Consternação

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Vinha acontecendo, denovo e repetidamente, desde que Caitlin viajara a trabalho. Continuava a ter problemas para dormir, no entanto, agora isso tinha um nome e era bastante inapropriado. Novamente acordou mais cedo do que planejava e seguiu direto para o banheiro, a fim de tomar um banho frio, como um maldito adolescente incapaz de controlar seus hormônios.

Aquela seria a quarta vez e, desde a segunda noite, não conseguia mais encarar a doutora pela chamada de vídeo, que faziam no laboratório duas vezes na semana. Quer dizer, sentia falta dela, é claro, mas não podia deixar de pensar nos sonhos enquanto a olhava sorrir e contar sobre seu trabalho, bem como não podia deixar de se recriminar, pois Caitlin não tinha consciência de nada disso.

Não podia deixar de se perguntar se todas aquelas imagens podiam ter algo a ver com esses sonhos em específico, afinal, pela primeira vez os relacionara a ela realmente, sem truques, sem pistas retiradas de situações irreais, que o remetiam ao perfume ou a textura do cabelo da doutora. Ainda sentindo a água fria esparramar-se por seu corpo, lentamente relaxando-o, levou os dedos aos olhos respirando fundo, farto disso tudo, pois parecia estar jogando cegamente um jogo desconhecido.

Assim, saiu do banheiro, passou pela cozinha rapidamente, pois gostava de preparar seu próprio café-da-manhã quando tinha tempo, e seguiu para a saída, mas estacou ao ver o grande envelope pardo embaixo da porta. Franziu o cenho e abaixou-se para pegar, notando seu nome completo no remetente e um logo com as iniciais H&G no canto direito. Assim que abriu, entretanto, sentiu o estômago afundar como em um soco com as palavras em caixa alta e negrito: acordo de divórcio.

Não sabia que Iris estava tão adiantada assim quanto ao divórcio. Tudo ficara nebuloso entre eles após a última ida dela ao flat, quando perguntara se havia outra pessoa. Obviamente, discutiam sobre Nora, mas, ao mesmo tempo, se evitavam frequentemente a ponto de não irem a casa de Joe, se soubessem que o outro estava. Não era apenas coincidência que ela tivesse compromisso em todos os jantares marcados com antecedência e Barry sempre inventasse uma desculpa de última hora para não deixar o clima estranho, quando sabia que Iris estaria presente.

Respirou fundo, definitivamente sentindo-se impotente. Quando tudo começara, a ideia era que durassem anos e anos, pois o destino parecia reservar isso a eles com tanto afinco. Nunca havia amado alguém como amara Iris. Houveram outras mulheres, é claro, mas nada tão exigente e avassalador quanto Iris West. No momento em que tudo se acertou, sabia que, finalmente, podia enfrentar qualquer coisa. Eram um time, afinal de contas.

Então veio a Crise e tudo desabou. Ainda que Iris estivesse grávida na nova linha do tempo formada após os eventos, pareciam quebrados, mesmo aos olhos de Barry, que jurara nunca desistir deles. Algo parecia estar fora de lugar, apesar de tudo estar caminhando perfeitamente bem. Tinha uma filha saudável, as coisas com o Flash estavam sob controle, seu emprego na delegacia não enfrentava mais problemas. Então vieram as pequenas discussões, depois as grandes brigas, que deixavam todo o time desconfortável e, por fim, sonhos com uma mulher desconhecida.

Barry apenas não queria admitir a desforra, a esse ponto. Estava claro que Iris e ele, a despeito de todas as promessas, apenas criavam uma criança juntos. Não se tratava mais de um casamento, mas de um sentimento muito forte, que vinha se despedaçando com o tempo e do qual nada restaria, se continuassem a viver no campo minado dos últimos meses. Assim, com um suspiro resignado, deixou o envelope sobre a mesa e correu em direção à delegacia.

*

- Sr. Allen!

A doutora Carla Tannhauser saiu do laboratório, onde ficava quase que permanentemente, sempre que não precisavam de sua ajuda, encarando-o sobre os óculos de maneira incisiva assim que adentrou o córtex. Segurou a respiração, assim como Ralph e Cisco, pronto para receber um sermão.

Dark End Of The StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora