Praça do Hierarca

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Kakashi Hatake.

Novigrad, 1274.

“Vagando por respostas, o bruxo encontrou problemas acompanhados de uma bunda bonita.”

Kakashi odiou as roupas escolhidas pelo anão, mas as vestiu mesmo assim. O tronco dele está coberto por duas roupas; uma camisa interna, branca e lisa, com mangas que se estendem até suas mãos e uma barra que vai até a altura do seu pau, e um jaquetão preto, apertado e fechado, com mangas que acabam no pulso e uma barra que para acima do seu umbigo. Nos ombros do jaquetão, há listras brancas e pretas, e botões perolados estão enfileirados no meio dele.

A bainha de correias marrons está presa no quadril dele e nas costas ele tem o par de espadas que agora estão limpas e afiadas. As pernas compridas do bruxo estão vestidas com uma calça cinza e os pés dele estão calçados com um par de botas escuras que vão até suas panturrilhas fortes.

Ele está se encarando no espelho que reflete a sua imagem limpa e as chamas de um archote com a esperança de que vai se achar menos patético uma hora ou outra. Os seus cabelos grisalhos estão penteados para trás e a barba em seu rosto foi aparada, tudo a mando do bardo e seus caprichos. A última vez que ele esteve tão bem vestido e limpo foi quando um contrato acabou lhe levando até um baile dado por temerianos; tudo acabou com um banho de sangue, como quase todo contrato de bruxo, mas a comida, música e companhia foram memoráveis. 

— Estou parecendo um homem da cidade — Kakashi reclama alto e seus dedos tentam inutilmente afrouxar o colarinho de duas camadas que está apertando o seu pescoço. — Vou colocar minha armadura, não sou uma puta para usar o que mandam.

— Pode não ser uma puta, mas nós não queremos chamar atenção e uma armadura reluzente faz isso facilmente — o anão, do lado de fora, justifica.

Um suspiro é dado pelo bruxo e ele dá as costas para o espelho ainda se sentindo patético. Os olhos dele vão para a única janela do quarto que está mostrando a lua redonda. Novigrad é uma cidade barulhenta, populosa e suja, mas a lua é igual a de qualquer outro lugar.

Existe um espírito indomável dentro do bruxo, algo que odeia ficar entre paredes finas e vestir roupas delicadas, e esse espírito está gritando nos ouvidos dele súplicas para ser libertado, mas Kakashi tem um plano, e para esse plano ser executado, ele precisa continuar agindo como um animal domado. Depois de conseguir o que quer, ele poderá seguir os próprios instintos e tomar as rédeas da situação para encontrar as respostas que precisa.

— Bruxo, temos que ir.

O aviso de Risinho é claro e o bruxo simplesmente não quer demorar mais dentro do quarto escuro e pouco arejado. Ele caminha até a porta e a abre silenciosamente. O corredor escuro aparece mais uma vez diante dos seus olhos e o anão está no meio das sombras, em pé e com um rosto entediado.

Eles se encaram com um costume adquirido graças aos últimos encontros e um esboço de incômodo surge nas feições judiadas do anão.

— Você vai usar as espadas?

— Não saio sem elas — o bruxo responde em um tom que não permite objeções.

— O bardo não vai gostar.

O bruxo grisalho dá um passo e entra de vez na escuridão do corredor. Ele fecha a porta do quarto sem virar o corpo.

— Foda-se o bardo. Ou eu levo a porra das minhas espadas ou eu não vou.

—- E o que vai garantir que você não vai fazer alguma gracinha?

— Nada — Kakashi diz. — Da mesma forma que nada vai garantir para você que eu não vou enfiar minha espada no seu cu dentro desse corredor.

A Canção do Lobo | kakairuOnde histórias criam vida. Descubra agora