Capítulo 2 - O Garoto

46 16 12
                                    

O vento tocava seus cabelos trançados e movimentavam os que não estavam amarrados em seu rabo de cavalo baixo. Sua pele estava quente debaixo do tecido que o sol tocava, mas os respingos trazidos pela movimentação do navio ao quebrar onda atrás de onda a resfriava. Junto ao seu chapéu, que a ajudava a bloquear os fortes raios solares, que não lhe incomodavam, mas usava por amar sua aparência com ele.

Mantinha suas mãos sobre o timão enquanto direcionava o navio diretamente à posição do sol.
O mar estava calmo para a navegação e com facilidade conseguia manter a mesma rota por bastante tempo.

Após alguns minutos ouviu som de passos subindo a escada de madeira da popa, mas não se virou. Já sabia quem iria encontrar. A seu lado há mais de 10 anos, chamado Ras ou Ventosa, teria seu imediato. Confiava nele com sua própria vida e não ligava em demonstrar isso.

O homem era alto e musculoso, já seus cabelos eram montados em dreads e raspado por todas as laterais. Sua pele era densa como as madeiras do navio, mas lisa como uma peça recém feita de um carpinteiro. Anos em um mundo violento deveriam lhe trazer cicatrizes e machucados, mas os únicos que carregavam estavam em seu rosto. Um no começo e final do seu lábio esquerdo e o outro na lateral de sua sobrancelha, também à esquerda. Bella sabia que elas não teriam surgido por conta da pirataria, mas nunca teve a intenção de perguntar como as teria conseguido. Achava as marcações em seu rosto atraentes, teria que admitir, mas nem tanto como seu olhos. Olhos amarelos, tão raros como pedras preciosas. Gostava de ver como os raios do sol, refletidos pelo mar, ficavam em seus olhos.

- Identificou o local? - Belladona perguntou ao homem que se aproximava.

- O navio naufragou na divisa do mar liso com o mar do leste. - O homem parou ao seu lado e cruzou os braços ao peito. - Uma forte correnteza percorre essa região e leva tudo para a Cidade De Sino. Procurei saber mais sobre o local e eles são conhecidos pela pesca farta trazida pela correnteza e sinos, é claro. Se o baú foi levado para algum lugar, com certeza foi para lá.

Belladona finalmente se virou para ele e concordou.

- Passe as novas ordens. - Dito isso retornou seu olhar para a frente virando o leme do navio para a direita, rumo ao leste.

- Sim, capitão! - Disse ele e saiu em direção a tripulação.

Não levou minuto para sua voz se erguer e facilmente passar pelos ouvidos de todos os homens presentes no convés do navio.

"IÇAR AS VELAS!" Gritou Ras. "COMECEM A REMAR!"

Alguns homens olharam de relance para o capitão em busca de confirmação, mas Belladona já havia dito o que seria feito para Ras e não tinha o interesse de fazer isso novamente. Apenas ignorou os olhares e logo perceberam estar seguindo tudo corretamente.

A chegada a Cidade De Sino levou 12 dias.

[...]

As ordens foram novamente passadas a cada um e Belladona mandou que todos procurassem notícias de um achado na grande cidade. Após confirmarem o que estavam à procura, do baú, cada pirata se dividiu e saiu em direção a um local. Voltariam a se encontrar e reunir informações no dia seguinte no navio.

Bella se realocou em direção a costa. Iria procurar pelos pescadores e comerciantes locais por qualquer nova informação, mas mal sabia ela que todo seu esforço seria para nada.

A noite finalmente estava em ápice no céu e após horas procurando e se enfiando entre as pessoas atrás de resposta ela se cansou. Ninguém parecia saber de nada. Todos viviam sua patética vidinha normalmente e nada de estranho ou anormal passava pela cidade dos sinos. E o sentimento de estar no local correto não lhe assolava, se sentia andando em um labirinto.

Desejo: Uma história Pirata | História em mudança Onde histórias criam vida. Descubra agora