Jogador 59 - [LGBTQIA+]

8- A respiração mais profunda sai

   Desde que o próximo jogo foi anunciado, já caminhamos mais seis horas, contando com todas as paradas que fizemos. Foram necessárias, porque nossa água era pouca, e se a gente ficasse cansados, iríamos recorrer ao pouco que tínhamos, então estávamos tentando lidar com alguns problemas em relação a isso.

Eu não tenho dormido e nem comido muito bem, então chuto que no momento eu sou o mais fraco de todos nós. Max está sempre pronto para qualquer coisa, mesmo quando machucado. Jaz é quase melhor que o Max, e os gêmeos são bons juntos. Eu estou sozinho, e agora não sei se consigo me manter diante de algumas situações.

Sinto que posso morrer no jogo de hoje, dependendo de qual for. E também sinto que hoje é o dia que vão colocar Max e eu para lutarmos um contra o outro. Sinto que esse é o jogo que vai determinar o ganhador.

  Pensar demais nisso me deixou meio tonto, e eu acho que os outro perceberam, porque Sun e Jaz me seguraram para que eu não caísse, e me colocaram sentado com as costas escoradas no tronco de uma árvore grande. Max tirou a mochila das costas e se abaixou ao meu lado.

── Ei, você tá bem? ── assenti e fechei meus olhos, escorando a cabeça para trás. ── Não dorme, Sky. Olha pra mim ──

Ele segurou meu rosto e eu levantei as pálpebras com dificuldade.

── Há quanto tempo não dorme? ── perguntou.

Até eu raciocinar a sua pergunta, ele tirou o elástico que prendia o seu cabelo e colocou no pulso, puxando algumas mechas do meu cabelo para trás e as prendendo novamente. Não era o momento certo, mas não deixei de reparar no quão bonito ele era, seu cabelo liso e grande caindo por seus ombros o deixava 45% mais atraente do que os 100% que ele já era, o que o tornava 145% muito lindo.

Voltei a órbita quando senti sua mão molhada tocar meu rosto, e só então me lembrei da sua pergunta.

── Alguns dias ── respondi.

── Por que não está dormindo? Sabe que precisa descansar ── reclamou, se sentando no chão.

── Acho que vamos indo na frente ── ouvi Moon dizer, fazendo meu olhar ir parar nos outros três.

── Não estamos longe, achem um bom lugar ── Max disse. ── Jaz, leva a mochila do Sky, por favor ── e ela assentiu.

Max só voltou a olhar para mim quando os outros já estavam em uma distância consideravelmente longa.

── Não respondeu a minha pergunta, Sky ── insistiu. ── Vamos ter um jogo mais tarde, e eu preciso de você forte ──

── Não precisa. Me ter fraco vai ser uma vantagem pra você ── eu disse e ele me olhou incrédulo.

── O que está dizendo? ── desviei meu olhar. ── O que porra você tá dizendo, Sky?

Fiquei encarando uma fila de formigas que carregavam pedacinhos de folhas consigo, porque naquele momento, qualquer coisa seria melhor do que olhar para ele.

── Eles demoraram para anunciar o próximo jogo, então provavelmente um de nós já vai morrer...── minha voz estava mais baixa do que o normal. ── Eu pensei bastante nisso e...eu não consigo continuar, Max. Cheguei no meu limite

── Não...── ele sussurrou. ── Você não vai entregar o jogo assim, tá me ouvindo? Você não vai dessistir dessa merda justo agora ──

── Eu estou fraco, não durmo há bastante tempo e também não comi nada ── insisti. ── Eu quero que você saia daqui vivo, Max. Eu não posso viver no nosso mundo sabendo que eu fui o motivo do meu melhor amigo estar morto.

Olhei de relance para ele e vi estava com seu olho marejado e a expressão séria.

── Eu vim com o meu irmão ── ele disse de repente. ── Ele tinha quinze anos e insistiu para que eu fosse testar o óculos com ele. Cuidei dele enquanto eu pude, mas ele morreu no nosso quinto jogo, outro participante enforcou ele com arame farpado bem na minha frente e eu não pude fazer nada ──

Sua voz fraquejou e eu notei que ele estava chorando. Meus olhos se encheram de lágrimas quase no mesmo instante.

'por isso ele hesitou quando perguntei se era Filho único'

── Então, se você acha que porque o seu melhor amigo morreu é motivo para você desistir, eu te garanto que não é. Precisa continuar por ele ── continuou depois de muitos minutos.

── Max...eu sinto muito mesmo pelo seu irmão ── eu disse. ── E é por isso que eu escolho deixar você viver ──

Ele enxugou as lágrimas e voltou a me olhar.

── Você só pode tá brincando comigo ── proferiu em um tom sarcástico. ── Eu não quero que você morra, Sky. É tão difícil entender isso?

── E eu não quero que você morra! Eu vou lutar, mas quem vai vencer é você, está bem? ── ele negativou várias e várias vezes.

── Na verdade, não está nada bem

Max se levantou e começou a caminhar para longe.

Eu queria ficar sentado ali e apenas esperar que o meu tempo acabasse e eu morresse. Eu não queria morrer, mas se fosse para escolher entre a minha vida e a de Max, escolheria a dele, o deixaria viver a sua vida, eu não tenho muito a perder, nem me lembro como são os meus pais ou os meus irmãos.

Mas me levantei e o segui em uma distância boa. Eu já estava me sentindo um pouco melhor.

  Caminhei por mais uns vinte minutos até achar onde Jaz, Moon e Sun tinham montado as barracas. Era um lugar limpo e um pouco mais aberto do que o outro.

Os gêmeos estavam conversando sobre alguma coisa bem empolgados. Moon estava sorrindo, e isso é algo bem difícil de se ver. Max estava de pé escorado em uma árvore, e Jaz sentada em um banco improvisado, como o outro que tínhamos.

Me aproximei do banco e sentei ao lado dela, que me olhou curiosa.

── O que rolou entre vocês? ── perguntou.

── Nada demais...

Não precisava de mais pessoas bravas comigo, por isso estava deixando isso de lado. Quando tudo acontecesse, eles saberiam o que foi.

     Nós não sabíamos o horário naquele lugar, então saímos quando ainda era cedo para procurar a arena de jogos. Na verdade, Max saiu primeiro e sozinho, ele ainda estava bravo comigo, mas não o julgaria, eu também ficaria se fosse ao contrário.

── Toma cuidado, Sky ── ouvi Sun dizer. Ele parecia mesmo preocupado. ── Fique vivo

Quando a noite caiu, eu peguei uma lanterna e comecei a caminhar pela mata, procurando por qualquer coisa que eu achava que fosse um lugar bom para um jogo. Não entendia muito sobre a D0Z3, mas acreditava que uma arena seria um lugar bem óbvio.

Pisei em galhos, a lanterna falhou, fugi de corujas assassinas e tropecei na raiz de uma árvore. Tudo indo ao contrário do planejado, e ainda não havia achado o lugar. Até que, quando eu estava desistindo, percebi que havia uma luz um pouco mais afastada, então a segui.

Ao chegar no lugar, vi que era mesmo óbvio. Era um espaço aberto, grande e bem limpo, não tinhan árvores ou folhas secas no chão, era apenas areia, e também tinham caixas de metal espalhadas por todo lugar. E a luz vinha de um grande telão que estava sendo apoiado por barras gigantes de ferro. Do outro lado daquele espaço eu vi Max, amarrando um tipo de faixa branca no seu pulso esquerdo.

O telão se apagou e se acendeu novamente, mostrando o símbolo da D0Z3 bem grande.

"Olá, jogadores! O próximo jogo vai começar"