36: Só para mim

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VALERIE

Minha mente viaja para baixo do mar cristalino enquanto o instrutor repete as instruções de segurança pela terceira vez. Ouvimos sobre regras de respiração, uso dos equipamentos, sinais manuais e respeito pela vida marinha; nada de ficar mexendo nos corais ou tentando levar souvenirs para casa. Observo os peixes passando alguns metros abaixo, o cardume colorido se move rápido e some sob o lastro do barco.

A ideia de mergulhar em mar aberto sempre me pareceu um pouco assustadora, é muito fácil imaginar um tubarão gigantesco saindo das profundezas azuis para me devorar e ser refeição de animais marinhos não é um fim muito legal. No entanto, as águas claras e nem tão profundas onde vamos mergulhar hoje não me intimidam; é claro o suficiente para que eu veja qualquer coisa se aproximando e não muito profundo, o leito do oceano ainda é visível apesar de estar vários metros abaixo.

Gabrielle está colocando uma dose generosa de protetor solar na mão de Colin, ele espalha cobrindo todo o rosto que já é um pouco avermelhado. Sorrio ao ver como seus dedos grossos e calejados tocam delicadamente o nariz da esposa, ele a trata como uma boneca de louça.

— Vamos começar por duplas — nosso instrutor avisa.

Ele tem ombros largos e um olhar sério. A roupa de neoprene esconde as tatuagens que vi na aula preparatória, os desenhos vão desde o pulso até o ombro esquerdo. Mesmo com a aparência rígida Keanu foi gentil durante todo processo até aqui.

— Animada? — Jungkook sorri parando a minha frente.

  Depois da briga e das revelações de ontem decidi ir devagar, Jungkook e eu já marcamos um ao outro até demais e eu não quero viver num eterno looping de brigas e desculpas, há um limite para quantas vezes algo pode ser remendado até que não haja mais conserto.

Sei que a facilidade para mentir é algo que levanta suspeitas, cavei minha própria cova ao mostrar tantas vezes o quanto sou capaz de criar uma história convincente em segundos mas imaginei que a essa altura Jungkook já tivesse percebido que eu não uso meu “talento” para magoar as pessoas. Escapar de uma bronca? Tudo bem, partir o coração de quem eu amo? Jamais.

  Apesar disso, foi errado da minha parte pressionar para que Jungkook falasse sobre o que aconteceu no passado, até agora estou tentando digerir todas as informações já que o nível de crueldade de Naeun foi muito além do que eu poderia pensar. Passei boa parte da noite revivendo os acontecimentos, o coração dolorido ao imaginar Jungkook passando por todo aquele sofrimento sozinho.

Adolescentes podem ser muito cruéis quando desejam algo, a vida no ensino médio é uma selva e os que estão no topo da cadeia não hesitam em devorar qualquer um que cruze seu caminho. Eu nunca fiz questão de estar sob os holofotes, todas as minhas memórias estão cheias de risadas no clube de artes, mãos sujas de tinta enquanto tentava ajudar Aubrey a terminar uma tela, danças desengonçadas no baile, beijos trocados em corredores vazios, tudo mundano e simples, sem intrigas cinematográficas apenas meu drama adolescente particular.

— Estou torcendo para uma tartaruga aparecer — me encosto a amurada — tudo parece tão bonito.

Os olhos de Jungkook examinam o mar cintilante e então me encaram com ternura.

— Não tanto quanto você.

O calor sobe até minhas bochechas e deixo um sorriso escapar. Quando me dou conta já é nossa vez de mergulhar.

Jungkook desse primeiro; a água salpica para todo lado e ele emerge penteando os cabelos molhados para trás. Pego minha máscara e pulo, o mar está mais quente do que imaginei.

Golden boy 《Jungkook》Onde histórias criam vida. Descubra agora