Naquela noite o jantar foi mais estranho do que o normal, se é que existe um normal. Jaz estava calada e não trocou farpas com Max nenhuma vez, e Moon ficou o tempo inteiro oscilando o olhar entre todos nós. Sun era o único agindo normalmente.
Quando terminamos de comer, seguimos para onde iríamos dormir, e confesso que depois do ocorrido de mais cedo, eu estava meio constrangido de dormir com Max, mas teria que fingir que estava tudo bem e que eu não estava me tremendo de nervosismo.
Eu entrei na barraca primeiro que ele. Era um espaço grande, então com sorte não chegaríamos muito perto um do outro durante a noite. Eu me deitei bem no canto e fiquei quieto, apenas esperando o sono vir.
Meus olhos se fecharam automaticamente quando vi o brilho da lanterna no momento que Max entrou na barraca. Ele ficou em silêncio, parecendo estar se arrumando para ir dormir, então aquilo era bom.
── Sei que está acordado, Sky ── ele proferiu e eu abri meus olhos. ── Já trocou seu curativo? ── perguntou enquanto se sentava.
── Já sim... E você? ── olhei para ele.
── Acabei de trocar
Max desligou a lanterna e se deitou, mas devido a fogueira acesa do lado de fora, eu conseguia ver o seu rosto perfeitamente. Eu deveria virar para o outro lado e fechar meus olhos, fingir que não queria falar sobre muitas coisas com ele, mas eu me conhecia bem, e sabia que se eu fizesse isso, iria sufocar até explodir.
── O que está te incomodando? ── perguntou, deitando de lado, com o rosto virado para mim. ── Se quiser posso pedir para Jazeg trocar de lugar comigo, caso prefira dormir com ela
── Por que eu iria preferir dormir com ela?
── E por que iria preferir dormir comigo? ── e eu fiquei em silêncio. ── Ignorar as pessoas é falta de educação
── Porque ela me pediu para ficar com os gêmeos. Não podia negar isso a ela ── respondi, mas pela sua expressão, notei que não ficou muito convencido.
── Essa é a única razão?
── ...sim
Me deitei também de lado e fiquei olhando em seu rosto. Não sei como consegui, mas mantive contato visual, e acabei me lembrando do que Moon havia me dito mais cedo, na verdade tenho pensado nisso desde que me disse.
── Foi no meu primeiro jogo ── ele disse de repente. ── Levei uma facada. Eu sei que é uma história bem sem graça para alguém que perdeu um olho, mas foi isso, levei uma facada de outro participante e perdi meu olho ──
── Por que está me contando isso? ── e ele suspirou.
── Não sei... só quis contar
── Meu melhor amigo morreu alguns minutos depois que chegamos aqui ── proferi. ── Eu vi ele ser devorado bem na minha frente ──
── Meu Deus, Sky...── ele disse. ── Eu sinto muito
── Tá tudo bem ── com dificuldade, dei de ombros.
── Por que a gente é assim?
── Eu não faço idéia ── e eu ri.
E novamente o silêncio, dessa vez menos desconfortável do que as outras vezes. Estávamos apenas nos encarando, olho no olho. Max parecia cansado, sua expressão estava caída, mas ainda tinha algo ali, só não sabia o que era.
── Tem alguma coisa na forma que você me olha...── sussurrei, tocando seu rosto com uma das mãos, e afastando uma mecha do seu cabelo.
── O que você quer de mim, Sky? ── ele murmurou, fechando seus olhos por alguns segundos.
── Ficaria surpreso se eu dissesse tudo
Deslizei meu dedo pelo seu rosto, contornando seus lábios que mais uma vez pareciam me chamar, ao menos dessa vez não tinha ninguém para me interromper.
Me inclinei em sua direção, e os meus olhos se fecharam automaticamente. Meu coração batia rápido e o desejo crescia em mim, mas na minha mente só se passava uma coisa: estou prestes a beijar Max.
Nossos lábios se encostaram gentilmente, e por um momento não passou disso, mas eu queria mais, apenas aquilo não era o suficiente para saciar o meu desejo que parecia acumulado, por isso, me atrevi a engatar a mão na sua nuca quando aprofundei o ósculo. Nosso lábios se entreabriram e ele me permitiu continuar o beijo, sugando meu lábio inferior.
Não sei se era pelo tempo que eu havia ficado ali, mas desejei que tudo parasse naquele momento, apenas para que eu pudesse aproveitar mais dos lábios de Max, e também desejei que nosso ar fosse infinito, assim não precisaríamos nos afastar quando ele nos faltou.
Senti falta do atrito gostoso dos nossos lábios no mesmo instante, do gosto da sua boca, da forma como ele puxava meu lábio entre os dentes.
Meus olhos se abriram quase um minuto depois, e meu olhar encontrou o seu. Aquela foi a primeira vez que vi um traço de sorriso nos lábios de Max.
── Fiquei encantado em conhecê-lo...── sussurrei, ainda olhando em seus olhos. ── Garoto quieto da aula de história ── os olhos de Max se arregalaram.
── Lembra de mim ── assenti, mesmo que não fosse uma pergunta.
── Jamais esqueceria de alguém que trocou as datas da revolução francesa ── ele queria rir, mas não riu. Max não se submeteria a isso.
── Eu estava nervoso ── se defendeu.
── Tudo bem, eu posso te perdoar
Desviei meu olhar para cima por alguns segundos, e fiquei encarando o teto da barraca.
── Que loucura, até umas horas atrás eu achei que tinha te conhecido há apenas três dias ── eu disse.
── Enquanto eu te reconheci desde o primeiro momento ── voltei a olhá-lo.
── Não sei se isso é uma coisa boa ou ruim ── proferi. ── Depende do que for acontecer de agora em diante ──
── Podemos não falar desse maldito jogo apenas por um tempo? ── assenti.
── Tem razão, me desculpa
Nos deitamos virados para cima, ficando um ao lado do outro. Não é como se estivéssemos observando o lindo céu ou algo assim, tinha apenas o teto da barraca e as costas das nossas mãos se tocando.
Mechi a minha mão e deslizei meus dedos para se entrelaçarem com os seus. Não estava vendo, mas sabia que Max me olhava, por isso sorri brevemente antes de deixar meu olhar cair sobre ele.
── Eu corro para você como uma mariposa corre para o fogo ── cantarolei, e pela sua expressão, não fazia ideia do que eu estava falando.
── Você me diz: Vá com calma-, mas é mais fácil falar ── completou, me surpreendendo.
── Termino quando for fazer sentido ── e ele assentiu.
── E eu estarei falando o restante de onde eu estiver ── fechei meus olhos por uma curta fração de segundos.
Me inclinei sobre ele e beijei seus lábios novamente, dessa vez com mais calma e por menos tempo.
── Obrigado por ter me encontrado ── sussurrei contra seus lábios.
── Era o meu destino, eu acho ── murmurou.
Deixei um selar no seu rosto e voltei a me deitar, ficando novamente de lado.
── Boa noite, garoto quieto da aula de história ── proferi.
── Boa noite, menino que sempre sabe todas as respostas ── eu ri baixinho.
Fechei meus olhos e contei cinco segundos até a sua mão vir acariciar o meu rosto.
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Oi, besties! Como estão?
Agora vocês entenderam as frases sem sentido que eles falaram?
Bom, é isso.
Beijinhos do Theo<3
Vejo vocês na arena de jogos!
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Jogador 59 - [LGBTQIA+]
General FictionSky sempre foi viciado em jogos de realidade virtual e videogames. Muitas vezes sonhava com ele mesmo dentro de um jogo, até que um dia, ele não acordou do sonho. Dentro de um mundo desconhecido, foi obrigado a lutar com criaturas que até então nã...