Contos

Sonho - Parte 2

Acordei e, antes mesmo de abrir os olhos para o novo dia, pude ouvi-lo andando pelo quarto com pressa. "Bom dia." Falei espreguiçado e para a minha surpresa ele me olhou com expressão de espanto e o rosto vermelho como no dia anterior. Eu não entendi nada. Ele saiu do quarto apressado quando percebeu que eu ia falar alguma coisa. Eu só queria saber se estava tudo bem, pois ele estava muito estranho. "Deixa pra lá. Cada um com suas manias," falei para mim mesmo já que eu estava sozinho no cômodo.

Preparei a cafeteira elétrica, apertei o botão de ligar e fui ao banheiro, ainda tomado pelo torpor do sono. Escovei os dentes, tomei um banho frio para acordar, pois tinha muito texto para ler naquele dia. Vesti uma roupa leve e quando saí do quarto vi, no outro extremo do cômodo sobre a mesa de apoio, as duas latas de cerveja que havia bebido na noite anterior e como um déja vu fui atingido pela memória do sonho daquela madrugada. Que estranho. Sonhar com ele e daquela forma. Ele com certeza é hétero... No entanto, isso só estimulou a fanfic que se formara em minha mente.

O que há de errado se foi apenas um sonho? Besteira! Servi-me do café recém passado, espalhei a manteiga numa fatia de pão de forma e comi lentamente, saboreando a memória quente daquele sonho. Comi a segunda fatia ainda sob o efeito daquele encanto. Com nem tudo são flores, eu precisava estudar, pois essa era a condição para receber a mesada da minha mãe: as notas devem ser obrigatoriamente fantásticas, sim, essas foram exatamente as palavras dela.

Não posso reclamar, eu gosto do meu curso. Estava fazendo cálculos concentrado na matéria quando minha barriga me chamou à realidade. Olhei para o relógio e já passara das duas da tarde. Tá, sou nerd! Mas, enfim, droga, o restaurante barato e o restaurante universitário já fecharam àquela hora. Então vou ter que gastar um pouco mais. Troquei de roupa, peguei a carteira, passei a chave na porta do quarto e caminhei até o shopping próximo. Não estava a fim de comer arroz e feijão, fui de sanduíche. Então, entrei no shopping pela praça de alimentação e o cheiro da comida fez minha barriga roncar. Entrei na fila do Hambúrguer Rei e esperei a minha vez. Eis que o vejo sentado em uma mesa mexendo no celular. Ele não estava tenso como pela manhã. "O que há de errado com ele?" pensei . Pedi o lanche e aguardei o preparo.

Peguei a bandeja e me dirigi até a mesa dele. Ele não percebeu a minha aproximação. Puxei a cadeira e me sentei bem na sua frente. Ele levantou o rosto e, enfim, notou a minha presença. "Oi." Cumprimentei e tive como resposta um "oi" tremido, sussurrado e aquele rosto vermelho. Acho fofa essa característica dele, mas será que eu estou sendo tóxico com ele.

"Você está chateado comigo? Eu fiz alguma coisa que você não gostou?" perguntei buscando entender.

"Não." Ele respondeu como uma criança que está se sentindo culpada e não que se delatar quando quebra alguma coisa em casa.

"Você pode falar, pois temos que resolver isso. Eu pretendo continuar no dormitório até o final do curso, já que é barato, e eles não costumam trocar as pessoas, a não ser em situações muito específicas. Eu acredito que você também não quer sair, então diz aí. Te garanto que não tenho nada contra você!" Busquei ser o mais honesto possível.

"Você não fez nada. Sou eu o problema..." Ele fez uma pausa, seus olhos estavam tensos como se estivesse se questionando o que deveria falar. "Tenho um pouco de fobia social, sabe? Mas estou tratando isso. Amanhã tenho consulta e vou pedir algum ansiolítico... então, não se preocupe e peço, por favor, tenha um pouco de paciência comigo." Isso me partiu o coração. Como um professor pode ter fobia social?

"Tá..., mas se precisar de qualquer coisa me fala. Se nos ajudarmos vai ser mais fácil, Ok?"

Comi o lanche calado respeitando o espaço dele. Ele novamente pediu desculpas pelo ocorrido e expliquei a ele que não precisava se desculpar pois, ficar sozinho me ajudou a estudar. Ele se mostrou menos tenso depois que ouviu isso.