Capítulo 4 - "Talvez eu esteja do lado errado da ponte."

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Sabe quando você sente que o mundo todo está sob seus ombros, e que se você falhar tudo cairá sobre você? Era essa a sensação que eu sentia toda vez que meu pai me dava uma obrigação e me advertia sobre não cometer nenhum erro sequer. Era assim que eu me sentia quando era sufocada por jornalistas especulas e não podia dar uma resposta que tivesse uma dupla interpretação, pois eles adoravam distorcer as coisas. Era dessa forma que eu me sentia quando não podia de forma alguma falhar em meus atos, mesmo que esses atos fossem basicamente viver como uma adolescente normal.

Sabem como é horrível ouvir de seu próprio pai que você é inútil? Eu sei que ele me ama, sei que ele disse isso na hora da raiva, sei que ele não quer me magoar, que quer o melhor para mim. Mas doía da mesma forma, me fazia perceber o quanto eu realmente era inútil, fútil, mimada e mal educada, porquê querendo ou não eu era muito grossa com as pessoas, sendo elas falsas ou não.

"Não haja como se sua reprovação fizesse alguma diferença. Você não tem controle sobre minhas escolhas! Aprenda a fazer algo direito, amadureça, para só então ter autoridade para decidir algo em minha vida!"

Sua frase ainda soava em minha cabeça. Será que ele tinha razão?

Dei um sorriso nitidamente falso quando Barbara colocou a mão no meu ombro para que a foto saísse bonita. Eu realmente achava impressionante a habilidade de minha família para ser tão falsa, Bernard nem sequer parecia estar amargurado com a discussão que teve com a namorada com aquele sorriso todo. Que ódio, que ranço! Segurei-me para não revirar os olhos quando o fotógrafo disse que formávamos uma linda família.

Tirei a mão da cascavel de cima do meu ombro e evitei olhá-la nos olhos, não queria ter que discutir com meu pai de novo por causa dessa cobra peçonhenta. Caminhei até vovô e enganchei meu braço no dele, ele me olhou e me abraçou de lado, tentando me consolar, tentando me fazer entender que aquilo não era o fim do mundo. Mas era. Eu ganharia mais alguém para me desmerecer e brigar comigo por absolutamente nada.

Observei Amberly me encarando do outro lado do jardim, ela parecia levemente preocupada comigo. Arqueei as sobrancelhas e ela abaixou o olhar, sentindo-se tímida por tê-la pego me encarando. Aquela garota era tão confusa! Em um momento me humilhava e dedurava meus erros para todos os que via pela frente, e no outro estava triste por mim? Qual o problema dela?

Minha avó Bela parou ao nosso lado junto de Aurora, que trazia junto a ela a mãe, Leah. Elas conversavam tranquilamente, enquanto a velha de quase cem anos me encarava com nojo, ódio até eu diria. Inclinei a cabeça, tentando entender o que ela pensava, o porquê me encarava de maneira nada apropriada.

— Algum problema, rainha Leah?

Fiz questão de ressaltar o título que a chamavam, mas que ela não tinha, não mais.

— Não, apenas estou pensando em como podem prender uma aberração e deixar outra livre.

Segurei o braço de vovô Adam, o impedindo de responder a acusação.

Eu poderia xingá-la, maltratá-la, gritar com ela, mas não o fiz. Engoli a raiva, temendo pela decepção que causaria ao meu pai caso perdesse o controle. Mas estava estampado na minha cara o ódio e o ressentimento que sentia, todo mundo devia ter visto isso assim que coloquei os pés nesse jardim.

Me retirei do campus da escola lotado. Eu odiava o Dia da Família, mas ter discutido com meu pai minutos antes da comemoração começar havia piorado tudo. A raiva me consumia. Eu não conseguia fingir que estava tudo bem, não vendo o rei com aquele sorriso amoroso no rosto para o filho primogênito e para Barbara. Não com pessoas ressaltando o quanto sou ruim em tudo desde que acordei naquela manhã, desde que nasci na verdade. Tirei a tiara tosca da cabeça e joguei na grama, juntamente do colar que "Barbie" havia me dado.

Ruim Por Dentro - Descendentes Onde histórias criam vida. Descubra agora