17- Eu vou fazer você implorar por misericórdia

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     Quando mais novo, eu sempre me perguntava como as pessoas terminais se sentiam sabendo que iam morrer, sabendo que a qualquer momento elas partiriam. Também costumava pensar nas pessoas que ficavam, e como se sentiriam sabendo que alguém amavam se foi. Pensamentos como estes sempre foram presentes na minha mente.

Nunca imaginei que estaria nas duas posições.

Estive na beira da morte, e perdi a pessoa que amo.

Não tive tempo de reagir ou processar o que estava acontecendo. Quando notei já era tarde demais, Max já tinha puxado o gatilho e o corpo estava caído no chão.

Minha visão ficou turva, e um barulho ecoou pela minha cabeça, mas ainda consegui correr até ele e me jogar de joelhos ao lado do seu corpo. Todos os meus sentidos estavam falhando e eu mal conseguia enxergar por conta das lágrimas em meus olhos.

── MAX? MAX, FALA COMIGO! ── eu gritava seu nome, balançava seu corpo, mas ele nem se mexia. ── NÃO ME DEIXA SOZINHO... Por favor ── meu tom de voz abaixou e as lágrimas grossas escorreram pelo meu rosto.

Abracei fortemente seu corpo contra o meu, e fechei meus olhos, implorando em silêncio para que me levassem também, porque toda minha vida perdeu o sentido ali.

E quando os meus olhos voltaram a se abrir, seu corpo desapareceu dos meus braços. Virou uma poeira e voou para longe.

Perdi meus motivos para continuar, não tinha porquê eu permanecer vivo se a única pessoa que eu ainda conhecia de verdade tinha partido. Então eu estava disposto a partir também. Mas, para o meu azar, Max foi inteligente o bastante para deixar apenas uma bala na Colt 45, provavelmente prevendo o que eu iria tentar fazer.

Então eu deixei meu corpo cair na areia. Meu peito estava apertado, e eu senti a pequena agonia que nasceu no meu peito, se espalhar por todo o corpo, como uma febre.

Eu senti de novo tudo o que já tinha sentido quando perdi o meu melhor amigo. Toda aquela tristeza e o sentimento de culpa.

Jeff.
Sun.
Max.
Eu os amo mais do que tudo. Os amo para sempre.

"Jogador 60, parabéns! É o único sobrevivente do jogo Ludi mortiferum. Deseja retornar ao seu mundo?"

Eu quis gritar, quis xingar, quis me estapear. Eles ainda tinham coragem de me perguntar algo como isso.

Eu deveria estar muito mal, porque não respondi a pergunta, apenas fiquei em silêncio, chorando baixo e com a mão contra meu peito.

    Devo ter ficado lá por cerca de duas horas. Quando levantei, eu sentia meu corpo inteiro doer, mas tive forças para caminhar até o ônibus onde Max e eu estávamos ficando.

Adentrar aquele lugar novamente era quase uma tortura. Tudo me lembrava ele. Os assentos, os desenhos no chão empoeirado, seu casaco.

Seu casaco...

Caminhei até uma das cadeiras e peguei seu casaco, enfiando minha mão no pano e pegando o seu caderno. Ele havia falado algo sobre seu endereço.

  Ao abrir a primeira página, me deparei com uma carta. Era para mim.

Querido Sky...

Hoje é o dia... Na verdade eu nem me lembro mais, estamos aqui há bastante tempo.
Eu costumava pensar que a minha vida tinha que ser dedicada inteiramente a mim, e que eu deveria ser um dogmático filho da puta que não pensa em mais ninguém, mas eu estava errado. Todo meu pensamento mudou quando eu te vi entrar pela porta da sala de aula, com seu cabelo perfeitamente arrumado e óculos tortos. Naquele momento, Sky, eu sabia que ia me apaixonar por você. Eu mudei toda minha rotina apenas para esbarrar com você todos os dias. Passei a estudar na biblioteca, ler mais livros, e me dedicar mais nas aulas. Eu sei que parecia bem burro, mas era só pra chamar sua atenção.
O que eu estou tentando dizer é que você tem que viver. Eu quero te ver mudando o mundo seja como for, porque tenho certeza que você vai mudar o mundo. Quero me gabar aos anjos ou aos demônios de ter tido um namorado incrível, porque você também vai ser meu namorado.
Espero que seja muito feliz e que não me esqueça.
Eu amo você, S2K!

P.S: Rua Shepard, número 450. Visite os meus pais, por favor.

Eu já estava chorando novamente, segurando o caderno contra o meu peito. Eu o amo. Eu o amo tanto que não conseguiria dizer em palavras. O amo como o sol amou a lua.

  Já havia tomado uma decisão, eu precisava fazer isso. Me levantei e deixei o caderno de lado, pegando o casaco que estava no banco e o colocando em meu corpo antes de caminhar novamente para fora do ônibus.

── Sim, eu desejo voltar para o meu mundo ── proferi, fechando os meus olhos.

   Foi uma sensação estranha e desconfortável por alguns segundos, assim como eu me lembrava de ser nos primeiros dias. E quando voltei a abrir os meus olhos, mal conseguia acreditar.

Como mágica, todas as minhas memórias da minha vida antes do Ludi mortiferum tinha voltado. Eu me lembrava de Krabi, dos meus pais, dos meus irmãos, e de tudo que antes parecia estranho para mim. Tudo que antes parecia ser apenas coisa da minha imaginação.

     Eu tinha mesmo voltado para o meu mundo, e eu sabia que era ele. Eu estava bem perto de casa, completamente sujo, com roupas velhas e meu cabelo bagunçado. Eu estava de volta.

Não tinha forças, mas eu corri o mais rápido de pude, até que pudesse ver o restaurante dos meus pais. E ele estava exatamente igual como me lembrava. Não mudou nada.

Andei mais rápido e subi os curtos degraus da escada. Era um dia vazio, tinham poucos clientes, mas conhecia reconhecer o rosto dos que sempre iam antes. E atrás do balcão, eu pude ver a minha mãe, e também vi seus olhos brilharem quando ela me encontrou.

Tirou o avental e correu rápido em minha direção, me abraçando tão forte que eu cheguei a ficar com falta de ar. Ela estava chorando muito, assim como o meu pai e os meus irmãos quando chegaram até mim.

Todos a nossa volta aplaudiam.

── Meu filho. Meu Sky...o que fizeram com você? ── meu pai perguntou com a voz embargada.

Se eu te contasse você não acreditaria, pai.

Eu estava de volta em casa, e isso me deixou muito feliz, mas ainda sim, eu sentia um grande vazio no meu peito, algo faltava em mim. Talvez os meus amigos...

  E quando os meus pais se afastaram, já pude ver diversas pessoas chegando perto para fazerem entrevistas e coisa do tipo. Eu estava bem cansado, então meu pai espantou todas e fechou o restaurante apenas para me darem atenção.

Depois acabei descobrindo que eles acham que fomos sequestrado pelo dono e funcionários da D0Z3, e que a maioria dos jovens morreram.

Ouvir aquilo tirou todas as minhas esperanças, ainda mais depois do meu pai dizer que Jeff realmente tinha morrido.

É claro, eu o matei.

Matei a maioria deles...

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Hey, guys! Como estão?.

Último capítulo vindo aí. Amo vocês.

Beijinhos do Theo<3
Vejo vocês na arena de jogos!

Jogador 59 - [LGBTQIA+]Onde histórias criam vida. Descubra agora