nada tem sentido? — Li Yue estava estirado no colchão com os robes abertos, os pés descalços e um jarro de vinho seco na mão que pendia da cama. — Nada importa de verdade, nem a sua sopa de lótus.

— Mas a sopa está deliciosa, senhor.

— Nada importa!

— Tudo bem, senhor. Mas o que eu faço com a sopa? — Ela segurava a bandeja com a tigela fumegante na porta dos aposentos.

— Nada importa! Traga mais vinho!

— Mas ainda tem vinho, senhor.

Li Yue virou a cabeça de lado e viu o outro jarro lacrado sobre a cômoda.

— Ah, verdade. — Suspirou, nem para ser um alcoólatra conseguia.

— Eu vou deixar a sopa aqui, caso o senhor mude de ideia.

Ela entrou nos aposentos, deixou a bandeja sobre a mesa e trocou o incenso enquanto seu mestre dizia que não adiantava trocar o incenso porque ele acabava e tinha que trocar de novo. Ele andava muito estranho.

O dia amanheceu e ele não tomou a sopa, também não tomou o outro jarro de vinho, não pediu para prepararem o banho e nem perguntou quais eram as atividades das suas duas criadas para hoje. Geralmente, ele não tinha nenhuma preferência de pratos ou de como elas deveriam organizar o pavilhão, no entanto, por mais que não saísse da área, ele nunca deixava de treinar, fazer poções ou ler seus livros mágicos.

Os dias seguintes permaneceram do mesmo jeito, tudo o que o mestre fazia era ficar deitado na cama dizendo que nada importava e se enrolando em uma bolota. Ele não colocou nada no estômago e só bebia água porque Mo Qin e Ming Yi revezavam-se em levar uma garrafa quente para o quarto.

— Trouxe pêssegos suculentos para o mestre.

— Nada importa!

— Há carne deliciosa de porco para o almoço.

— Nada importa!

— Hoje haverá uma chuva de meteoros.

— Nada importa!

— Eu sinto muito pelo incêndio, mestre! Esta criada não será desatenta de novo na cozinha! Por favor, perdoe esta inútil!

— Nada importa! ...mas você está bem? Não se queimou nem nada?

O mestre Li Yue perdeu peso, estava praticamente só pele e ossos, suas bochechas fundas e seus lábios ressecados, as únicas coisas que ele segurava era a garrafa de vinho e aquela caixa misteriosa. Era como se alguém tivesse colocado uma maldição nele. Uma noite, preocupadas, as criadas foram até a porta do quarto e colocaram o ouvido na porta, escutaram um choro desolador e então resolveram tomar uma providência.

He Ruocheng deixou seus criados e guardas na entrada do pavilhão, menos o guarda imperial que estava levando um prato de saborosas tortas de carne recém-saídas do forno. É claro que Li Yue estava fazendo um escândalo por causa do que aconteceu no salão de julgamentos e não pararia até ter sua atenção. Era incrível como ele podia ser irritante e criativo na sua irritação. Toda aquela greve de fome não passava de uma das suas ameaças infantis.

As criadas receberam He Ruocheng com toda a pompa e devido respeito, porém Li Yue nem sequer se levantou da cadeira. É claro que estava de birra, ele nem usava roupas adequadas, tudo que vestia era o robe de dormir e seus cabelos lisos escuros como grafite estavam bagunçados e jogados nos lados da cabeça que ele nem ergueu para lhe ver, mas hoje o dia de He Ruocheng tinha sido bom e nada estragaria. Acenou para o guarda deixar o prato sobre a mesa e depois dispensou-o.

O EX-LUAR BRANCO DÁ UMA VIRADA!Onde histórias criam vida. Descubra agora