Platônico

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Barry encarou as luzes de Central City por tempo suficiente para fazer com que sua visão ficasse embaçada. Àquela altura o vento já se tornava mais fresco devido ao fim de Verão se aproximando, mas nada que o fizesse tremer fisicamente. Internamente, entretanto, sentia-se inteiro em uma instabilidade que, cada vez mais, parecia fazer parte dele e não gostava da sensação tomando-o daquela forma.

Estava mentalmente cansado há mais tempo do que conseguia se lembrar, realmente, mas a sensação física do estresse, externada em falta de atenção, reflexos mais lentos e algum grau de imprudência sempre aparecia. Por mais que amasse correr, era um bom momento para não estar em atividade como o Flash, pois sentia todos os músculos completamente erráticos.

Dentro do córtex, enquanto Caitlin e Cisco discutiam sobre ir ou não para a Força de Aceleração e a forma mais ideal disso acontecer, manteve-se em silêncio, consciente de que eles conheciam melhor todas as probabilidades científicas envolvidas naquela equação. Havia muitas variáveis a serem consideradas e sabia que eles estavam a par disso, tanto Cisco quanto Carla, mas especialmente Caitlin.

Embora ela apostasse todas as fichas em seu plano, era possível ver como apenas a sugestão a afetava, como a menção a ter ficado estacado na Força de Aceleração fazia com que hesitasse. Contudo, seguia em frente por quê acreditava que aquela era a única solução ou aquela que soava minimamente viável.

Tinha certeza de que Caitlin gastara bastante tempo nas últimas duas semanas estudando a respeito de tudo que era necessário e seria possível fazer para manter a ideia intacta. A conhecia bem o suficiente para saber que ela estudara a teoria perfeitamente e estava preparada para o que viria, em tese. Mas também sabia só por olhá-la, naqueles breves momentos em que apareceu e explanou tudo que engenhara, que o fato de estar envolvida de alguma forma nos meandros ocultos da Força de Aceleração tornava tudo mais complicado. Da mesma forma que fora para Barry quando começou a, não muito, deliberadamente envolvê-la em sua (ir) realidade platônica.

Ainda que pudesse beijá-la de verdade, sentir o perfume e a textura da pele contra a sua, não precisar disfarçar sempre que encarava demais os cabelos dela e a maneira bonita como brilhavam sob qualquer luz possível, ainda assim... Havia esse sentimento inconscientemente repreendido de que eram platônicos. Barry e Caitlin. Que não existiriam se não houvesse essa (ir) realidade, que apenas ele podia desfrutar, pois era apenas sua. Tão sua que, quando tudo fosse resolvido (afinal, iria ser, sob alguma circunstância) apenas Barry a conheceria, se lembraria e, por fim, lentamente, começaria a deixar para trás. Ainda que amasse o que vivia em lapsos e sonhos, não os vivia realmente e, logo, esqueceria cada um deles, mesmo os mais marcantes.

Toda a sua cabeça formigava e até mesmo seus olhos estavam pesados dessa vez, embora a brisa do telhado do S.T.A.R Labs fizesse sua tentativa de acalmá-lo. Não ia muito ali, realmente, mas era um lugar calmo, onde não precisava lidar com ninguém se aproximando para saber como estava. Todos tinham conhecimento de que, mentalmente, parecia um tipo de bagunça em ebulição.

- Ei. – Se voltou a Caitlin quando ela se aproximou o suficiente do parapeito de concreto em que apoiava os cotovelos, apesar de haver hesitação nela inteira, inclusive na forma como o analisava dessa vez. – Você não saiu daqui desde que Iris veio buscar Nora.

Iris notou que havia algo errado assim que colocou os olhos nele, mais cedo, quando entregou Nora, mas não quis responder a nenhuma de suas perguntas, o que pareceu tê-la deixado levemente contrariada. Ainda não sabia como contar tudo a ela, muito menos a sugestão de Caitlin e a possibilidade que vinha junto.

- Só estou... – Deu de ombros, voltando a encarar a escuridão da cidade cortada por luzes de todas as cores. – Pensando. Há muito o que considerar dessa vez.

Dark End Of The StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora