O bardo

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Kakashi Hatake.

Novigrad, 1274.

“Para um bruxo, a única certeza é a morte e até mesmo ela é uma companheira ardilosa.”

Kakashi não confia em Karui, nem acredita que está indo apenas recuperar um instrumento bobo, mas ele é um bruxo e os bruxos seguem à risca o que prometem fazer, especialmente quando envolve um contrato. Bruxos não possuem, ou não deveriam possuir, lados, eles servem a quem está pagando e agem em prol do contratante até o contrato ser concluído. Moralidade, regras, alianças e vontades não podem influenciar no serviço, eles são mutantes, aberrações cuja vida foi roubada e transformada em algo além, e servir humanos normais é o mais perto possível de experimentar a humanidade.

Mesmo sem confiar no bardo, ele deixa que ele fique para trás, caminhando como se o tempo lhe pertencesse, porque prefere analisar sozinho a estrutura de paredes finas do sobrado.

Agora Kakashi e Karui estão andando em um corredor que é estreito demais para o homem maior. As paredes são próximas uma da outra e os ombros dele se esfregam na madeira fina, tirando lascas do material ressecado, conforme ele anda. As tochas espalhadas pelo corredor foram acesas pelo bruxo apenas para permitir que o bardo enxergasse com o mesmo nível de detalhamento que ele e elas trazem ao ambiente uma cor quente.

Até então, a magia só existe para o medalhão. O bruxo já abriu diversas portas em busca do que está oferecendo a interferência mágica, mas todos os cômodos verificados se mostraram incorrigivelmente comuns e vazios. A última pessoa que morou na casa fez questão de tirar todos os resquícios de existência quando se mudou e a pouca mobília que ele encontrou é barata, antiga e não revelou nada.

Essa ausência de resquícios somada com a aura de magia deixa a mente, e o corpo, de Kakashi em alerta. Uma pessoa honesta não precisaria limpar cada migalha da sua existência quando se vai e a facilidade que ele está tendo em explorar o ambiente parece oportunista demais. É como se quisessem ele vasculhasse tudo e terminasse frustrado por isso.

— Você está entediado? — Kakashi pergunta e olha por cima do ombro para o bardo que está a uma distância segura. Honestamente, ele não esperava que o bardo fosse levar tão a sério o seu pedido para manter distância e ficar quieto.

— Um pouco, todos os cômodos que visitamos são igualmente chatos. Você não vai encontrar nada passeando por aqui.

— Ah, é? — Os cantos dos lábios de Kakashi sobem para formar um sorriso contido. — E qual a sua sugestão? Cantar para as paredes até elas falarem para onde devemos ir?

— Na verdade, a minha sugestão envolve irmos para o porão.

— Essa casa tem um porão?

Dessa vez, é Karui quem sorri e o sorriso dele é ao mesmo tempo mais bonito e mais cruel que o do bruxo.

— Você saberia disso se não tivesse me colocado para trás! Eu já visitei essa casa. Nós devemos ir até o porão, ao menos que eu não seja capaz de andar até lá.

— Você está irritado… — As sobrancelhas do bruxo se aproximam e um vinco surge entre elas. — Por que eu coloquei você para trás?

— Parabéns! Agora você tem o mesmo nível de inteligência que um bebê — o bardo cospe as palavras, mas Kakashi não reage e essa falta de reação o faz suspirar e revirar os olhos. — Claro que estou. Vim com você, não vejo um motivo para ser colocado para fora. Não fui útil até agora?

— Sabe usar magia?

— Bem que eu queria.

— Sabe socar?

A Canção do Lobo | kakairuOnde histórias criam vida. Descubra agora