Calor

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Kakashi Hatake.

Vilarejo em Velen, 1274.

“Há monstros de todo tipo e os piores dentre eles são os humanos”

A pele de Kakashi ainda está quente quando ele entra no quarto. A porta fica semiaberta e as pegadas molhadas do bruxo marcam o piso de madeira conforme ele se move na direção da cama de casal, a única do quarto. Os fios grisalhos dele estão ensopados e penteados para trás, os arranhões adquiridos no combate, espalhados pelo seu rosto e braços, estão rosados e a única coisa que sobrou cobrindo seu corpo é uma calça cinzenta de linho que lhe cabe muito bem.

Iruka está sentado em frente à escrivaninha e o olhar dele está fixo no espelho empoeirado como se algo muito impressionante estivesse refletido nele. Contrariando as próprias ordens, Iruka foi o primeiro a tomar um banho e ele precisou de longos minutos para tirar toda a sujeira do dia, e depois disso ele se dedicou a observar a própria aparência.

O quarto onde eles estão é simples, o que fez Iruka reclamar bastante quando descobriu. A cama é pequena e a cabeceira dela encosta na parede cheia de arranhões. Ao lado dela há um criado-mudo com uma vela acesa quase no fim sobre ele. Um tapete surrado está no pé da cama e o desenho da tapeçaria está oculto graças às marcas das pegadas dos ocupantes anteriores do quarto.

As paredes são lisas, uma única janela existe e ela é coberta por uma cortina fina cheia de rasgos. A cômoda, que está ao lado da porta, é baixa e tem tanto as roupas sujas do bruxo quanto as do feiticeiro em cima dela.

— Não estou mais fedendo — Kakashi anuncia e se senta na cama que range com seu peso.  — Nem sujo, nem qualquer porra que você possa reclamar.

Demora um pouco, mas o feiticeiro esquece do próprio reflexo e vira o rosto na direção do bruxo que parece um cão molhado. Ele sorri brevemente e suspira baixo, uma expressão um tanto dramática para algo tão casual. Kakashi observa mais uma vez o que Iruka está vestindo, o feiticeiro escolheu um pijama bege de seda, um tecido muito nobre, para usar durante a noite e a roupa leve e solta combina muito com seu corpo esguio.

— Ótimo. Quem sabe agora não seja possível confundir você com os animais do estábulo.

— E o corte?

— Dolorido, mas limpo e coberto. Amanhã deve estar bom.

Kakashi morde o interior macio da própria bochecha e respira fundo. Ele sabe que precisa dizer algo sobre o incidente da flecha, camaradagem entre companheiros de combate é algo que faz parte da sua religião, contudo o orgulho é uma das poucas coisas que bruxos e homens compartilham.

— Foi mal pela flecha — o bruxo fala baixo. — E por ter arrancado ela daquele jeito.

— Eu deveria ter desviado…

— Deveria mesmo, eles não eram tão bons.

O comentário parece despertar algo dentro do feiticeiro. Iruka endurece o rosto, o que faz as sobrancelhas finas se aproximarem, e suas mãos apertam o tecido que cobre os joelhos.

— Eu sou um feiticeiro, não um bruxo! O meu conhecimento tem outras utilidades, não me peça para usar uma espada ou sair saltitando por aí para desviar de coisas. Esse é o papel de gente como você.

Honestamente, o bruxo conhece muito pouco sobre feiticeiros no geral. Feiticeiros não são lutadores, porém existem várias histórias sobre guerras tendo viradas improváveis graças a um mero feitiço bem usado. Eles se dizem exploradores, amantes do conhecimento e do mundo, mas vivem o tempo todo em busca de ambições próprias e usando métodos que não agradam ninguém além deles mesmos.

A Canção do Lobo | kakairuOnde histórias criam vida. Descubra agora