Capítulo 14

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— Esse sonho está muito estranho. Com certeza eu estou delirando. Você de verdade me rejeitou, lembra?!

Falou enquanto era conduzido escada acima em direção ao quarto. Porchay podia jurar para si mesmo que estava sóbrio e que aquilo era um sonho, mas se ele realmente estivesse sóbrio saberia a verdade.

— Eu sei. Nós vamos conversar sobre isso quando você estiver sóbrio.

— Mas eu estou sóbrio...

— E eu me incluí nos negócios da família.

— É sério?!

Chay parou de caminhar e encarou o garoto com os olhos pesados e vermelhos.

— Não, Chay! Anda, vem comigo...

No quarto, Porchay se deitou na cama enquanto Kim pegava para ele uma camiseta em seu armário e logo depois a entregou e pediu que a vestisse.

— Kim... — o garoto o chamou com a voz baixa depois de tentar tirar a blusa e ela ficar presa entre seu braço e o pescoço. Kim o olhou e um pequeno sorriso sem jeito surgiu no canto dos lábios — pode me ajudar?

Kim voltou ao lado de Chay e o ajudou a tirar a camisa e vestir a outra.

— Por que você não consegue acreditar que eu estou aqui agora? Não é real suficiente pra você? 

— Você não é assim, não o Kim que conheço. O Kim de verdade é uma pessoa fria, diferente de você...

— Você me conhece bem mal. Agora deita, você precisa dormir. — Kim sendo real ou não, Porchay ainda estava bêbado e precisava descansar. Ele deitou a cabeça no travesseiro e Kim passou a coberta quente por cima do garoto.

— Eu vou te deixar dormir agora. Talvez eu me afaste um pouco, só até você ter o tempo que precisa para conseguir me ouvir, mas eu não vou deixar você de novo.

Kim virou-se para ir embora, mas Porchay segurou sua mão e fez o garoto virar e voltar a olhá-lo. Os olhos de Kim eram tristes por ver seu garoto tão indefeso e por saber que teria que se afastar para dar a ele o tempo que ele precisasse para pensar se ainda queria ouvi-lo.

— Você já vai embora?

Naquele momento, era impossível saber qual daqueles dois garotos estava mais machucado. Kim tinha os olhos tristes, mas os olhos de Chay ainda que estivessem pesados e quase fechados, já estavam inundados e brilhantes.
Ao ver os olhos do garoto, Kim foi desarmado.
Ele queria chorar, mas não faria isso na frente de Chay.

— Por que você não fica? Você pode sumir quando eu adormecer, mas não vai embora enquanto eu ainda estiver te vendo. Não vai embora enquanto eu ainda sentir sua falta. Só por hoje, Kim. Por que você não fica...?

Kim deitou-se na cama ao lado do garoto e ainda que Chay estivesse receoso sobre esse sonho estranho, encostou a cabeça no peito de Kim, e ele o envolveu em seus braços.

Chay podia sentir o calor através da camisa. Podia sentir que o toque das mãos de Kim ainda que estivessem geladas, transmitiam calor. Podia ouvir seu coração bater desacelerado e tranquilo...

Ele não queria dormir. Não queria que essa ilusão acabasse. Ele queria tê-lo ali por mais alguns minutos antes de fechar os olhos e ele sumir completamente.

Mas ouvir aquele ritmo desacelerado do coração de Kim, sentir o calor que há muito tempo não sentia, sentir aquele toque tranquilizador que o fazia esquecer qualquer coisa, sentir aquela pessoa ao seu lado o fez adormecer.

Mesmo tendo se passado horas desde que Porchay dormiu, Kim ainda estava ali cuidado do garoto. Seus dedos deslizavam nos cabelos de Chay enquanto o via dormir.
Ele podia sentir, mesmo que só por algumas horas, que o garoto era seu de novo, seu menino, seu pequeno Chay.

— Eu ainda estou aqui para você...

Antes dos primeiros raios de sol aparecerem, Kim deu um beijo na testa de Porchay e saiu da casa apagando qualquer sinal de que esteve ali. Ele não se importaria de ter que esperar o garoto estar pronto para ouvi-lo, ele só queria que Chay estivesse do lado dele de novo, não importa o tempo que isso levasse.

Tum... tumtum... tumtum...

De repente as batidas calmas e suaves que Porchay ouviu durante a noite toda se misturaram com o tilintar ensurdecedor do despertador debaixo de seu travesseiro e ele o desligou.

A dor de cabeça que ele sentia era insuportável e ele escondeu o rosto entre as mãos enquanto sentia os efeitos colaterais da bebida que tomou na noite passada.

— Espera!

Porchay havia acabado de lembrar do sonho da noite passada e virou lentamente para olhar o seu lado da cama. Como já era de se esperar, ela estava vazia.
Na cabeça do garoto tudo não passou de um sonho e ele não sabia se sentia-se aliviado ou mal por isso.

"Parecia tão real. Eu consegui ouvir tão claramente seu coração bater devagar, eu pude sentir seu calor, pude sentir seu cheiro. Isso tudo foi muito real, pena que não durou mais que alguns minutos."

Tudo estava tão nítido, tão claro, tão estampado em sua frente, mas ele não conseguiu diferenciar a realidade do sonho e permaneceu achando que tudo não passou de um sonho estranho.

Enquanto mirava o céu escuro e melancólico lá fora através das janelas de vidro, Chay forçava sua mente a se lembrar das coisas que fez na noite passada.
Quanto mais tentava lembrar, mais sua cabeça parecia que iria explodir de dor, então ele deixou por isso. Para Porchay, se ele não consegue lembrar, não vale a pena.

Naquele início de tarde Porchay tomou um dos remédios para dor de cabeça deixados por Kim, em cima da mesa de sua cozinha. Ele também se perguntava quando o tinha colocado ali, uma pena que ele não lembre de nada.

Dias de chuva o deixavam para baixo e o faziam sentir-se sozinho. Chay deitou no sofá e por longos minutos ficou vendo a chuva cair lá fora e ficar cada vez mais forte enquanto ouvia os trovões ecoarem no céu.

KimChay: Por Que Você Não Fica? Onde histórias criam vida. Descubra agora