O Sonho - Parte 4

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O dia passou, lento, e eu queria muito reencontrá-lo. Havia essa urgência no meu peito, no meu corpo. Uma frase permaneceu em meu pensamento, entre todas aquelas memórias magníficas.

"Te buscava nos meus sonhos faz muito tempo."

O que aquilo queria dizer? A minha cabeça estava um turbilhão, eu não pude me concentrar nas aulas, e estava apenas de corpo presente no estágio, fazendo as coisas no automático. Pra dizer a verdade nem sei como aquele dia se passou. O calor do corpo dele, o sabor do beijo e da pele, o interior daquela bunda esculpida, a firmeza de seus dedos em mim e o pau dele pulsando de prazer na minha mão. Então isso é o sexo? Eu li em muitos comentários pela internet que a primeira vez não é boa... pensando aqui comigo mesmo, posso dizer, que depende de com quem é a primeira vez. Eu acredito que tive um excelente mentor nesse quesito. Um bem safado por sinal.

"Onde ficou o cara tímido que tem fobia social? Ele precisa me dar uma boa explicação! Sou um cara de exatas, preciso de lógica em minha vida, senão tudo vira bagunça." Nem sei porque pensei isso, já estava uma bagunça até ali. Então corri pra casa depois do estágio, era por volta das dezoito horas. Será que ele iria para casa depois do trabalho ou iria assistir aula? Queria que sentisse minha falta e viesse para os meus braços, se bem que eu sou menor que ele, eu é quem deveria ficar em seus braços... não seria ruim. Tomei um banho para tentar aplacar a ansiedade. Queria poder ligar e pedir que voltasse, mas não tinha o seu contato. "Como sou burro!" Pensei me culpando por ter deixado a confusão me dominar. Queria ele mais que tudo naquele momento.

E, como se respondesse as minhas preces, ele chegou por volta das dezenove. Eu estava na sacada observando o movimento da rua e o vi descer do ônibus, com seus passos largos, atravessar a rua e sumir na entrada do prédio. Ele entrou carregando uma sacola e a colocou sobre a mesa, guardou algo na geladeira, deixou a mochila sobre a cama arrumada, e veio até mim, me fazendo sumir num abraço bom de urso. Meus olhos molharam de emoção. Era tudo novo, o carinho, a atenção, a sensação de não estar sozinho...

"Trouxe comida e sobremesa pra gente. Vamos comer?" Eu assenti com a cabeça, pois a voz estava presa na garganta. Ele viu meus olhos marejados e se preocupou. "Eu machuquei você de manhã? Eu apertei muito forte agora? Desculpa, sou muito bruto." Ele disse enxugando meus olhos com voz de preocupação o que me fez rir. Eu tomei suas mãos, neguei com a cabeça, e as beijei da forma mais terna que pude. Ele riu e me abraçou novamente. "Vamos comer, menino bobo!"

"Você me deve uma explicação." Eu disse enquanto comíamos. "Você disse que me buscava em seus sonhos. Como assim?" Ele me olhou sério.

"Acho que você não se lembra de mim." Eu estava agora mais confuso, pois pude perceber decepção em seu olhar.

"Já nos conhecemos antes?" Perguntei com sinceridade.

"Eu fui uma criança que demorou a se desenvolver. Meus pais ficaram muito preocupados, pois, com cinco anos de idade eu ainda não falava. Eles na tentativa de me ajudar se mudaram para a sua cidade nessa época, fiz um monte de terapias diferentes e aos poucos fui melhorando, mas entrei tarde na escola. Foi aí que nos conhecemos." Eu confesso que não lembrava de nada disso. "Estudamos juntos durante os dois primeiros anos. Você era maravilhoso comigo, me ajudava com as tarefas, me incluía no seu grupo de amigos e sempre brincávamos juntos. Talvez você não me reconheça, pois eu era muito magro e pouco desenvolvido e você já era um menino lindo. E quando o segundo ano terminou, meu pai precisou voltar para a nossa cidade por causa do trabalho e nos mudamos de volta." Seus olhos se entristeceram nesse momento, então eu sentei em seu colo, deitei a cabeça em sem seu ombro. "Então, os sonhos começaram. Eu sonhava com a escola vazia, eu corria pelas salas, pelo pátio e sempre parava no portão. Eu não sabia onde você morava, então não podia ir atrás de você. A saudade era imensa. Acredito que para você eu era apenas mais um garoto da sala, mas para mim você era tudo, o meu mundo. Então, adoeci e fiquei um tempo no hospital, o médico percebeu a depressão e voltei para a terapia. A escola foi devagar nesse tempo, repeti de ano várias vezes, pois não tinha graça sem você. Até que na adolescência, eu deveria ir para o ensino médio, mas ainda estava no meio do fundamental." Que loucura. "Nessa época mudei de terapeuta mais uma vez. Esse tinha uma abordagem diferente e em uma sessão de hipnose ele descobriu a causa da minha depressão. Eu sentia saudades de você, pelo menos daquela sensação de pertencimento que você me causava. Então, na hipnose ele me fez retornar àquela época e eu me senti feliz. Nessa memória, eu lembrei do seu nome completo. Foi como se eu tivesse aberto uma porta, pois aí eu poderia procurar você nas redes sociais. O terapeuta me deu uma lição nesse dia. Como eu poderia procurar um cara tão incrível sendo um perdedor."

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