Moedas e seu valor

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Kakashi Hatake.

Região de Centrobosque, 1274

“Era uma fera enjaulada até experimentar a liberdade. A liberdade o assusta e ele a ama.”

A meia-lua no céu se mostra insuficiente para iluminar o ambiente. Ao contrário do bosque próximo, a mata aqui não parece gostar de viver, os arbustos são espinhentos, as árvores altas, finas e com galhos compridos que se projetam por metros e a grama é alta o suficiente para cobrir as botas. Kakashi tomou à frente desde o início e são os passos dele que marcam a trilha que está sendo seguida pelo feiticeiro, se fosse o contrário provavelmente as coisas estariam em um ritmo muito mais lento. Não tem vento correndo e nem sons de animais por perto, é como se tudo estivesse reagindo apenas a presença deles conforme seguem o percurso até o objetivo.

O brilho prateado da lua tem um efeito particular no corpo do bruxo, graças a ele sua pele parece mais pálida e seus fios grisalhos, tanto o cabelo quanto a barba, parecem cinzentos. A sua armadura escura está limpa e bem apertada, as espadas gêmeas, cujas lâminas foram afiadas horas atrás, estão nas bainhas em suas costas e os bolsos estão carregados com poções e outras coisas que podem vir a ser úteis.

No ponto em que eles estão já é possível ver o terreno da viúva, a cerca de tijolos que o limitava tombou em vários cantos e natureza adentrou através dela, trepadeiras grossas correm pelos muros e suas raízes abriram brechas entre os tijolos, e esse contraste entre natureza e humanidade se estende para as outras estruturas abandonadas. Dentro do que deveria ser uma área murada há um celeiro alto, duas casas, uma maior, provavelmente da família dona do terreno e uma menor que deveria ser para os funcionários, um estábulo e um poço, e tudo isso foi maltratado o suficiente pelo tempo. O estado das coisas garantem que faz anos desde que um humano esteve dentro da propriedade que a viúva quer recuperar.

— Tem monstros aqui — Kakashi anuncia baixo. Ele não os vê, seus olhos amarelados só enxergam o espaço depredado pela natureza, mas seu corpo já o sentiu, são vibrações muito específicas para pertencerem a qualquer outra coisa. — Alguns, devem ter formado um ninho. Não estavam aqui na última visita…

— Preciso me preocupar?

Por cima do ombro, Kakashi observa o feiticeiro. As tranças retornaram no lado direito do cabelo dele e isso somado a cicatriz horizontal na ponta do nariz lhe deixa com um ar mais selvagem, algo que é digno de alguém que é capaz de cuspir fogo com as mãos e controlar monstros como se fossem marionetes. Nas roupas, é o de sempre, as luvas felpudas, a jaqueta marrom com capuz abaixado, a camisa longa e branca, o colete vinho com rosas pretas e fechado por fivelas, um par de cintos no quadril e a calça que segue até as botas de cano alto. O pingente de golfinho voltou a aparecer sobre as vestes, a obsidiana escura acaba absorvendo para si parte do brilho da lua e o cordão fino circula o pescoço.

— Nunca precisa, eu consigo lidar com monstros.

— Arrogante… — Iruka diz e, brevemente, um sorriso surge em seus lábios cheios. — Espero que seja verdade, o seu histórico de feitos como bruxo é bem duvidoso e não quero ter que resolver as coisas no improviso.

— Não gosta de improvisos?

— Definitivamente não.

— A vida de um bruxo é sobre improvisos.

— Por isso vocês estão sempre em menor número.

Os olhos do bruxo voltam a observar o caminho. O seu maior objetivo está cada vez mais perto e isso deveria lhe deixar mais empolgado, mas concluir o contrato significa também que o tempo ao lado de Iruka está perto de ter um fim. Se por um lado é irritante ter a companhia de alguém, por outro vem sendo uma experiência única, algo que dificilmente vai acontecer novamente. Não existe um motivo para ele e o feiticeiro continuarem juntos depois disso, um é uma aberração, o outro um manipulador do caos e o mundo sabe muito bem qual o lugar de cada.

A Canção do Lobo | kakairuOnde histórias criam vida. Descubra agora