41: Um bom filho

3.9K 482 289
                                    

JUNGKOOK

O consultório da psicóloga tem uma poltrona macia e cheiro de camomila, Valerie me convenceu a vir, não me agrada muito a ideia de ter que me abrir para alguém que mal conheço mas a loirinha pediu que eu desse uma chance e eu prometi que faria isso. Então aqui estou eu, encarando essa mulher de cabelos negros presos num rabo de cavalo e olhos muito parecidos com os meus. Não sei se foi uma escolha consciente ou não, mas Valerie ter escolhido uma psicóloga asiática me deixa um pouco aliviado.

Não que outros profissionais não possam me ajudar, mas ela com certeza vai entender melhor a expectativa de trazer orgulho para a família.

— Agora que terminamos a anamnese — ela deixa a ficha de lado, Mina me fez algumas perguntas quando cheguei, coisas como: histórico de transtornos psicológicos na família e dados sobre minha infância. — O que você gostaria de trabalhar primeiro aqui?

— Eu queria parar de me sentir ansioso.

 Odeio quando meus sentimentos tomam conta de mim e meu coração ameaça sair do peito, algumas vezes os exercícios de respiração ajudam em outras quando vejo já estou vomitando.

 —  E em quais momentos você se sente ansioso?

 Engulo em seco, como vou falar pra ela que sou stripper? Mina não parece ter mais do que 30 anos, ela poderia muito bem ser uma das clientes da boate. Meu Deus, não, isso seria um pesadelo. Esfrego a palma da mão sobre minha calça, um frio já começa a se espalhar até a ponta dos meus dedos e flashes das noites de performance piscam em minha mente.

— Você é livre para falar qualquer coisa aqui, Jungkook. Eu não vou te julgar e tudo que for dito não vai sair dessas quatro paredes.

Fecho os olhos e respiro fundo algumas vezes.

Ok, eu consigo.

— Eu sou s-stripper mas odeio — encaro o chão sem coragem de ver qual a reação de Mina. — Me sinto mal com os clientes me tocando demais e entro em pânico com a possibilidade de alguém que conheço descobrir.

 Os nós dos meus dedos estão brancos, tamanha a força que aperto as mãos e sinto meu coração batendo no pescoço. A cada vez que preciso admitir o que faço em voz alta é como se um nó se formasse em minha garganta. Sou como uma criança envergonhada por ter sido pega fazendo algo errado, morrendo de medo de como o pai vai reagir.

— Imagino que deve existir um motivo para você continuar fazendo algo que não gosta, já conseguiu falar sobre isso com alguém?

 A voz de Mina permanecesse calma, não há desprezo ou julgamento e isso faz com que eu respire um pouco mais aliviado.

— Com a minha esposa.

Tenho certeza que é aqui que Mina irá pensar que sou um péssimo marido e Valerie uma coitada sem um pingo de amor próprio por continuar casada comigo. Às vezes acho que casei com algum tipo de santa, só isso explica ela aguentar todos os meus problemas. Me sinto um buraco negro sugando mais e mais da bondade de Valerie e tenho medo de que ela acabe se desintegrando.

Na última semana a ajudei bastante por causa do pulso machucado, eu abro os botões que ela não consegue, lavo e seco os longos fios dourados; dois dias atrás ela me pediu para fazer um rabo de cavalo e descobri que até levo um pouco de jeito com penteados, tenho feito tudo ao meu alcance para deixar Valerie confortável. Ela fica repetindo que não preciso me esforçar tanto e que já consegue se virar melhor, mas o que Valerie não entende é que esses poucos cuidados não são nada perto do que ela fez por mim nos últimos meses.

 Fui de alguém que corria o risco de ser deportado para um homem com uma casa e uma esposa dedicada, sinto que não mereço nada disso. Como posso merecer tanto carinho quando ganho dinheiro seduzindo outras pessoas? Valerie se guardou a vida inteira para alguém especial e às vezes lamento que ela tenha escolhido a mim.

Golden boy 《Jungkook》Onde histórias criam vida. Descubra agora