Desejo: Uma história Pirata | História em mudança

Capítulo 11 - A Praia

Com o fim da cerimônia, os fortes ventos do leste tocaram com rispidez o navio dos piratas. Todos se mantiveram em silêncio por um tempo em respeito a Fidalgo, que atravessa para o lado dos mortos. Mas com o chegar da manhã a movimentação no convés começou a circular novamente. Fariam o que foi dito pelo capitão.

Ras e Tigre, os imediatos, como forma de honrar o amigo que os deixaram, limparam o sangue que tentava secar no convés. Pietro não conseguiu se manter como os outros piratas. Adentrou o navio e ajudou o cozinheiro, que pela primeira vez não relutou com a sua companhia ou ficou o implicando como sempre fazia, o que o garoto esperava que ele fizesse. Pensava que talvez assim as vozes em sua cabeça finalmente seriam silenciadas, mas isso não aconteceu.

O dia foi mórbido, pesado e angustiante. Akin se manteve com os homens ajudando com as mãos a guiar o navio, o que normalmente ele não fazia. Seu cargo era para verificar a localização e confirmar que sempre estivessem seguindo pelo caminho certo. Em certas ocasiões guiava o leme, mas eram raras. Não parou por nenhum segundo e isso tirou a atenção de algum dos homens, mas ninguém disse nada. Sabia que como todos, ou até mesmo mais, o homem estava sofrendo.

Em certa hora da tarde, Akin se encontrou com Belladona e pediu para ficar com o cargo de Fidalgo. Um médico era importante na tripulação e ele não iria negar que Fidalgo sempre o ensinava sobre medicina. O antigo pirata gostava de compartilhar seu conhecimento. O capitão concordou. Sabia que ele seria ideal para o serviço, mas se preocupava se a morte do pirata não iria o atrapalhar nisso.

A noite chegou e a divisão de turnos foi feita. A maioria dos homens não teriam dormido na noite passada, então rapidamente roncos se perpetuaram pelo dormitório do navio. Pietro sentia sua rede balançar com as ondas e tentava se tranquilizar. Por poucos minutos conseguiu dormir. Mas rapidamente foi puxado para um mar de pesadelos que o fizeram acordar e ter medo de cair novamente em seu meio ao fechar os olhos. Em seu sonho, matava Fidalgo. Era ele quem tinha a espada em mãos e continha o corpo coberto de sangue. Sua nuca se arrepiou com as lembranças. Queria ir pra casa, mas ele não a tinha.

Inquieto e com o coração partido. Pietro saiu de sua rede e subiu para o convés. Os homens que trabalhavam mantendo o percurso eram poucos. Mas nenhum se importou em falar com ele, o garoto tampouco.

Andou até onde Fidalgo estava quando vivo e sentou ao chão, abraçando as pernas contra o peito. Fitou a mancha de sangue que ainda marcava uma parte do chão. Se fechasse os olhos poderia jurar que o cheiro de sangue correria por seu nariz. Um frio tomou sua espinha e sentiu uma raiva começar a subir seu corpo. Estava cansado de sentir medo. Fechou os olhos e rapidamente pegou no sono, sentindo o cansaço do dia o tomar por inteiro.

Quando acordou já estava de manhã. O sol tocava sua pele e se surpreendeu por ter dormido tão bem. Estava deitado ao chão e o som de pássaros tombava sobre seus ouvidos. Se colocou de pé, estava com fome.

Olhou em volta e percebeu estar sozinho. Franziu as sobrancelhas.

"Onde estão todos?" Se perguntou ao começar a caminhar.

Rapidamente percebeu que estavam em terra firme. O navio teria parado em uma ilha, provavelmente a que estavam indo em direção. Caminhou até uma rampa de madeira que ligava até a areia da praia e saiu do barco. A praia parecia deserta. Se perdeu por alguns segundos ao fitar com mais atenção o lugar que estava. Era tão lindo e com uma água tão cristalina que parecia ser ideal para beber. Relutou para que não o fizesse e seguiu em frente.

Viu várias pegadas na areia e correu em sua direção.

— BELLA! RAS! — Chamou os piratas, mas ele não apareceram.

Continuou a correr até que ouviu sinos. Pareciam vir de uma vegetação adentro da ilha. Pietro parou de correr e olhou para o meio das árvores. Os sinos pareciam familiar.