Corda-Bamba

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Com as mãos no bolso, Barry andou de um lado a outro pela calçada à frente do prédio de Caitlin. Apesar de ter passado a tarde toda no Tribunal com Cecile, sua cabeça estava naquela possível nova descoberta e na forma como isso o apertava por dentro. Se havia alguma pequena chance de Bart ser seu, em sua própria realidade, não queria ser o responsável por miná-la.

No fim das contas, era uma escolha a se fazer e o fato de não poder falar com ninguém o martirizava por dentro. Apesar de não se sentir cansado fisicamente, sentia-se mentalmente exausto por tudo o que vinha lhe acontecendo e não somente por não conseguir dormir direito. Todos os dias pareciam uma corda-bamba, onde vinha tentando se equilibrar a tempo demais e, por isso, se sentia prestes a cair.

- Barry.

A voz de Caitlin o despertou e levantou a cabeça para vê-la se aproximar rapidamente em seus saltos muito altos, cabelos castanhos ondulados e um vestido completamente branco de seda, que moldava todo o seu corpo até o meio das panturrilhas. Ela carregava uma pasta num dos ombros, algumas chaves e o celular na mão e abriu um sorriso assim que o analisou de cima abaixo.

- Uau, você está lindo. – A doutora se aproximou o suficiente para segurar os dois lados de seu terno aberto e abotoá-lo tranquilamente, parecendo impressionada. – Não sabia que viria assim.

- Tive que ir ao Tribunal hoje. – Segurou os pulsos dela e a puxou para mais perto, rodeando sua cintura antes que se afastasse demais e encaixando uma das mãos no pescoço quente de Cait, que apenas acompanhava os movimentos, agora brincando com a lapela de seu terno escuro. –Você é sempre linda.

Os olhos dela ganharam um brilho bonito sob a luz do poste acima deles e Caitlin se esticou um pouco para colar os lábios nos dele, inicialmente de forma calma em um cumprimento. A superficialidade, no entanto, não parecia mais ser suficiente, por isso os braços dela foram ao seu pescoço, se apoiando de vez contra ele, apenas aproveitando o ritmo lento agora conhecido.

Beijá-la se tornava mais e mais natural à medida que o fazia. Seu corpo já sabia como recebê-la e como reagir a cada movimento da língua macia contra a sua, instintivamente, como se fizessem isso há muito tempo, embora só fizesse uma semana e houvesse ido a Princeton apenas duas vezes depois disso. Gostava também de senti-la em suas mãos, o corpo claramente distensionado confortável junto ao seu e a pele macia de sua nuca sob os cabelos brilhantes, fascinantes desde o início.

- Estamos nos acostumando a isso tão fácil. – Ela comentou quando se afastaram apenas para respirar, ambos se recusando a se distanciarem realmente. Barry apenas concordou com um murmúrio, depositando um beijo simples no canto dos lábios corados. – Sobre o que queria falar?

- Hum?

Caitlin sorriu e se afastou um pouco mais dessa vez, para encará-lo de verdade, analisando seu rosto detidamente, como era de costume.

- Você disse que precisávamos conversar, na mensagem. Parecia algo sério.

Barry percorreu todo o conjunto quase perfeito das feições dela, desde a pele bem cuidada e os cílios espessos pela maquiagem até os lábios, usando o dedo que estava próximo para acariciá-los lentamente, memorizando a textura naquele toque. Tinha que contar a ela e, enquanto a esperava, ensaiara várias formas de fazê-lo, mas agora que Cait estava ali, ao alcance de sua mão e de seus lábios, tão perto que o perfume certamente ficaria em suas roupas, já que sequer precisava de esforço para recordá-lo, não tinha qualquer vontade de dizer algo que poderia chateá-la.

Era como havia dito ao Dr. Halford: tinha tanto medo de perdê-la, que apenas a ideia de afastá-la por algo que fizera o deixava desnorteado. Assim, respirou fundo e arranjou os cabelos dela ao redor do rosto e desviou o olhar para um ponto qualquer que fosse menos intimidante que os olhos o fitando com atenção.

Dark End Of The StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora