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ONDE VOCÊS TENTARAM FAZER UM BOLO

━━━━━ S/N ━━━━━

Diário de intercâmbio #75
3:50 PM.

Tento não rir do cabelo do garoto que está com farinha de trigo. Miguel parece estar desesperado para limpar e quanto mais tenta tirar a farinha do seu cabelo, mais está sujando a cozinha. Tornando tudo um caos.

— S/n, era só para ser um bolo — diz — Como isso aconteceu? — pergunta incrédulo.

— Eu... Eu... Miguel, minha barriga tá doendo... Aí... Minha bochecha agora que está doendo... Aí, eu vou morrer!

Tento procurar apoio no balcão que tinha ali, mas acabo escorregando por causa da farinha caída. O garoto foi me socorrer, apesar que não estava doendo nada e eu estava super bem.

— Você tá parecendo as avós de filmes, com cabelo todo branco! — comento rindo e Miguel encara-me sério.

— Muito engraçado, não é?

— É! — respondo sem pensar e depois percebo o que acabei de dizer — Quer dizer, não... Nem um pouco, imagina... Coitadinho do meu amor — falo.

Observo o moreno revirar os olhos e volta a sua atenção na receita que queria fazer, mesmo que não tivesse mais como fazer a mesma. Levanto-me do chão e me aproximo do ex-moreno.

— Não dá para substituir a farinha de trigo não? — pergunta.

— Não sei... Será que dá? — falo — Que tal... Farinha normal — digo e ele olha-me estranho — Questione meus métodos, mas não os meus resultados.

— Questiono sim! Porque não vai sair resultado nenhum! — exclama e prendo o riso.

— Quer tentar lavar a farinha que caiu? — pergunto e ele me encara estranho — Eu estou brincando! — falo e ele assenti.

Eu nunca pensei que seria um grande caos tentar fazer um simples bolo; achei que poderia ser a coisa mais fácil do mundo, ainda mais quando se tem um livro de receitas, mas estava completamente enganada. Tento recuperar o ar que perdi enquanto ria loucamente por causa do menino e volto meu foco a receita.

— Sobrou pelo menos um pouco? — pergunto e ele assenti — Vamos fazer com isso aí.

— Amor...

— Seja positivo! — digo — Ok, agora temos que colocar o resto de tudo e bater e depois colocar mais negócio aqui e...

Olho para Miguel e ele não está fazendo nada, apenas olhando para mim e o chão sujo. Perguntei o motivo dele não estar fazendo o que eu estou dizendo.

— Ah, claro! Eu vou entender o que "o resto" e o "negócio ali" — diz.

Tinha me esquecido que mais ninguém entendia a língua que inventei em minha cabeça. Quando estou sozinha, para encurtar as coisas, eu chamo de "resto" ou *negócio " por simplesmente ser mais fácil e rápido.

Digo o que ele tem que fazer e ele faz, um pouco relutante, mas faz. Muitas vezes a sua falta de fé me impressiona, fora que tive que lidar com o medo do menino, não da receita não dar certo, mas sim, do medo genuíno que ele nutre de mim na cozinha.

— Nossa, tem um pouco de farinha na sua massa — brinco — Eu estou começando a duvidar disso

— Vamos até o fim agora... Pronto — fala quando colocamos o bolo no forno — O que fazemos agora?

— Esperamos... Em oração.

[...]

Ouço o barulhinho que o forno faz quando algo já está pronto, olho para Miguel que está deitado no sofá, dormindo. Eu não o julgo, pois estaria também caso meu vício no celular deixasse, sinceramente, eu não entendo como ele simplesmente larga o celular em qualquer canto e vai fazer outra coisa mais produtiva.

Levanto-me e balanço o moreno levemente, dizendo que é para ele ir dormir na minha cama, ele não protestou, está cansado demais para isso.

— Tudo bem, vamos ver — digo. Tiro a forma de dentro do forno e encaro a massa — Nossa... É uma... Gelatina? — questiono-me.

Parecia um suflê, mas eu tenho certeza que não era. Pego um garfo e tiro um pequeno pedaço, não queria comer, mas queria saber se estava bom, então, tenho que arrumar as minhas cobaias.

— Alie! Abby! — chamo os meninos que estão do lado de fora brincando — Venham cá! A mamãe fez suflê para vocês! — minto.

— Ebaaa! Suflê! — diz Abby vindo correndo enquanto Alie a acompanha — Cadê!? — pergunta.

Estou com pena de Abby, ela está tão animada e eu não queria fazer isso com ela. Olho para Alie que parece pouco se importar com aquilo.

Antes de poder dizer que era mentira e compensar eles depois; a loira pega o garfo da minha mão e enfia na forma, colocando na boca todo o bolo que tinha pegado, mesmo estando quente.

A menininha fica segundos sem dizer nada e depois do seu mistério esquisito; a mesma come mais um pedaço e convida o loiro para comer, que aceita de bom grado. A mesma perguntou se eu queria, mas apenas neguei e subi correndo para meu quarto.

— Miguel... Miguel! — chamo o moreno que dorme encolhido no cobertor — Amor, por favor! Eu acho que fiz besteira! — digo.

— Tudo bem hermosa... — fala sem nem saber do que se trata. Respiro fundo e com toda a consciência que tenho dou um tapa em seu braço — Aí! — desperta.

— Eu dei aquele bolo para meus irmãos, porém eu não sei se está bom e eles disseram que está, mas a massa está crua na minha opinião e eles podem pegar salmonela!

Miguel me olha, parece tentar processar tudo que lhe disse até o momento; ele fica um tempo quieto e calmo, até que do nada ele se levanta e corre para a sala; acho que ele percebeu a gravidade da situação.

Fico esperando o moreno que aparece minutos depois dizendo que estava tudo bem e que ele demorou mais por causa da faxina que teve que fazer. Aparentemente, Alie sabe quando está meramente comestível, ao contrário da mais nova.

— Amor... Nunca mais vamos cozinhar — propõe o mesmo e concordo — ... Posso voltar a dormir? — pegunta.

O mesmo se deita ao meu lado e cobre nós dois com o cobertor, sinto sua mão fazer carinha em meu cabelo enquanto estou deitada próximo ao seu rosto, aquilo era tão calmo, tão bom.

━━━━━ END ━━━━━

šˆšš“š„š‘š‚š€šŒššˆš’š“š€ | įµā±įµįµ˜įµ‰Ė” į¶œįµƒį¶»įµƒŹ³įµ‰į¶» įµįµ’Ź³įµƒOnde histĆ³rias criam vida. Descubra agora