Quente como o inferno

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Kakashi Hatake.

Novigrad, 1274.

“O bruxo, o bardo e o feiticeiro"

Kakashi confere o corte na palma da mão esquerda e não se surpreende quando o vê rosado, quase curado. Ser um bruxo carrega inúmeras desvantagens, porém o metabolismo sobreumano é algo que sempre ameniza a maior parte dos problemas.

Ainda tonto, ele para os lados, o que lhe mostra exatamente o mesmo porão de antes e depois encara Karui e Iruka que estão lado a lado como se fossem gêmeos. As semelhanças entre os dois homens vão além da capa, a estatura deles é idêntica, tanto que estão com os ombros se tocando.

A cabeça do bruxo ainda está zunindo e isso é estranho. Os sentidos de um bruxo funcionam diante das mais variadas situações, eles são criados e treinados para isso, então não contar com eles é a mesma coisa que estar desarmado.

— Então… — Kakashi diz e as palavras arranham a garganta dele. — Se eu entendi bem, vocês dois se conhecem... — Ele observa Karui e depois Iruka. — E tudo foi um plano do bardo para que eu ajudasse a libertar você, feiticeiro.

— Me desculpe por ter mentido — Karui murmura. — Mas era o jeito mais seguro de recuperar as coisas…

— E — Iruka enfim se pronuncia e a voz dele facilmente se destaca. Ela é mais melodiosa que a do bardo e carrega um sotaque muito diferente do grosseiro do Norte. — Nós vamos agradecer você propriamente, sei o quanto os serviços de um bruxo são valiosos.

O rosto coberto do feiticeiro se vira na direção do bardo e eles sussurram algo que Kakashi entenderia se os seus ouvidos não estivessem dormentes. A conversa dura o suficiente para deixar Kakashi desconfiado e no fim os dois homens voltam a encarar o bruxo que sequer se deu o trabalho de afastar as costas da estante que foi quebrada durante a confusão.

— Estou ciente das coisas que Karui lhe prometeu — o feiticeiro entoa e o tom dele não entrega nada dos sentimentos dele sobre isso. — E é claro que eu vou colaborar com suas recompensas. Um bruxo foi o responsável por me tirar das garras de um elfo... isso é grande!

As mãos de Iruka vão para o capuz preto e ele o coloca para trás. Kakashi levanta as sobrancelhas quando o mesmo rosto que viu desenhado horas atrás surge. O artista que rabiscou o desenho se esforçou, mas ele não conseguiu representar nem metade da real beleza do feiticeiro e essa contratação faz o estômago do bruxo queimar.

O feiticeiro sorri e dentes brancos e alinhados aparecem. A cicatriz que corre pela ponte do nariz dele poderia ser uma ranhura na imagem perfeita, porém até mesmo ela parece ter sido feita com capricho na pele oliva.

Kakashi pisca os olhos e a única conclusão em seus pensamentos é que Iruka é cruelmente bonito, tudo nele é perfeito, alinhado, moldado e atraente. Sendo algo natural ou não, ninguém reclamaria de ter a presença dele por perto.

— Gosta do que vê?

— Gosto.

— Pensei que seu tipo fosse outro. — A acidez no tom do bardo faz Kakashi desviar a atnção para ele. O bardo é bonito, mas a beleza dele não enche os olhos como a de Iruka; Karui é um homem, Iruka mais parece algo além. — Algo mais loiro.

— Gosto também.

— Ora, não é hora de gracejos... — a voz de Iruka ressoa pelo cômodo e, novamente, os olhos de Kakashi se dedicam a admirar a beleza irreal dele. — O bruxo deve querer saber sobre o que aconteceu aqui ou sobre o contrato que o trouxe até Novigrad. Não é, bruxo? Explique suas prioridades.

A Canção do Lobo | kakairuOnde histórias criam vida. Descubra agora