Capítulo 2

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Passos lentos e tristes faziam as paredes de Nevermore tremer, devido à sua fragilidade na estrutura milenar e fundada para a proteção dos Excluídos. Dedos deslizavam sobre os móveis que sobraram, fazendo um risco perfeito entre as cinzas dos trabalhadores e a escuridão se tornava menos intensa, quando um único raio fraco de sol entrava nos corredores solitários da escola, e aos poucos Larissa se viu o "tocando", enquanto seu rosto branco era tomado pelas lágrimas de ver a maior coisa de sua vida, se destruindo e não poder trazê-la de volta.

O peso do fracasso, pois era isso que sentia ao ver Nevermore destruída depois de tentar sobreviver e salvar a todos, mas principalmente Mortícia, era difícil de aceitar.

A mulher de intensos olhos azuis, cabelo grisalho e altura soberana e beleza única, estava caminhando e a cada passo que dava dentro da escola que tanto cuidou, como sendo sua única família, ecoavam e se misturavam a lágrima e ao choro de saber que nada seria como antes.

A respiração fraca e as lágrimas escorrendo de seus olhos, lhe acompanhavam até onde conseguiu, porque um peso a toma e ela acaba segurando nas paredes frágeis e desaba. Sentindo a areia em seus joelhos e as pequenas pedras machucando sua pele, mesmo que por cima do vestido.

Era difícil para Larissa ver tudo como estava. Era fácil sobreviver fora dali, mas sua vida inteira foi em Nevermore. Sua preocupação sempre foi Nevermore. E cada cinza em sua pele, significava que vidas foram perdidas em Nevermore, local que deveria cuidar, proteger e ensinar. Local que era repleto de alegria e magia, conhecimento e aprendizado. E somente de lembrar essas pequenas coisas, que na maioria das vezes, Larissa não dava sua devido importância, a fizeram chorar ainda mais alto e o som de sua voz ecoar entre as paredes e chegar aos ouvidos de Mortícia, que sentiu um aperto no peito, assim como Narthic.

- Cuida deles, Narthic? - pediu à matriarca e recebeu uma confirmação com a cabeça.

Mortícia caminhou entre as pedras e cinzas, e assim que entrou, sentiu a mesma sensação de Larissa, e entendia o som do choro da mesma ecoando pelo espaço, cortando seu coração, porque ela sabia o quanto tudo aquilo era importante para a mulher de 1.90m. Ela sabia como cada vida que ali foi perdida, era importante para a reencarnação de um anjo da morte, mas que vivia para ajudar ao próximo.

Mortícia dobrou em um corredor escuro e, ao fim, conseguiu ver Larissa de joelhos no chão e sentando-se segundos depois, abraçando as próprias pernas em um choro solitário e visivelmente assustada com o que via.

A mulher de longas madeixas negras e vestido preto, que arrastava no chão, caminhou apressadamente até a mulher em sua frente e a abraçou, sentindo Larissa a envolvendo e chorando ainda mais, enquanto falava:

- Eu não queria que isso estivesse acontecendo. - sofre ao imaginar que uma parte de tudo, era devido a ela - Eu só queria... Eu só queria todos de volta.

- Eu também. - afirma e a abraça ainda mais forte, enquanto uma lágrima escorre de seus olhos castanhos escuros devido a iluminação do local.

O vento frio soprava, levando neve e cinza até ambas e a rodeando em um abraço gelado e de dor, e aos poucos, Mortícia foi ficando de joelhos e começando a chorar junto com Larissa, pois a única coisa que passava em sua mente era perder seus dois filhos e a mulher em seus braços, porque isso poderia acontecer. Ela não se importava com o mundo ao lado de fora do domo, mas com quem estava ali dentro.

Ver sua filha morta duas vezes, foi a pior sensação que seu coração frio poderia sentir. Ver seu filho quase sendo morto e sumindo em um portal, foi sentir seu mundo acabando. Ver Larissa morta, depois de arriscar a vida para salvá-la, não existia explicação para tais sentimentos, e ela sabia perfeitamente disso.

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