O contrato de Mihael

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Kakashi Hatake.

Velen, 1274.

“Monstros, sexo, mentiras, amor e sangue, são essas as coisas na canção do lobo.”

Iruka pisa em um galho seco e o som dele se partindo o assusta. Kakashi sopra um riso e balança a cabeça em negação, de todos os acompanhantes que ele já em contratos, Iruka é, de longe, o mais engraçado deles. Se o bruxo estivesse sozinho, a caminhada já teria terminado, mas com a companhia do feiticeiro os metros parecem maiores e mais cansativos.

A noite está cruelmente gelada e a brisa fria é tão frequente que o som das folhas balançando já virou costume. As árvores altas não conseguem impedir que o brilho prateado da lua ilumine o caminho e esse tom prata deixa a pele pálida de Kakashi mais morta e a pele marrom de Iruka mais sombria. Pedras, troncos caídos, folhas e galhos velhos estão espalhados pelo caminho irregular enfiado entre árvores que vai acabar no rio uma hora ou outra.

Essa floresta não parece perigosa como a anterior, até esse ponto nenhum animal atravessou os limites dos sentidos do bruxo e ele não viu nada que parecesse suspeito entre as sombras. Infelizmente, essa falta de perigo aparente não o deixa mais tranquilo, uma coisa que os anos lhe ensinaram é que as piores situações acontecem justamente quando se pensa que está seguro. A morte é uma caçadora implacável e ela vive esperando brechas, é por esse motivo que guerreiros não são mortos quando estão armados e esperando um confronto, eles morrem quando estão relaxados, bebendo cerveja e rindo com os amigos.

— Você acha mesmo que eu vou tropeçar em uma pedra e morrer? — Iruka indaga firme e encara o bruxo. — Ou que um monstro gigante vai sair do meio da floresta e vai matar nós dois? Eu confio mais nas suas habilidades do que você nas minhas, aparentemente.

— Pare de ler meus pensamentos — Kakashi murmura.

— Fale algo então, está tudo tão quieto…

Kakashi suspira e as peças metálicas da sua armadura fazem barulho. Ele preferia a época que era ignorante e não sabia que seu companheiro ardiloso consegue ler mentes e se diverte muito fazendo isso, agora, além de ter que medir as próprias palavras, precisa podar os próprios pensamentos.

— Você prometeu que ia ficar quieto.

— Nem você acreditou nisso…

— É, tem razão — Kakashi diz indiferente. — Então… Mihael disse que você não é daqui. Kakashi estar curioso para saber de onde homem esperto é…

— Para de falar como o Mihael! — O olhar sério do feiticeiro e o sorriso nos lábios dele não combinam. — Eu não sou daqui do Norte, venho do Sul também. Não é um reino cheio de lendas, então não adianta falar dele para você.

— Como você veio parar aqui?

— Eu sempre falo muito mais do que você.

— Aham. Vamos continuar assim, fale mais.

— Depois que completei meus estudos, comecei a servir a um rei no Sul. Era um serviço tranquilo, o rei escutava tudo o que dizia e me seguia como um cão encoleirado, o reino prosperou bastante comigo, mas eu queria mais…

Kakashi deixa de prestar atenção nas palavras do feiticeiro quando um vento balança os fios dele e joga para o ar o cheiro forte do seu perfume. O nariz dele se deleita com o cheiro e os olhos com a visão.

— Bruxo?

O bruxo pisca os olhos. — Me distraí — ele diz —, pode continuar.

— Minha ambição me fez viajar em busca de conhecimento e eu acabei vindo parar aqui, no Norte, e foi uma surpresa enorme quando descobri que Novigrad não era mais a terra da liberdade que eu li sobre nos livros.

A Canção do Lobo | kakairuOnde histórias criam vida. Descubra agora