Aquele com o berrador

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- FILHOS DA IMUNDICE! RALÉ! MESTIÇOS SANGRENTOS! TRAIDORES DO SANGUE! ESCÓRIA! MONTROS! ABANDONEM A CASA DE MEUS ANTEPASSADOS, FUJAM DO SEU DESTI-

- Cale a boca, sua velha carcomida – Harry falou, suavemente, agitando a varinha em um feitiço não verbal. As cortinas do quadro se fecharam e a bruxa se calou.

Eu sorri, tirando do bolso algumas garrafas, passei uma para Harry e destampei a minha com os dentes.

- Ainda não descobriu como tirar o quadro dessa bruxa horrorosa?

- Nem tentei – meu amigo suspirou e se deixou cair em uma poltrona puída. Nuvenzinha de poeira se levantaram das almofadas.

Eu ergui as sobrancelhas pra ele. Nem tentou?

Harry bebeu um longo gole de sua cerveja amanteigada e brincou com o couro que estava esfarrapando. Ele estava num humor como nos dias da caçada. Como nos dias do medalhão. Essa casa não fazia bem pra ele.

- Estava tentando arrumar o quarto de Sirius – ele disse, ainda brincando com o forro estofado – pensei em me mudar pra cá, não posso ficar na sua casa para sempre...

- Você pode, sabe que meus pais o consideram mais um, igual a todos nós – eu desviei os olhos dele. Não éramos bons nesse tipo de conversa, de sentimento e tudo mais.

- Eu sei, mas ainda assim, nós vamos entrar no treinamento, e depois...bom, faz parte de ficar adulto, ter sua casa e bem.... – ele bebeu de sua garrafa, parecia nervoso com algo – pensei que você poderia ficar com o quarto de Regulus.

Olhei para ele com os olhos grandes e fixos, tinha certeza de que se subisse mais minhas sobrancelhas, elas iriam parar na minha linha do cabelo.

- Ficar aqui, com você?

- Claro, mas só se você quiser. Eu sei que tem sua própria casa, além da Toca, mas Percy mesmo falou que ainda há refugiados lá...

Eu havia contado tudo para Harry sobre minha herança Prewett. Por mais que tenha ficado entusiasmado para vê-la, Percy, que não sabia que a casa era minha, achou que fosse de mamãe, disse que ainda tinha gente lá que simplesmente não tinha mais aonde ir depois da guerra. Eu não ia expulsar ninguém de lá, e a casa estava caindo aos pedaços, além de ser na maldita Escócia. Abri a boca para aceitar o convite e falar que me mudaria amanhã, mas lembrei do rosto de George, fitando o vazio hoje de manhã, e de mamãe, que caiu no choro enquanto cortava as cenouras ontem fazendo o jantar, e papai... ele pensava que enganava alguém, mas eu sabia que ele visitava o tumulo de Fred todos os dias.

- Seria brilhante, cara, mas talvez pudéssemos deixar isso para quando o treinamento acabasse. A gente pode se concentrar em limpar isso aqui.... – eu me sentei mais confortavelmente, colocando uma perna por cima do braço da poltrona e alcancei o bolso traseiro - quer? – ofereci um cigarro, ao mesmo tempo em que acendia o meu com um estalo de dedos. Ele franziu a testa.

- Desde quando você fuma?

Eu não respondi, simplesmente dei de ombros.

- Esse é um hábito horrível.

Concordei, balançando a cabeça. Era mesmo. Mas era tãaaao bom. Senti a fumaça passando pelos pulmões e minha cabeça ficou leve, leve.

– Remus fumava – eu disse, distraído – Sirius também.

- Hermione sabe desse seu novo hábito?

- Se Hermione soubesse, ela me faria engolir a carteira, com todos os cigarros acesos, então não, ela não sabe. Por favor, não conte a ela.

Sempre o tom de surpresaOnde histórias criam vida. Descubra agora