Aprendendo - Parte 2

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O dia amanheceu com céu cheio de nuvens pesadas, ouvia-se alguns trovões distantes. Pedro acordou ansioso. No caminho da escola a ansiedade crescia. Ao passar pelo portão seu coração já aumentava o ritmo. Entrou na sala e avistou Samuel sentando-se em seu lugar. Caminhou em direção à cadeira de todos os dias. Ao cruzar com o rapaz sentiu o perfume já conhecido até pelos seus desejos mais íntimos. Sentou-se e a chuva rompeu pesada no céu molhando o pátio que podia ser visto pela janela à sua esquerda. Só estavam os dois naquele lado da sala, então, Pedro decidiu que falaria com Samuel. Levantou-se e foi em sua direção ouvindo os trovões retumbarem competindo com as batidas descompassada de seu coração que a essa altura se chocava contra as costelas no peito. Caminhou até parar ao lado de Samuel que ergueu o rosto.

— O que você quer? - Ele respondeu seco.

— Queria conversar com você depois da aula. - Falou entre os dentes sem saber como agir.

— Sobre o quê? - Samuel não se desarmava, parecia tão irritado quanto o tempo do lado de fora das janelas.

— Porra! Não precisa agir assim. - Pedro estava quase se humilhando. - O que eu fiz pra você?

— Nada..., mas as pessoas me alertaram sobre você... ainda teve aquele dia... - Ele baixou a guarda por um instante. - Você fugiu de mim como o diabo foge da cruz.

Essa frase o pegou de surpresa. Era verdade, ele fugira, mas não por repulsa e sim por medo dos próprios sentimentos.

— Samuel, deixe isso de lado por um momento... - Respirou fundo buscando forças sabe-se lá de onde. - Quer almoçar comigo? - Finalmente conseguiu fazer o convite sentindo o rosto em chamas e desviando o olhar.

Samuel fez uma pausa para avaliar a expressão de Pedro, o suspense o deixava ainda mais nervoso. Abriu um enorme sorriso ao perceber a timidez no rosto corado de Pedro adorando como ele era fofo.

— Tá bem... eu vou.

Pedro voltou ao seu lugar tão subitamente quanto chegou ao lado de Samuel, sentindo as veias do pescoço saltarem. Sentou-se em seu lugar prestes a flutuar e por fim pode respirar corretamente. Samuel virou o corpo e olhou para Pedro sorrindo, um sorriso sincero e alegre que fez Pedro corresponder de um jeito que se houvessem mais pessoas na sala todos perceberiam que o rapaz estava apaixonado. A chuva começou a diminuir e aos poucos os assentos foram tomados pelos alunos.

A aula começou e Pedro estava perdido em seus pensamentos. Fizera o convite, mas o que diria a Samuel? "Olha estou atraído por você, quer namorar comigo? Mas não pode falar para ninguém." O sentimento era horrível, pois já estava errando no primeiro passo. Decidiu improvisar.

— Pedro? Pedro, preste atenção rapaz! Estou falando com você. - Disse o professor.

— Ah? O quê? - Ele nem havia percebido o professor chegar. A lousa estava inteiramente preenchida pela lição mostrando que havia passado muito tempo.

— Você vai fazer o trabalho com o Samuel e eu espero que ele seja muito, mas muuuito paciente.

A sala explodiu em gargalhadas e Pedro permaneceu imóvel sem demonstrar reação nenhuma. "Obrigado, destino!" Ele pensou consigo mesmo. Era um trabalho em dupla de geografia, as duplas foram sorteadas e calhou de ele estar com o Samuel que estava sorrindo para o parceiro de trabalho. Pedro sentiu o rosto em chamas, como se todo o sangue de seu corpo estivesse prestes a transbordar por ali. Algumas meninas perceberam a mudança de atitude do rapaz e deram risinhos meio que compreendendo a situação.

O dia seguiu seu curso. Pedro era alvo de olhadelas dos outros alunos, as meninas pareciam estar assistindo a um seriado BL e os garotos demonstravam reprovação crispando os olhos. O rapaz não percebia, pois estava imerso em seus próprios pensamentos. Observava atento aos movimentos dos cachinhos dourados acima do pescoço de Samuel. Permaneceu na sala durante o intervalo, seus joelhos teimavam em não se firmarem o suficiente para caminhar de forma digna, então decidiu ficar ali. O que, no fim, foi algo bom pois Samuel lhe trouxe uma coxinha e um copo de suco de laranja. Ele não conseguiu agradecer ao gesto com palavras, apenas sorriu, talvez fosse o primeiro sorriso sincero desde muito tempo, já que ninguém ousava se aproximar dele por vontade própria ou com o intuito de se beneficiar apenas com sua presença. Essa constatação lhe causou uma dor profunda no peito e, pela primeira vez, soube que não tinha amigos. Seus olhos se tornaram estranhos, quentes e úmidos, não lembrava quando havia chorado pela última vez. Pousou o lanche sobre a mesa e cobriu o rosto com as duas mãos, sentindo dó de si.

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