Capítulo 6 - "Não vou. Não mais."

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Dragãozinho.

Diminutivo do substantivo dragão, que se refere a um monstro com asas e uma cauda comprida e que expele fogo pela boca.

Este era o apelido que minha mãe havia me dado quando eu era uma bebê.

E ela continuava a me chamar assim.

Me virei para encarar a mulher no último degrau da escada. Pálida, magra, baixa estatura, cabelos longos e roxos, quase azuis, olhos verdes profundos, e roupas escuras. Minha mãe era desta forma, um pouco diferente do que me lembrava, mas igual ao que me contaram.

— Mãe?

Chamei incerta.

Será que ela ainda gostava de mim? Será que queria minha presença ali?

— Sua tia me contou que escapuliu de Auradon. Fugiu ou tem autorização para estar aqui?

Terminou de descer a escada extremamente frágil.

— Fugi...

Abracei meu próprio corpo. Por que eu me sentia indefesa perto dela? Eu deveria sentir segurança, não o contrário.

Ela parou em minha frente. Olhos rígidos e expressão fechada. Ela parecia maligna aos meus olhos, exatamente como a acusavam. Mas o que ela tinha feito? E por que? Minhas memórias a mostravam como uma mãe amorosa, não como uma mulher maldosa.

— Por que?

Foi tudo o que ela disse. Não parecia muito interessada para saber a resposta apesar de tudo.

— Meu pai... O rei, ele vai se casar com alguém que me faz mal, e eu não consigo suportar isso, não mais.

Respondi constrangida. Não queria que minha mãe pensasse que eu era uma criança mimada, por mais que sentisse um tanto de medo dela agora.

— Ah, claro! Benjamin Florian e seu péssimo gosto para arranjar esposas.

Ela gargalhou e se afastou de mim. Sua risada me causava arrepios, pois não era de divertimento, e sim o mais puro desespero.

— Me diga, sou o que você esperava que eu fosse?

Ela apontou para si mesma, se exibindo com sarcasmo.

— Você não se parecesse nada com a mulher que eu me lembro.

— A vida é cruel, criança, ela te faz aprender da pior das maneiras e te torna um ser terrível graças a essas lições.

Encolhi meu corpo, me deparando com a verdade: meu pai tinha razão em relação a ela.

Senti vovó se remexer em meus cabelos, a encarei em meu ombro e logo depois a peguei em minhas mãos, sentindo uma proteção estranha ao fazer isso. Eu amava até a mais cruel das vilãs, por que não amaria a mulher que me deu a vida?

— E o que você aprendeu?

Perguntei com medo de ouvir a resposta, entretanto, pronta para levar um tapa na cara da vida.

— Aprendi que amar nos torna fracos, esconder seus sentimentos é a única forma de não nos deixar indefesos.

Se aproximou de mim novamente, com o vestido escuro arrastando o chão.

— Sua avó tinha razão em me alertar, agora estou fazendo o mesmo com você.

Olhei para a lagarta em minha mão que encarava a filha de maneira simbólica. Estendi a mesma na direção da mulher, que pegou a mãe e lhe deu um beijo na cabeça. Aquilo me deixou mais calma. Ao menos ela gostava da própria mãe.

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