Golden boy 《Jungkook》

39: Estilhaços

JUNGKOOK

A casa está cheia hoje, enquanto termino de passar óleo no corpo tento me acalmar. É a primeira apresentação depois do casamento, a primeira vez que sinto que estou traindo alguém além de mim. Inspiro e solto o ar lentamente enquanto tento me convencer de que vai dar tudo certo.

Coloco a máscara e empurro todas as preocupações para o fundo da mente. Agora o Golden boy está no controle.

Quando subo no palco sou recebido por gritos animados, deixo que a música sensual invada meus poros e me movo exatamente como ensaiei. A plateia vai ao delírio quando arranco a camisa de bombeiro e sorrio passando a mão pelo abdômen.

Preciso chamar alguém para o palco e isso não me agrada nenhum pouco, por mais que Valerie diga que entende sei que deve ser horrível saber que o seu marido está se esfregando em outra. Engulo em seco enquanto olho a plateia em busca de uma opção melhor.

Escolho uma mulher de uns 40 anos, ela tem a pele meio alaranjada de bronzeador e um cabelo castanho claro. Sorri animada quando me aproximo lhe dando a mão e o cheiro do perfume cítrico quase me sufoca. Lhe deixo sentada na cadeira e dou início a sequência.

Tudo passa num borrão, quando percebo já estou descendo do palco e indo em direção ao camarim. Mal vejo a hora de tomar um banho e ir para a casa, nem mesmo quero algo além de ficar abraçado a Valerie.

— Pode ir parando aí — Beatrice anda gigando de um lado para o outro e os saltos vermelhos fazem barulho a cada passo. — Precisa compensar os dias que ficou fora, tem cliente pra você.

— Qual sala?

— 5, a de sempre — sorri satisfeita — depois dessa outra pessoa também marcou horário.

— Sabe que não gosto de sair tarde.

— Você não está em posição de reclamar, perdemos dinheiro com você fora — Beatrice sorri ameaçadora — Eu acho bom você não me desapontar hoje ou eu te mando embora.

Por um segundo cogito a possibilidade de simplesmente sair daqui mas preciso de dinheiro e ir para outra boate significaria mais pessoas sabendo quem sou por trás da máscara. No fim estou preso ao joguinho de Beatrice.

Ainda lembro da primeira vez em que a vi, ela usava um vestido preto justo e me dirigiu um olhar doce enquanto prometia que o pagamento alto seria a solução de todos os meus problemas. No começo tudo o que eu fazia era dançar sem que ninguém me tocasse, aos poucos Beatrice foi ganhando mais e mais espaço até conseguir me deixar onde estou.

— Não se preocupe, eu sou seu melhor produto.

Chego a sala 5 rápido, do lado de dentro o cheiro de bebida e perfume barato me embrulha o estômago. A cliente não deve ter mais de 30 anos, usa um piercing no nariz e vestido muito justo.

Enquanto danço minha mente viaja para longe, para tempos mais fáceis e memórias de quando tudo ainda não estava perdido. Por sorte a cliente não pede para me tocar, ela apenas observa com desejo a cada movimento.

Um dia. Um dia tudo isso vai acabar.

***

Quando chego Valerie está dormindo no sofá, os fios loiros se espalham pela almofada e o braço cai para fora do estofado. Ela deve ter cansado de esperar. Mandei uma mensagem avisando que atrasaria mas conhecendo Valerie ela não iria pro quarto antes de eu chegar.

Deixo minha mochila no chão e me aproximo acariciando a bochecha de Valerie, ela mal se mexe.

— Vou te levar pro quarto, vai ficar com dor nas costas se continuar aqui.