Capítulo 17

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Depois de virar o rosto logo ouviu o disparo e o som da arma sendo jogada no chão.

Kim se aproximou de Porchay que o olhou com os olhos cheios de lágrimas e com o sangue escorrendo da testa.

— Me desculpa por isso...

— Por que você está aqui...?

— Eu não aguentaria mais ficar longe de você...

Chay olhava dentro dos olhos de Kim enquanto as feições do mesmo relaxavam, mas ele ainda era frio como sempre foi.

— Por que age como se você se importasse? Não foi o bastante para você?! Por que você faz isso comigo, Kim...?

Perguntou o garoto que agora chorava feito criança e Kim o abraçou. O rosto do garoto estava escondido em seu peito e sua camisa branca estava manchando de sangue.

Naquela madrugada Chay voltou a lembrar de tudo. De todos momentos, sorrisos, fotos, tudo!

— Eu não posso mais ficar assim, Kim...

Toneladas inteiras pareciam ser tiradas dos ombros dos garotos. Eles sentiam um alívio surpreendente e inexplicável. Há quanto tempo eles esperavam por isso... há quanto tempo eles queriam se abraçar desse jeito? Tudo isso era há muito tempo. Todas essas sensações...

Os braços de Kim em volta de Porchay o seguravam tão fortes quanto as mãos do garoto agarradas em sua camisa. Lágrimas escorriam de seus olhos cansados e tristes. Olhos que esperaram por muito tempo para ver um ao outro, sem rodeios, sem distância, sem medos.

— Me desculpa por aquilo. Me desculpa por sumir, me desculpa, Porchay. Me desculpa por tudo que eu fiz, se te fiz infeliz e nunca admiti que te amo, Chay... eu sempre amei você. Desde o início sempre foi você...

— Você tá aqui...

— Eu tô aqui, eu não quero mais ir embora, eu nunca quis...

— Não vai. Por favor, fica.

— Me deixa explicar, Chay. Eu peço isso.

— Shi... não me explica nada não, eu não quero mais ouvir. Você tá aqui...

— Eu não vou deixar você de novo...

Por minutos intermináveis aquele abraço casa pareceu durar horas. O silêncio não era ruim, ele era carregado de leveza e suavidade, carregado de paz e tranquilidade.

— Eu tentei ficar longe. Tentei manter distância e te dar o tempo que você precisava, mas eu não consegui.

— Não fala nada, deixa tudo assim...

— Eu vou te levar lá pra cima. Você vai tomar um banho enquanto eu limpo tudo aqui em baixo e procuro um curativo.

— Não me deixa sozinho de novo...

— Eu não vou.

Chay foi tomar banho assim como Kim havia dito e o mesmo verificou o andar de cima e preparou tudo para quando seu garoto saísse do banho pudesse descansar.
Kim limpou todo o andar de baixo enquanto Porchay ficou por longos minutos dentro do banheiro. A mesa de vidro não estava mais lá, nenhum sinal de coisa quebrada, nem da arma e muito menos do homem que foi morto ali. Kim se livrou dele com a ajuda da pessoa menos provável, Tankhun.

— Se você fizer alguma coisa com Chay, contra a vontade dele, eu mato você!

Khun falou sério e Kim sorriu de lado.

— Eu não sou o Kinn.

— Do que você está falando?

— Nada! Agora vai, não quero que ele te veja aqui, não hoje. Ele precisa descansar.

— Tá me expulsando?!

— Estou!

Eles riram e Tankhun foi embora junto de Pol. Depois de ter limpado tudo, Kim voltou para o quarto onde Chay estava sentado na cama depois de vestir uma roupa quente.

— Não vai comer nada?

— Eu não quero nada. Só quero dormir e esquecer de hoje...

— Mesmo se você quiser ficar sozinho, eu não vou deixar. Posso dormir no sofá, mas eu não vou deixar você ficar sozinho de novo.

— Não vai não... dorme aqui e... fica comigo.

Isso era tudo que Kim precisava ouvir. O garoto deitou e Kim se deitou ao seu lado, abraçando-o. Com um deja vú, Chay lembrou daquela noite em que estava bêbado e achava que tudo não passava de um mero sonho.

— Era você, não era? Aquele dia, não era um sonho, não foi?

Kim sorriu e cobriu o garoto com a coberta.

— Você acha que era eu?

— Não era?

— Vou deixar isso por sua conta, você decide se era real ou não.

Os dois ficaram ali em silêncio, abraçados, cansados... até um deles pegar no sono primeiro, mas nenhum queria ceder. Kim não queria dormir para proteger o garoto e Porchay não queria dormir por achar que tudo era irreal demais e a qualquer momento poderia acordar de mais um sonho.
Mas o cansaço do dia puxado foi tanto que ambos dormiram praticamente ao mesmo tempo.
Porchay deitado no peito de Kim com seu braço em torno da cintura do mais velho e o mais velho com a cabeça encosta na do mais novo.
Abraçados, quentes, cansados, mas ali.

O mundo poderia ser destruído naquela noite. Poderia cair o temporal que fosse, com ventos devastadores e chuvas pesadas, mas nada tiraria a paz que os garotos sentiam naquela madrugada.

"É você, Porchay. É você a razão de tudo para mim. Você é minha pessoa, minha zona segura, meu lugar."
"Se eu estiver tendo um dia ruim, basta falar com você que tudo parece ficar bem. Você é tudo de mais precioso e puro que eu tenho. Você é o amor da minha e pra minha vida. Você é o meu melhor lugar..."

Nada mais importa enquanto eles estiverem juntos, nada pode pará-los. Ninguém no mundo poderia separa-lós de novo, não havia mais ninguém no mundo além deles.

"Nada mais importa enquanto eu tiver você. Mundos inteiros podem vir contra mim, mas se eu ainda tiver você, eu posso lutar contra todos eles, e eu posso vencer."

Kim dormia ao lado do garoto que parecia ter esquecido tudo que viveu nos últimos meses. Todas as noites ruins, todos os dias de saudade, todos os choros escondidos, tudo... eles dormiam tranquilamente como se nunca tivessem saído do lado um do outro.

"Não tem outro lugar no mundo inteiro que eu queira ficar, além daqui..."

KimChay: Por Que Você Não Fica? Onde histórias criam vida. Descubra agora