11: Apenas amigos

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JUNGKOOK 

A vida realmente é uma desgraça. Pelo menos a minha. 

 Com as mãos apoiadas na lateral da pia, encaro o espelho mais uma vez. A água que joguei no rosto minutos atrás, na tentativa de me acalmar se foi, deixando apenas alguns pingos sob meu queixo. A ponta dos meus dedos parece gelo, embora o banheiro esteja cada vez mais abafado. Não sei o que fazer, a ligação da minha mãe me deixou ainda pior. 

  Desde que meu pai teve falência num dos rins, fazemos de tudo para preservar o outro em funcionamento. Por alguns anos tudo seguiu bem, mas 3 anos atrás o rim — até então saudável — começou a apresentar problemas. Depois de muito pesquisar, descobri um tratamento experimental que pode salvá-lo de acabar numa fila de transplante, no entanto, ele precisa de um medicamento importado caríssimo; o qual eu pago com meu salário de stripper. Não posso ser deportado, nenhum emprego em Busan vai me pagar o suficiente. 

A cada vez que subo naquele palco maldito e deixo que as mãos pegajosas me toquem, é isso que tenho em mente: a cura do meu pai. É por ele que engulo o asco e conto até cinco ao invés de me demitir. Sei que ele reprovaria o que faço mas, não suporto a ideia de deixá-lo padecer de um mal para o qual existe remédio. 

  — Jungkook, tá passando mal ou dormiu na privada? — Taehyung bate a porta num tom impaciente. — Faz um século que você tá aí, eu quero mijar.

  — Foi mal — abro a porta e ele entra correndo. 

    Saio e fecho a porta atrás de mim, mal sei o que fazer a seguir. Devo aceitar a derrota? Dizer a Valerie que aceito me casar com ela? Casar, isso parece uma loucura. Nunca sequer esteve nos meus planos juntar as escovas de dente com alguém. Eventualmente eu teria uma namorada, um dia, no futuro, quando vender o corpo não fosse minha profissão. Mas casamento? Parece a morte ficar preso todos os dias, o dia inteiro com alguém. 

  Me jogo na cama e fecho os olhos respirando fundo. Se acalma, cara, tá tudo nas suas mãos. 

   Tá tudo nas minhas mãos. 

   Que inferno de vida.

   Ok, vamos pensar racionalmente. A proposta de Valerie faz muito sentido, mas ainda estou desacreditado de que as pessoas vão comprar no relacionamento. Na maior parte do tempo no campus estamos nos bicando ou trocando poucas palavras. Espero que não pensem que ela casou rápido por estar grávida, seria uma merda. Mas não daria em nada, logo veriam que não tem bebê nenhum, ainda bem.

  — Tô entrando — Tae diz antes de empurrar a porta.

   Está usando apenas uma calça cinza de moletom e uma blusa preta. O cabelo preto foi jogado para trás e os fios chegam a reluzir. 

   — Precisa de alguma coisa? — me sento tentando esconder minha falta de ânimo. 

  — Você tava com uma de bunda, o que rolou? — Por pouco seu corpo não colide com o meu quando Taehyung se joga na cama.

  — Foi só um dia cansativo.

  — Não minta para o hyung — os dedos longos apertam meu rosto, fazendo com que meus lábios formem um bico. — Abra esse coraçãozinho. 

  — Nem vem, tô cansado.

   — E eu sou o jogador mais bonito do time… espera, eu sou mesmo.

  As vezes me pego desejando que a vida sorrisse para mim como faz para Taehyung. Ele vai muito bem no time, recebe ajuda dos pais e faz sucesso por onde passa. Não que eu almeje popularidade mas, dormir sem a preocupação de sustentar a família deve ser uma delícia. Nunca lhe contei sobre a boate, tive medo que fosse me oferecer dinheiro e eu me recuso a aceitar, sei quanto os pais dele trabalham pra ter cada centavo. Também temi que Taehyung me olhasse com nojo, como uma desonrra.

Golden boy 《Jungkook》Onde histórias criam vida. Descubra agora