Prólogo

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Ouvindo o silêncio praticamente ecoar pelos corredores do laboratório, caminhou lentamente até aproximar-se do córtex. Ainda era cedo demais, mas não conseguira continuar a dormir após acordar no meio da madrugada depois de mais um pesadelo e, por não querer incomodar Iris enquanto revirava-se na cama, resolveu se levantar e tentar não se atrasar para o trabalho, para variar.

Estava se tornando uma rotina. Demorava a dormir, acordava no meio da noite, suado e ofegante, não via como fechar os olhos em paz e fingir que nada havia acontecido. Na maioria das vezes, sequer sabia o que realmente estava acontecendo no sonho, se se tratava de uma lembrança do seu subconsciente, após presenciar diversas possibilidades de futuro. No entanto, era como se as imagens continuassem em sua mente, numa constante e perturbadora repetição.

Iris não suportava seu humor, pois mal dormia e mal comia, mas não era o momento de perturbá-la com isso e, a cada vez que pensava sobre, sentia-se pior. Havia essa força que involuntariamente o puxava para baixo. Para essas imagens, que não gostaria de ver, para essa parte da história que gostaria de apagar de sua linha do tempo.

Sua linha de pensamentos depressivos fora interrompida, contudo, pela voz alta de Caitlin andando por seu laboratório de um lado para o outro, falando sozinha e gesticulando consigo mesma. Franziu o cenho, percebendo a estranheza daquilo, afinal a doutora talvez fosse a pessoa mais normal e racional dentre eles, considerando o nível de normalidade que havia naquele lugar.

Aproximou-se sem hesitar, notando que, apesar do horário, Caitlin parecia mais arrumada e maquiada que o normal, em um conjunto negro de calça e terno visivelmente caro e saltos combinando, além dos cabelos perfeitamente ondulados e brilhantes. Levantou uma sobrancelha e apoiou-se no portal, aguardando, pois ela continuava a falar com tanta firmeza e propriedade enquanto os saltos batiam no chão que seria uma afronta científica interromper seu raciocínio.

Assim que alcançou a parede oposta do laboratório, paralelamente à maca, que ficava exatamente no meio, Caitlin virou-se para fazer o mesmo caminho e engasgou de susto, arregalando os olhos, assim que o viu parado ali.

- Barry?! O que está fazendo aqui? - Ela expirou, levando uma das mãos ao peito.

- Só passei para verificar se estava tudo certo aqui. - Deixou o tom de defesa de lado, guardando as mãos no bolso. - O que você está fazendo?

- Eu... Er... - A observou andar nervosamente até uma das bancadas e juntar várias folhas, guardando-as em uma pasta. - Eu estava... Ensaiando. Para uma palestra.

- E desde quando fica nervosa em palestras? - Perguntou, realmente estranhando, no que ela deu de ombros.

- Não quero que haja qualquer imprevisto, só isso. - Ela abraçou a pasta contra o peito e levantou as sobrancelhas pra ele, tentando convencê-lo de sua postura fajutamente confiante. Continuou a encarando, mantendo o silêncio, observando-a trucidar a parte interna da bochecha até os ombros caírem em desânimo e Caitlin deixar o objeto de lado, sentando-se. - Tudo bem, estou insegura.

E isso é realmente novo, pensou aproximando-se, afinal Caitlin nunca demonstrava aquele tipo de fraqueza. Aquela mulher sempre estava no mesmo nível de genialidade de Cisco e Harrison Wells desde o primeiro instante. Tudo que ela dizia era sempre recheado de certezas, estava sempre embasado em algum conhecimento muito intrincado de bioengenharia. O cérebro dela era literalmente assustador.

- Caitlin, o que pode dar errado? Você já fez isso diversas vezes.

- Sim, mas... Faz algum tempo, não é? - Ela revirou os olhos, como se também soubesse que era bobagem, mas não conseguisse evitar. - Será em uma Universidade, não quero errar e, obviamente, aqueles que fizerem perguntas serão engraçadinhos e prepotentes. Talvez cruéis porque, você sabe... Ainda trabalho aqui.

Dark End Of The StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora