- 𝑔𝑎𝑚𝑒

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ONDE VOCÊS BRINCAM COM UM JOGO.

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Diário de intercâmbio #48
5:30 PM.

Pego a roleta que Mirelle havia me dado e sento-me novamente no chão da sala. O garoto está com suas costas encostada no sofá, me observa quieto.

— Tem certeza que isso vai dar certo? — questiona o menino e assinto — Você que sabe, mi hermosa.

— Eu sei mesmo. Além que, Mirelle fez isso com o antigo namorado dela, e falou que ficou tudo bem entre eles.

— É... O antigo namorado dela — olho o menino — Antigo... Namorado dela. Antigo — o mesmo continua repetindo a palavra, dando um destaque a mais nela. Ele parece refletir sobre — ...Tudo bem.

Respiro fundo e pego a roleta que estava ali. Havia dizendo como iríamos perguntar, por exemplo, se a pergunta seria pessoal ou íntima. Graças a Deus, a pergunta que o menino deveria fazer não era tão pessoal assim.

— Não faço a mínima ideia... Bom, gosta de frutas? —pergunta e acabo rindo.

— Meu Deus... Sim, mas não as daqui — falo ao menino, rindo junto com ele.

O garoto gira a roleta, já que dessa vez sou eu que tenho que perguntar alguma coisa. Caiu que tenho que fazer uma pergunta bem íntima para o menino. Não queria e não fazia ideia do que perguntar a ele. Por isso, pego meu celular e pesquiso.

— Uau... Essa parece ser legal... Quem foi o seu primeiro beijo?

— Sério..? Ah, não! Não vou responder não! — fala tímido. Miguel acaba rindo da pergunta, mas não por ser engraçada, mas por estar com vergonha de falar.

— Fala, eu não vou te julgar.

— Vai sim, você ama isso!

Queria desmentir ele, dizer que eu sou a pessoa mais iluminada desse mundo, mas ele está certo. Eu gosto de fazer isso, claro, apenas com aqueles que merecem e quando é justo. Porém, eu não faria isso com o menino.

— Vou não! Eu te prometo! — falo confiante. O menino respira e desvia o olhar, falando algo que não consigo ouvir — Fala de novo, não escutei nada.

— Nossa...! Foi você...

Encaro surpresa o menino que continua a encarar o chão. Aos poucos, ele volta o olhar para mim e sorri brevemente.

— Aí... Meu... Deus... Que lindo, meu Deus, que fofo! — digo; não, melhor, grito.

— Tipo, o de verdade, foi com você. Mas o meu primeiro mesmo, foi com o meu skate.

Todo brilho que existia no meu rosto, aposto que sumiu naquele exato momento, para dar lugar a dúvida e a extrema vontade de rir. Peço ao menino para explicar a história e ele assim faz.

— Olha, teve um dia que eu estava andando de skate na casa da minha avó. Lá tem uma ladeira, sabe? Então, eu desci lá, mas acabei caindo de cara com o skate, antes de sair embolando. Minha mãe viu isso e disse: Olha, você nunca mais vai poder beijar uma menina, porque agora só vai poder beijar skate... E eu acreditei.

Fico quieta, apenas observando o menino encarar o chão, enquanto o seu rosto toma um tom ruborizado. Respiro fundo, não sei quantas vezes, apenas para conter a minha vontade de rir. Acho que estou disfarçando bem.

— Pode rir — fala. Com isso, todo o meu esforço durante a história foi jogado no lixo, já que acabei rindo loucamente da história do menino e como ele era quando menor.

— Miguel, amor, o que você achava que ia acontecer? — pergunto ao mesmo falhando em conter as minhas risadas.

— Eu não sei! Achava que... Não sei, ia virar um sapo! Eu não faço ideia! Apenas acreditava — o garoto diz e continuo a ri — Amor... Para... — pede.

— Eu não consigo... Caraca, 'tá saindo lágrimas dos meus olhos, Miguel! — digo surpresa — Aí, não sei se consigo mais... Nossa, eu não estou bem.

— Imagina se estivesse, estaria rindo em todos os cantos da casa — fala.

— Grosso — reclamo — Vamos continuar.

Giro a roleta novamente e dessa vez caí em uma pergunta íntima. Miguel, olha-me como se tivesse com vontade perguntar a mesma coisa que eu lhe perguntei antes, mas desfaz assim que começa rir.

— Deixe-me ver... Você já bebeu?

— Isso é pergunta íntima? — questiono e ele assenti — Sim.

O garoto encara-me assustado e logo percebo que ele entendeu totalmente errado.

— Não...! Deixe-me explicar. Quando somos mais novos, no Brasil, em algumas famílias há uma tradição de ano novo, que é dar um pouco de champagne para as crianças. Quase nada, apenas por celebração — explico e ele parece relaxar.

— Você quase me deu uma imagem ruim dia adolescentes do Brasil.

Rimos do comentário do menino e continuamos o jogo. Caiu algumas perguntas íntimas, mas não perguntamos nada demais um para o outro. Miguel, ele tem muitas histórias engraçadas, quase todas envolve sua mãe colocando alguma ideia louca em sua cabeça inocente de criança.

━━━━━━ END ━━━━━━

𝐈𝐍𝐓𝐄𝐑𝐂𝐀𝐌𝐁𝐈𝐒𝐓𝐀 | ᵐⁱᵍᵘᵉˡ ᶜᵃᶻᵃʳᵉᶻ ᵐᵒʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora