Capítulo 8

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P.O.V Mickey Milkovich

Não conseguia acreditar em quão fodido eu era! Justamente quando eu tinha decidido vir nesse campo estúpido, Gallagher teve que aparecer também. Passei muito tempo evitando isso pra acabar acontecendo da maneira mais estúpida possível.

Só conseguia o encarar em choque, porque mesmo sabendo que existia uma possibilidade de eu reencontrá-lo, eu não conseguia me sentir preparado pra isso. Mas por mais fraco e mais em choque que eu me sentia, me recusava a mostrar isso diante dele.

— Eu mesmo. - Gostaria que minha voz não tivesse tremido tanto.

— Como é possível?! Você estava na cadeia.

— Pessoas saem da cadeia o tempo todo, Gallagher, não fique tão surpreso. - Ele me olhou com aqueles olhos verdes arregalados, me olhando daquele jeito profundo que sempre me deixava arrepiado no passado.

— Como? E quando você saiu? - Ele me perguntou com aquela voz suave, se aproximando de mim de um jeito que me deixou tenso... mesmo tentando não recuar e fugir, eu dei dois passos pra trás, sentia que iria conseguir respirar melhor com a distância.

— Revisaram meu caso e eu consegui sair faz quase dois meses. - Ele pareceu ainda mais surpreso.

— E por que você não me avisou? - Eu engoli a risada amarga que queria escapar, ele não poderia estar me perguntando isso, só podia ser um cinismo gigantesco.

— Não achei que você iria querer saber. - Ele teve a audácia de me dar um olhar indignado, como se ele tivesse algum direito de sentir isso.

— É claro que eu iria querer saber, Mickey! - Tentei respirar fundo e não derramar tudo o que estava entalado na minha garganta.

— Pra que?! A gente já não tinha porra nenhuma! - Ele ficou em silêncio por uns segundos, me olhando com aqueles olhos esverdeados que sempre me deixavam fraco diante dele.

— Pela história que tivemos... Mickey, eu nunca quis te ver preso naquele lugar. - Eu revirei os olhos, não suportando a personalidade bom moço dele justamente agora. Não conseguia lidar com isso, estava praticamente quebrando diante dele e mesmo com toda a raiva, ainda existia a vontade de me jogar nele e buscar mais um beijo, mais um toque...

— Uau, que bondoso da sua parte... me sinto comovido por tanta generosidade! Sinceramente, Gallagher, eu não tô afim de bater esse papo mole contigo. - Me virei, aproveitando que minhas pernas ainda estavam firmes e que a raiva estava me dando forças pra reagir, mas me surpreendi quando senti uma mão agarrando o meu braço e me puxando diretamente pros braços de Gallagher... e aí não teve raiva que me impedisse de vacilar, não sentindo o calor da pele dele contra a minha e o cheiro dele, que há muito tempo eu não sentia.

Ele aproximou o rosto dele do meu, me olhando com aqueles olhos verdes ferozes que deixavam minhas pernas bambas. De forma inconsciente, acabei cedendo um pouco e apoiando meu corpo nele, que se abaixou e roçou o nariz contra o meu pescoço, me causando arrepios.

— Você continua com o mesmo cheiro... - Ele sussurrou, me fazendo fraquejar ainda mais. O poder que Gallagher tinha sobre mim era gigantesco, ao ponto de se tornar assustador. Ontem eu estava decidido a esquecê-lo e hoje não conseguia nem evitar de tremer diante dele.

Ele me olhou de novo e aproximou nossos lábios, tocando nossos narizes e me olhando no fundo dos olhos com aquela expressão fogosa... era como se tivéssemos voltado ao passado e nenhum dos problemas importassem...

Por um minuto eu me permiti fechar os olhos e me entregar a Ian, mas no último momento minha consciência me resgatou, me lembrando de todas as merdas que tinham rolado no nosso último ano juntos, lembrando daquele término naquela maldita varanda e de tudo o que esse idiota disse quando veio me visitar na prisão pela última vez. Eu usei esses lampejos de raiva e mágoa que ressurgiram para empurrar Ian pra longe de mim com todas as minhas forças.

Destinos entrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora