9- Eu vou fazer você implorar por misericórdia

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O medo me consumia enquanto eu andava para o centro da arena do jogo. Meu coração batia rápido, minha respiração estava descontrolada, minhas pernas tremiam e eu sentia que poderia cair a qualquer momento. Não sabia como ainda estava de pé, e também não sabia por quanto tempo eu continuaria de pé. Tudo iria depender de como seria aquele jogo.

Parei em frente ao telão, mas com uns sete metros de distância dele, e Max estava ao meu lado, também alguns metros de distância. Ele não parecia com medo, na verdade ele nunca ficava com medo em nenhum dos jogos. Notei que ele também não me olhou nenhuma vez, o que me levou a deduzir que ele ainda estava irritado comigo.

"Jogo: ache os objetos perdidos. Os participantes devem correr quando o tempo começar e procurar os objetos perdidos dentro das caixas. Se encontrarem, o ponto é dos participantes, mas a cada caixa errada, um objeto será perdido"

Olhei para Max, que parecia tão confuso quanto eu. Aquele deveria ser o jogo onde iríamos nos enfrentar, mas não, eles nos colocaram para trabalharmos juntos de novo.

"Seu tempo limite é de duas horas. Caso os participantes abram mais que três caixas erradas, serão eliminados. Se abrirem a caixa certa, avançam para a próxima fase"

A voz continuou, e eu voltei o meu olhar para o telão.

"Seu tempo começa agora"

E o clock do relógio ecoou.

Não sei de onde tirei forças, mas eu corri entre aquelas caixas como se a minha vida dependesse disso. Deveriam ter umas duzentas espalhadas por aí, e apenas uma delas tinha os tais objetos. Seria bem difícil errar menos de três caixas, mas era apenas na sorte.

Dez minutos depois, me vi diante de duas caixas de metal grandes e largas, mas eu estava em dúvida sobre qual abrir. Me perguntava se Max já tinha feito isso ou estava apenas esperando que eu fizesse para ter alguém pra culpar caso algo desse errado.

Respirei fundo umas três vezes e caminhei até uma das caixas, tomando coragem para abri-la. Meu peito se apertou ao ver que não tinha nada, e agora teríamos que acertar as outras duas caixas.

Perdemos uma chance por minha causa.

"Objeto 1: roxo. Eliminado"

Assim que eu ouvi a voz, senti meu coração se acelerar. Eu não fazia ideia do que estavam falando, mas sabia que tínhamos perdido por minha causa.

Antes que eu tomasse qualquer outra decisão, senti uma mão no meu ombro e me virei repentinamente, vendo que Max olhava para mim com seu olhar marejado.

── Não abre mais nenhuma caixa ── ele pediu com a voz trêmula. E aquela foi a primeira vez que eu percebi que ele estava mesmo com medo. ── Precisamos conversar ──

Assenti e me sentei no chão, escorado em uma das caixas, e ele fez o mesmo. Max estava mais quieto do que o normal, e as suas mãos estavam tremendo. Eu não entendia o que estava acontecendo e ele simplesmente não dizia mais nada.

Passou-se quase dez minutos até ele finalmente olhar para mim, e só então eu percebi que ele estava chorando.

Levei minha destra até o seu rosto e enxuguei as lágrimas, e quando eu ia tirar a minha mão, Max a agarrou e ficou a acariciá-la, oscilando o olhar entre nossas mãos e os meus olhos.

── Não se perguntou porque o tempo é tão grande sendo que só temos que abrir três caixas tendo que ser uma dela a certa? ── foi sua primeira pergunta, e eu realmente não tinha parado para pensar naquilo. ── É porque essa é uma decisão difícil ──

── Como assim?

── O que a voz disse quando você abriu a caixa errada? ── eu estava confuso com tudo aquilo.

── Que o objeto 1 tinha sido eliminado. Disse algo sobre a cor roxa também...── e então tudo começou a fazer sentido. ── Você tá me dizendo que os objetos são...── ele assentiu.

── Só pode ser isso, Sky

── Não. Não pode ser. Eu me recuso a acreditar nisso ── negativei várias vezes.

São três objetos, temos três amigos, e roxo é a cor do cabelo e olhos de um deles.

E então meu coração se acelerou novamente, e quando menos percebi, eu também estava chorando. Pensar na possibilidade de que eu acabei de matar um dos nossos amigos me deixava em completa agonia.

Se aquele era um maldito jogo para brincar com a nossa cabeça, eles estavam conseguindo. Sendo verdade ou não, eu me recusaria a abrir outra daquelas caixas e correr o risco de me sentir culpado o resto da minha vida, se é que ainda me resta muito dela.

── Sky...── Max hesitou por um instante, mas me puxou para perto e me abraçou. E um abraço era tudo que eu precisava naquele momento.

Eu deixei minha cabeça descansar na altura do seu ombro, e me permiti chorar. Pensando bem, aquele seria um momento perfeito para morrer; triste, louco, nos braços do garoto que eu provavelmente devo gostar muito. A perfeita cena de um livro trágico.

Ficamos cerca de uma hora sentados naquele chão, esperando um pequeno sinal de esperança ou qualquer coisa que nos ajudasse naquele momento.

Estávamos perdidos, fracos e incapazes de continuar. Pelo menos eu estava nos vendo assim, pois Max jamais se consideraria fraco e incapaz.

── Quando estávamos perto do telão, atrás dele tinha uma caixa diferente das outras, ela era preta ── ele disse, enquanto estávamos a caminhar para onde o jogo começou. ── Os objetos podem estar lá ──

── Mas seria um tiro no escuro ── proferi.

── Qualquer coisa vai ser um tiro no escuro, Sky ── respondeu.

Bem, era verdade, e eu não tinha nenhum outro plano.

"Jogadores, seu tempo restante é de vinte minutos"

─ Não temos tempo de pensar em mais nada ── ele deu de ombros e eu assenti.

Chegando no espaço limpo, pude avistar a caixa da qual Max me disse, e por um momento eu pensei que poderia ter sido óbvio demais, mas Max já corria em direção a ela.

Eu caminhei em passos moderados até alcancá-lo, e somente quando eu estava ao seu lado que ele me olhou como se pedisse minha permissão para abrir a caixa.

── Seja o que Deus quiser, ou não quiser ── respirei fundo e assenti para ele.

Max girou as travas e puxou as portas grandes.

Eu estava com medo, mas não tinha tempo de me preparar para o que quer que fosse. Na verdade, ninguém nunca está preparado nesse mundo.

E quando as portas se abriram completamente, eu vi dois dos nossos amigos, que saíram lá de dentro como se estivessem saindo de uma sala de terror. Moon levantou seu olhar para nós, e pela claridade do telão, eu vi que os seus olhos estavam inchados e ele chorava. Jazeg também.

── O Sun...ele se foi

Jogador 59 - [LGBTQIA+]Onde histórias criam vida. Descubra agora