Discrepância

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Observou Caitlin por trás do vidro de seu próprio laboratório, explicando algo a Cisco enquanto andava de um lado a outro. Suas mãos gesticulavam de seu jeito típico e, por vezes, ela pegava o iPad para conferir algo que, certamente, deveria ter feito várias vezes.

Sabia que tentava não aparentar, mas era óbvio que estava extremamente nervosa pelo procedimento. Ela sempre fora mais do que cuidadosa, seus pés estavam sempre no chão quando o único plano que tinham pendia para uma loucura que poderia dar errado muito facilmente, mas desde que a encontrara naquela manhã parecia apenas resignada. É como se estivesse tentando pensar positivo, embora tudo estivesse precisamente calculado e planejado, ao menos em teoria, como sempre fora.

- Você vai precisar cuidar dela.

Barry disse a Dra. Tannhauser, que o rodeava colocando eletrodos em seu peito e cabeça para medir seus sinais vitais e a frequência da Força de Aceleração no momento que entrassem em contato. Ainda, Carla tomava notas sobre seus dados a cada hora pelas últimas três horas, o que fazia dele um experimento para a cientista, tinha certeza.

Apesar da ideia ter partido de Caitlin, sua mãe aquiescera muito facilmente e nunca vira a mulher apenas acatar uma ideia sem questionamentos. Com um suspiro enfadado, ela o encarou, sem esforço para entender perfeitamente o que ele queria dizer, antes de olhar a filha por um instante e voltar a atenção ao que fazia anteriormente.

- Ela vai ficar bem.

Estreitou os lábios em resignação, pois tinha a sensação de que, desde sempre, a doutora lia Caitlin sob sua própria régua, como se a filha fosse uma extensão de quem era, pessoalmente falando, e Barry sabia que, além da aparência, elas eram semelhantes apenas na forma como se fechavam para o mundo quando algo de errado acontecia, não como o viam realmente.

- Se algo acontecer, se eu não conseguir voltar ou... Se voltar diferente do esperado, terá que garantir que Caitlin mantenha a cabeça no lugar.

Tinha certeza de que a mulher simplesmente não abandonaria Caitlin se algo desse errado. Elas já haviam sido distantes uma vez e Carla, mesmo sob toda a camada de desdém, simplesmente não se afastaria novamente num momento em que a filha precisasse dela.

- Está errado. – Claramente não desejando adentrar aquele tópico, ela colocou o iPad sobre a maca ao lado dele e cruzou os braços, o encarando de cima. – A última coisa que ela fará se o procedimento não sair como o planejado será perder a cabeça. Antes disso, ela explorará todos os caminhos científicos possíveis para trazê-lo de volta. Essa é Caitlin.

Ele franziu o cenho, uma vez que realmente a possibilidade apresentada por Carla não passara por sua cabeça. Mas, de qualquer forma, não queria que ela simplesmente deixasse tudo de lado em nome de alguém que, mentalmente, não estaria ali. Caitlin precisaria seguir com sua vida, se o plano não funcionasse.

- Ela estava perdendo a cabeça por Ronnie. – Comentou baixo. – Após a explosão do Acelerador de Partículas...

- E ainda assim estava aqui, certo? – Imaginou como Carla poderia saber tanto a respeito disso, uma vez que nem tinha conhecimento sobre o casamento da própria filha, mas elas devem ter passado algum tempo acertando parte de suas diferenças após a morte do Sr. Snow, por ele. – Por sua causa.

Recordou o dia da Crise, quando estava conformado a se sacrificar para que todos vivessem e tivera que fazer com que todo o time aceitasse sua escolha. 'Você salvou minha vida', Caitlin se referia apenas ao fato de ter entrado na vida dela quando o dissera, sob a iluminação avermelhada do céu de Central City.

Contudo, a perspectiva agora lhe soava completamente diferente, pois ela colocara a responsabilidade inteiramente sobre si e ninguém conhecia muito bem o território em que pisavam com aquele procedimento, nem mesmo Barry. Todas as vezes que julgara saber o necessário a respeito da Força de Aceleração, descobriam algo completamente diferente. Por isso, ajeitando-se na cama, encarou Carla sem rodeios, embora quase contrariado por propositalmente fazê-lo ter que pedir o óbvio.

Dark End Of The StreetOnde histórias criam vida. Descubra agora