1. O 3F's: falida, ferrada e frustrada

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SELENA

O barulho da caneta riscando o papel era a única coisa que eu conseguia me concentrar. Observei o cara sentado na minha frente rabiscar alguma coisa com força e digitar em seu teclado, a expressão fechada. Mordi o cantinho da unha, nervosa, querendo descarregar a tensão de alguma forma.

O atendente me encarou, com pena, e eu nem precisei que ele falasse para adivinhar a resposta.

— Lamento, senhorita Gomez, seu empréstimo foi negado.

— Não tem nada que eu possa fazer?

— Não, sinto muito. Ainda está devendo muitas parcelas do ano anterior e não tem crédito o bastante para solicitar um novo. Olha, podemos encaminhá-la para o setor de negociação, mas não garanto que será um valor mais em conta. Não só o empréstimo está atrasado, como as mensalidades da faculdade...

No meio do falatório do atendente, meu cérebro desligou e eu só conseguia pensar em quão ferrada eu estava. Nenhum dos bancos que tentei dar entrada em um empréstimo aceitou minha solicitação e a resposta era sempre a mesma: quem vai dar dinheiro a uma pessoa que está devendo a até a alma? Se eu fosse eles, também não daria.

O desespero cresceu na minha garganta e eu pigarrei, desviando os olhos para o único par de sapatos bons que eu ainda tinha. Será que eles valiam alguma coisa? Uns 25 dólares pelo menos? Quase rio com o pensamento idiota. Precisaria de alguns milhares de pares para conseguir pagar minha dívida por inteiro.

— Entendeu, senhorita Gomez?

Assenti, segurando um suspiro.

— Sim, obrigada.

Estendi a mão para pegar os papéis de volta, mas o atendente olhou ao redor e se inclinou, falando mais baixo:

— Eu não deveria falar isso, mas sou estudante também. É melhor ligar para sua universidade e conferir se tudo está certo. Para não ter uma surpresa no final do semestre, uma que vai impedir sua formatura.

— O quê?

Quase grito, em choque. Ninguém me falou disso antes.

— Não somos autorizados a falar sobre isso, mas por favor, confirme que sua mensalidade está em dias.

— Mas isso... Eles me disseram que estava tudo certo, que eu me formaria sem problemas. Mesmo que eu estivesse com as parcelas atrasadas, eu pegaria o diploma, eu não não entendi...

O atendente me encara com seriedade e vira o monitor do seu computador para mim. Engulo em seco ao ver o valor que me assombra até mesmo durante o dia.

— Suas dívidas são altas, senhorita Gomez. É tudo o que posso dizer. Por favor, entre em contato com o financeiro da sua faculdade.

Minhas mãos tremem quando eu seguro meus documentos, me levanto e saio quase correndo do banco.

Nova York ainda sofre com o calor do verão, mas estou suando frio com a possibilidade de não me formar. A única coisa certa da minha vida, a carreira dos meus sonhos e a coisa que eu mais me esforcei durante anos, poderia ser destruída do dia para a noite. Como isso poderia estar acontecendo?

Faço uma ligação, mordendo o lábio inferior com força. Por favor, que tudo não seja somente um engano, por favor que isso não esteja acontecendo, por favor, por favor...

— Alô, senhorita Gomez?

— Ah, o-oi senhora Hartford. Eu queria pedir uma informação sobre meu curso.

— Imaginei que me ligaria, querida.

A voz tensa do outro lado da linha me faz fechar os olhos por alguns segundos.

Amor por ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora