Capítulo 5

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P.O.V Mickey Milkovich

Surpreendentemente, a experiência deu certo e Daisy começou a acertar a rotina que teríamos daqui em diante. Eu estava aprendendo o necessário para começar a tatuar e por pelo menos duas vezes por semana, eu estava trabalhando de Barman no turno da noite. No início, eu realmente achava que não ia pegar o jeito, mas depois de perceber que eu realmente poderia xingar os clientes como eu quisesse desde que não cruzasse a linha e começasse a bater neles. E o melhor de tudo é que os idiotas ainda me davam gorjeta!

Daisy realmente estava certa, uma das coisas mais satisfatórias na vida era poder arrancar esse dinheiro fácil de gente otária.

Era estranho, mas eu tinha uma rotina de trabalho, gorjeta e um salário que poderia aumentar ainda mais quando eu começasse como tatuador também. Não era como se a minha vida tivesse feita, mas eu me sentia tomando um rumo pela primeira vez na vida e por mais que isso me desse crises de vez em quando, na maior parte do tempo eu me sentia ocupado o suficiente pra me dar ao luxo de não pensar.

No entanto, nem tudo era bom nessa merda de vida e como agora eu estava saindo praticamente todo dia, minha presença estava começando a se tornar cada vez mais conhecida no bairro e eu estava com medo de que em breve a notícia da minha volta chegasse aos ouvidos de Ian. Uma parte de mim queria me espancar por ser tão covarde frente a essa parte do meu passado que eu já deveria ter esquecido e que talvez eu estivesse fazendo um drama todo por nada, até porque nada impedia que Ian já soubesse que eu fui solto e tenha simplesmente ignorado essa notícia, afinal, como Mandy mesmo disse, ele tinha um namorado e estava feliz com o relacionamento.

Mas mesmo tentando me tranquilizar, eu não conseguia me impedir de ficar ansioso com a possibilidade de ver Ian por aí e até mesmo a antiga tatuagem que eu carregava no meu peito voltava a latejar, como se ela tivesse sido feita recentemente.

— Mick, você já pensou em sair desse bairro? - Mandy me perguntou do nada assim que eu sentei do lado dela do sofá.

— Não... nunca pensei que seria capaz de deixar esse lugar e na verdade nem me vejo saindo daqui. Por quê? - Ela suspirou.

— Sei lá, às vezes eu me pergunto como você consegue ficar tanto tempo aqui rodeado pelas mais variadas lembranças do nosso passado de merda. - Eu entendia o que Mandy queria dizer, sentia em cada cômodo o fantasma de uma lembrança terrível... essa sala mesmo, trazia a memória de algo que eu gostaria de esquecer pra sempre, mas ao mesmo tempo, eu me sentia seguro nessa casa, era familiar.

— Pra quem viveu o inferno, a lembrança dele soa como o paraíso. - Eu olhei em volta. — Tudo o que resta são lembranças, Mandy.

— Lembranças que nos atormentam o resto da vida.

— Hey, nem só de lembranças ruins vive essa casa... temos nossos momentos bons aqui também... eu, você, Iggy e... - Eu não queria falar da nossa mãe agora, não depois de tantos anos fingindo que a morte dela não nos afetou e que ela nunca tinha existido. — Enfim, por que essa pergunta do nada?

— Eu não planejava voltar pra cá, sabia? - Ela me falou do nada.

— Por que voltou? - Eu perguntei, mas no fundo, já sabia a resposta. Ela voltou só pra me tirar daqui e garantir que eu saísse do fundo do poço, mesmo sabendo que quando ela estava na merda, eu não consegui fazer nada pra tirar ela do mesmo fundo do poço.

— Você e Iggy são minha família. Não se abandona a família, por mais que se tente fugir dela. - Ela respirou fundo. — Quando eu soube que você estava preso, tentei ignorar no início, pensei que não era surpreendente vindo de um Milkovich e deixei pra lá por um tempo... tentei me afastar emocionalmente de você da mesma forma que fiz com Iggy, mas as coisas sempre foram diferentes entre nós dois.

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